No passado, incluıá outros amigos e pessoas importantes. Os amigos se mudaram por causa do trabalho ou tiveram filhos. Nossos entes queridos também desapareceram. Não foi coincidência. Nenhum dos namorados de Sam gostou de mim. Pode ser que eu não seja muito amigável com eles. Não deixo que bebam minha cerveja. Continuei chamando o último de Biff, mesmo sabendo que seu nome era Bill. Isso sempre o deixava irracionalmente zangado, o que tornava mais fácil para mim quando eu precisava vê-lo dar um beijo de boa noite nela. Quando saio do banheiro depois do banho, vejo que Sam colocou nossos pratos na mesa de centro. Compartilhamos uma assinatura de um aplicativo de entregas e não preparamos as refeições. Hoje à noite, ela também serviu taças com vinho barato e incluiu uma tigela de bolinhos de batata requentados, cortesia das merendeiras de Oak Hill. Sam bota as mãos nos quadris e olha para mim. Estamos usando a mesma camiseta do West Wing que retrata uma campanha presidencial g q p p de zoeira, em 1998, para Bartlet. Eu encomendei o mesmo tamanho para os dois. Dá certinho em mim. Nela, vira um vestido reto. Sam é um trocinho minúsculo - um trocinho minúsculo lindo, embora eu saiba que se falar isso, ela vai franzir o nariz e mudar de assunto. Os bolinhos estão esfriando! De alguma forma, Sam deve saber que é atraente; tenho certeza de que muitos caras já disseram isso a ela ao longo dos anos. Ela tem maçãs do rosto salientes e uma boca carnuda e feminina. Sua pele clara, cabelos ruivos-escuros e grandes olhos azuis que parecem vir de contos de fadas. Se ela fosse para a Disney World nas férias, crianças pequenas se agrupariam à sua volta, fazendo cara de cachorrinho que caiu da mudança e implorando por fotos. Ela acaba de me flagrar a encarando. Sua cabeça se inclina para o lado. A minha a imita. - O que houve, Senhor Presidente? Uma emergência? Precisamos ir para a Sala de Reuniões de Emergências? Lambo meu polegar e passo em sua bochecha, na testa, no queixo. - Você estava com glitter no rosto - eu minto. Dou a volta nela e me sento no sofá, tentando reorientar meu cérebro. Estou com fome de comida, não de Sam. - Parece gostoso. - E frango tandoori. - Ela faz um sotaque britânico pomposo: - Escolhi um vinho tinto robusto para harmonizar e os melhores bolinhos possıv́eis da variedade de batata. Ela se senta ao meu lado, com os pés apoiados na mesa de centro. Eu sei que está de short por baixo da camiseta, mas toda semana a ilusão prega peças sacanas no meu cérebro. Vou precisar de outro banho frio assim que ela sair. Meu desejo por Sam é um grande dreno no suprimento de água potável do nosso planeta. Terminamos todas as temporadas de West Wing mais uma vez. Poderıámos começar um novo programa, mas manter tradições é reconfortante. Além disso, não é como se prestássemos muita atenção quando vamos assistir. Normalmente estamos fazendo outras coisas também, como agora: Sam acabou de comer e voltou para a mesa da cozinha para terminar seus cartazes. O celular dela está no sofá ao meu lado e acende com uma notificação de um aplicativo de namoro. O efeito sonoro que acompanha a mensagem chama sua atenção. - Foi um match? Eu veridico. Um cara chamado Sergio mandou uma mensagem para ela. - Não sei por que você liga pra essa porcaria. Ela solta um suspiro de aborrecimento e vem pegar o celular no sofá. - Talvez porque eu gostaria de transar de vez em quando. Sou basicamente uma freira assexuada, só que sem todas as regalias do convento. Meu pau se mexe, mas eu ignoro. Eu fiquei muito bom nessa tarefa. - Bem, não tenho certeza se Sergio está à altura. Ele parece um cara que faz as sobrancelhas. - E daı?