Capítulo 8 Uma Difícil Decisão

Angeline

Apesar da culpa pelo modo que estou julgando esse genitor, não anula o medo que estou sentindo, e nem diminui minhas dúvidas.

- Eu sei que deveria o conhecer antes de julgar, mas para saber quem ele é, terei que aceitar o encontro, deixá-lo saber quem eu sou.

- Por que você não pede para a clínica os dados desse homem? Assim poderia fazer uma investigação e saber um pouco sobre ele antes do encontro.

- Não adianta pai, eles não me dariam, pois existe o termo de confidencialidade médica, e eles protegem bem os pacientes. Eu pedir e conseguir isso, seria tão errado quanto eles darem ao homem dados sobre mim.

- Então querida, o único jeito de saber sobre ele e suas reais intenções é indo ao seu encontro.

- Mãe, é isso que me preocupa, conhecer esse homem e ter que mostrar quem eu sou, abrindo um espaço para que ele tenha informações.

- Você poderia omitir seu nome, use o sobrenome da mãe. - Até que a ideia de Lohan não é ruim.

- Não Lohan, se queremos que ele seja honesto, devemos fazer o mesmo. Além disso, será bom esse homem já saber que está lidando com os Campion, que temos prestígio e que não nos curvaremos a nada, muito menos abriremos mão das crianças.

Meu pai sempre teve muito orgulho de seu nome, e é claro que jamais aceitaria que eu mentisse sobre quem sou. Mas ainda mais importante que isso, ele está certo sobre a mentira, não podemos cobrar algo que não oferecemos, e se quero a verdade, tenho que ser sincera.

- Vamos supor que eu vá nesse encontro, que esse homem queira mesmo só conhecer as meninas. E então, o que eu faço?

- Querida, sobre isso, você se lembra o que nos falou assim que soube sobre o projeto? - Mel pergunta.

Penso sobre aquela época, parece que foi a tanto tempo, mas se passou apenas pouco mais de um ano. Naquela ocasião, fiquei muito animada com a possibilidade de poder ser mãe, porém eu estava com muitas dúvidas, e assim como hoje, busquei apoio em meus pais.

Eu sabia que ao dar a vida ao meu bebê, ele receberia de mim todo amor possível, seria tudo para ele e iria fazer o impossível para suprir todas suas necessidades, porém, nunca poderia dar o principal... um pai. E também não teria como ocupar esse cargo, pois não tinha e nem tenho nenhuma intenção de me envolver em um novo relacionamento.

- Angie querida, qual seus receios?

- Ah mãe, primeiro, de tentar e não conseguir levar uma gravidez até o final, pois tenho muitos problemas que dificultam a gravidez.

- Filha, esse medo não é exclusivo seu, eu também tive esse medo quando engravidei, e riscos existem em qualquer gravidez, faz parte do processo, mas não pode deixar o medo ser seu guia.

Eu sabia que nunca deveria deixar o medo me vencer, mas daí a conseguir sufocá-lo, era outra situação.

- E se não conseguir ser uma boa mãe?

- Não tenha esse medo, pois você será a melhor mãe que pode ser, e querida, você sempre foi ótima nessa questão de maternidade. Talvez você não se recorde, mas quando o Lohan nasceu você não saia do lado dele, fez questão que o berço ficasse em seu quarto e não aceitou ser diferente. E toda noite quando ele acordava e chorava, você corria para o berço dele e o pegava nos braços, ficava lá até eu chegar para dar de mamar a ele. Se você já era assim aos 7 anos, não tem por que não ser melhor aos 33 anos.

Lembrava-me muito bem daquela época, o Lohan era meu bebezinho, não ficava um minuto longe dele, ir para a escola era uma briga todo dia.

- Obrigada mãe, mas tem também o fato que se eu tiver esse filho, nunca poderei dar uma família completa para ele, pois não quero me casar novamente.

- Filha, nunca diga nunca, pois não sabe o dia de amanhã, e embora para mim já esteja na hora de você se dar uma nova chance de amar, apenas você saberá quando chegará de fato a hora para um novo amor.

Eu não conseguiria me permitir ser tão vulnerável daquela maneira novamente, e se eu me apaixonar é exatamente assim que irei me sentir, é por essa razão que sempre preferi viver sozinha.

- Pai, não quero um novo amor.

