Denis se levanta da cadeira em que estava sentado, segurando a mão de Natan demonstrando que ele estava ali para qualquer coisa que precisasse, naquele momento ambos não pronunciaram uma palavra sequer, contudo, Denis transmitia pelo olhar o amor que sentia em seu ser por Natan, que estaria ali para o que ele precisasse.
Natan olha para Denis se enrubescendo, ele nunca tinha pensado que encontraria um amor na vida, e ainda mais dessa forma, ele fora pego completamente de surpresa com tanto amor transparente em seu olhar. Natan desvia o olhar de Denis perdido em pensamentos sobre o que lhe aconteceu.
"Como minha vida mudou tanto em tão pouco tempo? Por que meu pai não consegue me aceitar?" Natan pensou fechando os olhos e deixando que as lágrimas
- Por que ele me odeia tanto? - murmura, achando que Denis não podia escutá-lo.
- Não é sobre ódio, Natan. É sobre medo e ignorância. As pessoas temem o que não entendem. - Denis respondeu ao escutar o desabafo de Natan. Ele olha para Denis com lágrimas nos olhos, sentindo-se um pouco confortado pelas palavras. Era verdade que eram palavras de conforto, entretanto, surtiram pouco efeito em Natan, ele não estava somente ferido fisicamente, mas também estava ferido mentalmente, e não sabia quando as feridas de sua alma iriam se cicatrizar.
- Você é forte, Natan. E eu estou aqui para te ajudar a superar isso. Sempre vou estar ao seu lado, sempre. - Denis encoraja Natan a prosseguir.
- Obrigado pelas palavras Denis. - Natan agradeceu. Assim que terminou de responder, uma batida na porta pode ser escutada, e uma enfermeira entra no quarto para verificar os sinais vitais de Natan e ajudar com alguns exercícios leves.
- Bom dia, Natan. Vamos tentar levantar um pouco hoje? Ok? - A enfermeira perguntou com a voz gentil.
- Vamos lá! - Natan afirmou se levantando com dificuldade pela dor que Sente por todo seu corpo, mas com o incentivo de Denis e a enfermeira, ele consegue ficar sentado na beirada da cama. Já era um avanço muito bom para quem havia sido espancado há uma semana.
- Sabe, Natan, eu não sou daqui. Minha vida antes de te conhecer era... diferente. - Denis começou a lhe contar mais sobre si mesmo para distrair Natan da dor.
- Diferente como? - Natan pergunta genuinamente intrigado.
- Digamos que eu tinha responsabilidades que ninguém pode imaginar. Mas isso não importa agora. O que importa é que estou aqui para você. - Denis respondeu revelando um pouco de seu passado não tão distante.
-- Agora vamos dar um passeio no corredor... - A enfermeira disse ajudando Natan a se levantar.
- Pode deixar que eu o levo para o passeio. - Denis se manifestou com um sorriso acolhedor.
Com dificuldade e um pouco de relutância, Natan se ajeita na cadeira de rodas que havia ao lado de sua cama. Ele não tinha escolha, mas com certeza era melhor que ficar deitado na cama sem ver o mundo lá fora. Era o melhor para ele, Natan tinha essa consciência.
O corredor do hospital era totalmente branco, fedia a cloro, e estava abarrotado de pessoas fazendo sua caminhada matutina, algumas em situação semelhante a que ele se encontrava, outras em um estado mais grave do qual ele estava, algumas visitando entes queridos, batiam na porta dos quartos com enormes buquês de flores, Natan achou aquilo mórbido, mas permaneceu em silêncio. Ele não estava sozinho nesta luta e aquilo que enxergava com seus próprios olhos o ajudou a conseguir discernir o que estava embaçado.
Natan vê a amiga de seu irmão, Jo Ann andando pelo corredor cabisbaixa, em uma de suas mãos ela carregava um buquê de rosas brancas, ela sorria enquanto teclava no celular com alguém, era muito provável que estivesse falando com algum peguete.
- Olha quem já está fora do quarto. - Jo Ann disse observando que seu amigo não estava só. - Oi de novo bonitão.
Aquilo arrancou uma risada de Denis, como ela sempre fazia.
- Já te falei meu nome Jo Ann. - Denis disse em uma reprimenda de brincadeira.
- Eu sei o seu nome, senhor certinho. - Jo Ann disse arrancando uma risada de Natan. - Me tira uma duvida?
- Claro! - Denis responde de imediato.
- O que você é do nosso querido Natan? - Jo Ann pergunta afindo levemente a voz, fazendo Natan enrubescer de vergonha.
- Sou a alma gêmea dele. - Denis disse simples, como se fosse algo mais normal do que tudo. Jo Ann abriu a boca como se fosse deixar seu queixo esborrachar no chão. Para Denis aquilo era muito hilário.
Natan com um sorriso tímido, e totalmente vermelho, não fazia a menor ideia de onde enfiaria a cara de tanta vergonha e abismado por Denis ter falado tal fato com tanta naturalidade, ele o olhou indagando de o porque havia dito aquilo, a mente de Natan se perguntava em mil e um pensamentos de possibilidades de como ele poderia saber tal coisa. Realmente Denis era de outro mundo.
- Acabei me esquecendo de te entregar o buquê de flores, comprei para você, e Denis não fique com ciúmes - A louca da Jo Ann disse-lhe estendendo as flores e dando uma piscada para Denis que dera um simples sorriso de canto.
- Jo Ann, não precisava... - Natan disse aparentemente tímido, ele pegou o buque das maos de Jo Ann colocando-o em seu colo.
- Vou deixar terminarem seu passeio volto outra hora - Jo Ann disse indo embora. - E não façam o que eu nao faria.
Ela gritou antes de virar no corredor.
- Ela é meio doidinha mas é uma pessoa muito boa! - Natan disse enquanto Denis voltava a empurrar sua cadeira de rodas pelo corredor, seguindo para o jardim do hospital.
Denis acomodou a cadeira de rodas em que Natan estava ao lado de um banco ao estilo de praça, todo feito de concreto, pintado de amarelo, que particularmente Natan achava uma cor depressiva e errada para estar em um hospital.
Eles estavam em uma espécie de jardim, havia poucas flores, eram mais árvores de diferentes espécies. Com seus pensamentos tumultuados, Natan começou a desabafar fingindo que estava falando sozinho e que não havia uma pessoa ao seu lado.
- O que vai acontecer agora? Como vou encarar minha família?
- Vamos dar um passo de cada vez. Primeiro, sua recuperação. Depois, vamos lidar com sua família. Você não está sozinho. Não mais. - Denis o respondeu mesmo sabendo que ele não buscava uma resposta, entretanto tentou encontrar as palavras corretas para dizer a Natan.
Natan sente uma sensação de alívio e esperança pela primeira vez desde o incidente. Ele percebeu o quanto importante foi ter essa conversa com Denis, a sua suposta alma gêmea que infelizmente só aparecera depois da tragédia estar feita.
"Talvez eu consiga superar isso. Com Denis ao meu lado, talvez eu consiga encontrar uma forma de ser feliz nessa porra de mundo maldito." Natan pensa enquanto observava a movimentação das folhas das árvores, ele estava aéreo e o vai e vem das folhas acalmou sua mente, tranquilizando seus pensamentos.