́ Isso me parece uma ótima ideia para um primeiro encontro. As minhas estão umas taturanas. Eu levanto uma sobrancelha para ela, que responde: - Além disso, que moral você tem? As garotas com quem você sai se depilam da cabeça aos pés. Você provavelmente precisa amarrar aqueles corpos lisos e sem atrito algum para que não deslizem pela cama durante o sexo. Eu sorrio. - Eu até posso amarrá-las, mas não por esse motivo. Sam imita uma sessão de vômito vigorosa. - Que nojo. Como passamos do meu sucesso no Tinder para você romantizando galinhas depenadas? - Você tem razão, voltando ao Sergio. Ele é mesmo o seu tipo? - Esquece ele e vira de costas. Esta é a parte em que devo mandar nudes para ele, certo? Eu me inclino para a frente e boto meu pé, antes preso embaixo do joelho, no chão. Agora ela está de pé praticamente entre as minhas pernas. Sou quase da altura dela sentado. O celular de Sam ainda está na minha mão, e eu olho algumas das fotos do cara. - Hmm, ele é baixo. Muitos baixinhos são como chihuahuas: só ladram, não mordem. Uma sobrancelha delicada se arqueia em desafio. - Oh, então você está dizendo que você morde bastante? Nossa conversa está entrando em um território perigoso. Eu quero esticar o braço e deslizar a mão em torno de sua coxa, em seguida subir, até entrar por baixo de sua camisa... traçar a curva de sua bunda... Em vez disso, eu me recosto, criando um espaço muito necessário entre nós. - Só estou comentando, qualquer cara que tira selfies e depila as sobrancelhas vai ser egoıśta na cama. - Tudo bem, sempre me senti mais como uma doadora. Além disso, não me lembro de ter pedido conselhos. Ela olha para o celular, e uma linha profunda de raiva se forma entre suas sobrancelhas quando percebe que mandei uma mensagem para Sergio por ela. SERGIO: Oi, bb SAMANTHA: Quantos filhos você gostaria de ter? Quero uns 10. - Ian! - Ele mandou uma mensagem cheia de letras. Achei que o pré- requisito para conversas no Tinder era pelo menos ser moderadamente inteligente. Ele abreviou uma palavra de quatro letras. Ela se volta para a mesa da cozinha. - Essa conversa acaba agora. Eu não costumo sair para encontros mais. Não consigo me lembrar da última vez que gostei de passar um tempo com uma mulher que não fosse Sam. Acho que foi com a minha mãe, quando voltei para casa no Natal. Muito maneiro. Parte do motivo pelo qual estou sozinho é que estou cansado das mesmas brigas de sempre. Nos relacionamentos anteriores, sempre havia o mesmo ultimato: namorada ou Sam. Eu sempre escolhi a Sam, e elas sempre cumpriram a ameaça e foram embora. Talvez eu devesse começar a usar aplicativos de namoro também. Alguns dias depois, peço a Sam para dar uma olhada no meu perfil do Tinder enquanto estamos sozinhos na copiadora da escola. Ela geme de aborrecimento. - Você está fazendo tudo errado. Você deveria dizer algo espirituoso, não apenas detalhes chatos sobre sua vida, e há fotos mais sensuais que você poderia ter escolhido. Ela apaga as palavras que levei cinco segundos para digitar. - O que há de errado em dizer a elas que sou professor de quıḿica? - Você deve dizer isso de uma forma espirituosa, tipo: "eu dou aula de quıḿica, vamos ver se há alguma entre nós". - Que péssimo. Sério, é horrıv́el. - E você nem botou uma foto sem camisa. Qual é o sentido de todo esse tempo gasto na academia se você não vai exibir os resultados? - Não tenho nenhuma foto minha sem camisa. Quem tem? Sam estala os dedos como se tivesse a solução perfeita. - E quando fomos à praia no verão passado? Tem aquela foto nos