- Tudo bem, não irei insistir no assunto. E quando ao seu medo, não se preocupe com isso, pois por mais que um pai seja importante para a vida de uma criança, uma mãe é muito mais, pois tem coisas que um pai não pode fazer, enquanto uma mãe é capaz de tudo. Eu sei disso melhor que ninguém, pois nos poucos meses que passei cuidando de você sem ajuda, me via sempre perdido, nunca sabendo o que fazer com você.

- Pai eu amo o senhor, e sei que teria me criado muito bem sozinho.

- Filha, eu sei do seu amor, assim como você sabe do meu, e sei que ama a Mel, desde o dia que ela chegou e você rapidamente se apegou a ela, dando a ela o lugar de sua mãe.

Nisso ele tem razão, sempre tive a Mel como mãe, já que quase não tenho lembranças de minha verdadeira mãe.

- Além disso, a família vai além de pai e mãe, e saiba que se entrar nessa jornada, não estará sozinha, terá todos nós para te ajudar sempre.

- Obrigado pai, o apoio de vocês é muito importante para mim, sozinha eu jamais conseguiria.

- Foi o que te falei maninha, nós estamos aqui com você

Deixando as lembranças de lado, vejo que meu pai ainda espera uma resposta.

- Que eu não seria capaz de dar uma família para meu bebê, o fazendo crescer sem um pai, pois não queria nenhum relacionamento, e ainda não quero.

- Então querida, será que a vida não está lhe dando uma chance para que as meninas tenham um pai, sem que para isso você precise se envolver com alguém?

- De fato, essa seria uma opção.

- Angeline. - Para meu pai me chamar assim, o assunto é sério. - Eu sei que naquele dia te falei que nada é mais importante que uma mãe, e não mudo minhas palavras, uma mãe é capaz de tudo por um filho. Mas isso não quer dizer que um pai também não fará o impossível para ver seu filho bem.

- Pai, eu sei disso, não é ele ser incapaz de cuidar delas que me preocupa.

- Sim filha, sei que seu medo é perder elas, mas você precisa pensar em algo, se esse homem quiser ser pai das meninas, não vai anular seu papel de mãe, um amor não diminui o outro. Você passou a me amar menos depois que teve a Melina como mãe?

Sua pergunta é tão absurda que quase me faz rir, meu pai sempre foi meu pilar, meu herói, alguém que eu queria ser igual quando crescer.

- Claro que não.

- Por amar a Melina, você deixou de amar a Claire?

Mesmo com poucas lembranças de minha mãe, nunca poderia esquecer ela, me recordo de sua voz doce cantando para mim enquanto me colocava para dormir.

- Não senhor. - Começo a entender onde ele quer chegar.

- Então filha, isso é porque um amor não anula o outro, não tenha medo de perder o amor das meninas, é só olhar como você ama elas e elas amam você, isso jamais irá mudar.

É tudo que mais quero, mas mesmo com esse apoio, ainda tenho medo desse encontro, ele pode mudar tantas coisas, e pode ser para algo bom ou ruim. Sinto-me um caos por dentro, sem saber o que fazer.

- Sabe maninha, tudo isso veio com um baque, você não precisa decidir agora, pense com calma, siga sua intuição em vez do medo, e assim saberá a melhor decisão a se tomar.

Esse é meu problema, minha intuição diz para ir, mas meu medo diz que é melhor ficar como está.

- O Lohan tem razão querida, não precisa se decidir hoje, você está confusa demais e em conflito, e precisa se acalmar para ver tudo com mais clareza.

- Filha, não se preocupe, ficará tudo bem e estamos aqui com você.

- Obrigada pai, e também mãe e Loy, me ajudaram muito a ver melhor a situação, vou fazer o que disseram e pensar com calma em tudo. Agora vamos jantar, vou buscar as meninas.

- Deixa que vou buscar minhas sobrinhas. - Lohan fala e sobe correndo para o segundo andar, meu irmão às vezes é maluquinho.

Agora só preciso decidir o que é melhor a se fazer, ir conhecer o homem e correr o risco de uma briga judicial pelas meninas, ou se ele for um cara bacana, ver ele se aproximando delas e talvez ocupando o lugar de pai. Ou então dizer não ao contato dele, e com isso esquecer essa história.

É tenho uma decisão das grandes para tomar.