- Como? - Eu não sou o tipo de todo mundo. Seu rosto é considerado universalmente bonito. Eu não respondo seu elogio. - Sergio te respondeu naquele dia? Ela franze a testa para mim. - Sim, ele me disse que não darıámos certo mesmo depois que eu tentei consertar a bagunça que você fez. Por que você está sorrindo assim? - Ah, só estou pensando no que vou comer no almoço. Depois da escola e nos fins de semana, geralmente fico com a Sam. Passamos 99% do nosso tempo juntos. Isso é estranho para meus pais e nossos outros amigos (um ou dois que passaram por aqui), mas foi uma coisa que aconteceu gradualmente. Os jantares ocasionais tornaram-se jantares quinzenais e assim por diante. A esta altura do campeonato, somos totalmente dependentes um do outro. Não consigo me lembrar da última vez que comi sozinho - ah, espera, sim, lembro: foi naquela vez que comprei Jimmy John's para mim a caminho do apartamento de Sam, alguns meses atrás. - Merda, eu deveria ter trazido algo para você - eu disse assim que ela abriu a porta e olhou para baixo. - Não, tudo bem. Tenho muita comida aqui. Ela sentou comigo no sofá alguns minutos depois, carregando um prato que continha o seguinte: uma cenoura, um pedaço de queijo mofando e meia fatia de carne vencida. Era peru, a julgar pela cor pálida e entristecida. - Como está o seu sanduıćhe quentinho? - ela perguntou, pegando a cenoura. Obviamente, eu dividi meu sanduıćhe e dei metade para ela. Lição aprendida. Normalmente temos muitas tarefas para fazer à noite: redações e correções para ela, provas de quıḿica e relatórios de laboratório para mim. Hoje à noite, porém, eu a convenci a ir à academia comigo. Ela odeia demais fazer isso. No carro, a caminho, Sam faz um monólogo inteiro sobre como é louvável que eu me importe tanto com minha saúde fıśica e bem-estar, mas que acha que é mais importante focar nos benefıćios de saúde mental e emocional de um estilo de vida sedentário. - Por que você acha que existe todo um gênero de roupa chamado athleisure? Eu não estou sozinha nessa. Eu a empurro para dentro da academia e começamos a seguir caminhos separados. Nós tentamos treinar juntos, mas me distraio muito. Na verdade, venho para cá com um propósito, enquanto Sam só quer conversar e tomar alguma coisa do balcão de smoothies. E ela gosta de usar tops justos e calças de ioga, e talvez eu ache que isso vai me distrair mais do que conversar. Ela dá um passo para trás e faz um aceno exagerado. - Se eu não te encontrar aqui em uma hora é porque estou me escondendo em algum canto chorando! Divirta-se! Um rato de academia marombado a ouve enquanto passa e oferece um sorriso escroto. - Você é nova aqui? Posso te ajudar com as máquinas, se quiser. Meu nome é Kevin. Eu trabalho aqui. Seus olhos se arregalam, e ela parece petrificada. - Oh, não, obrigada, Kevin - ela diz com firmeza e rapidez antes de se virar e começar a correr na direção oposta. Kevin olha para mim em busca de uma explicação, mas o máximo que encontra é uma cara feia. Hoje à noite, Sam optou por uma aula de ginástica comandada por uma professora corajosa de cabelo rosa. Por uma hora, eu treino nas máquinas enquanto olho de canto de olho para ela dentro da sala perto dos fundos da academia. As paredes são feitas de vidro. Há uma dúzia de outras mulheres dançando, dando chutes e se movendo ao lado dela, mas Sam está perto do fundo, de modo que é fácil observá-la através do vidro enquanto tenta desesperadamente acompanhar tudo. Ela realmente não é tão ruim. O que falta em força fıśica, Sam compensa em entusiasmo, e seu rabo de cavalo vermelho está balançando descontroladamente. Eu termino em uma máquina e passo uma toalha na testa enquanto a professora inicia uma série de alongamentos. Sam dá um passo com as pernas abertas e se inclina para a frente, a fim de se abaixar e tocar o chão. Sua bunda fica em destaque na calça de ioga mais apertada que ela tem. Preciso enfiar a toalha na boca e morder. A máquina de bıćeps mais próxima manteve uma fila constante na última hora. Está enferrujada e velha e, no entanto, todo mundo quer fazer uma série nela. Tem um cara agora que nem tá fingindo direito que está treinando. Não há pesos, ele está apenas puxando a corda frouxa enquanto olha para Sam, boquiaberto. Eu quero torcer o pescoço dele. A cabeça de Sam aparece entre suas pernas enquanto ela se alonga, e quando me vê olhando, sorri e acena com entusiasmo. - Oi! - ela murmura. Os caras pairando perto da máquina de bıćeps olham na minha direção, e quando Sam se vira, eu os dispenso com um gesto. Eles saem correndo como baratas quando se acende a luz. Estou no meio de uma série no leg press quando ela vem me encontrar mais tarde. Estou com os fones de ouvido e não noto até que ela para bem aqui, a alguns centıḿetros de distância, suada e respirando com dificuldade. Interrompo a música, mas continuo com minha série. Ela observa, os olhos estudando minhas pernas como se fossem animais selvagens prestes a atacar. - Como foi a aula? - pergunto, lentamente olhando suas bochechas coradas e o pescoço, descendo até a frente de seu top preto apertado. Ela olha para cima, e eu desvio meu olhar antes que ela me flagre. - Bem divertido, na verdade. Você viu? Era tão óbvio? - Eu acho que posso ter visto alguns momentos de passagem. Ela tenta esconder um pequeno sorriso. - Então você viu quando fizemos aquele cardio lá, de dança, no começo? Sim. - Não, devo ter perdido essa parte. - Ugh! Foi a minha parte favorita! De qualquer forma, com certeza voltarei. Eu odeio fazer as máquinas aqui, mas aquela aula nem parecia um treino. Quero dizer, obviamente foi... - Ela puxa a regata suada para provar. Faço uma pausa no leg press e pego minha água. - Olha, sente aqui. Acho que fiquei mais forte só fazendo aquela aula. Ela está flexionando os bıćeps. Não acho uma boa ideia tocar nela agora. - Ian! Valorize meus gains! - Consigo valorizá-los daqui, seu marombeiro. Ela puxa minha mão e a coloca em seu bıćeps. Sua pele é delicada e quente. Minha mão se fecha em torno de seu braço, não com força, mas parece estranhamente... ıńtimo. Observo seu sorriso vacilar e quase digo: Você pediu por isso, lembra? Ela se afasta e esfrega o braço como se estivesse tentando remover piolhos de cima da pele. - Pumpzão, né? Eu afago seu ego. - Precisa tomar cuidado com esses brações aı.́ - Falta muito para você acabar? - Só mais uma série. - Ok, continue. Eu vou ficar aqui assistindo. Eu arqueio uma sobrancelha, mas sendo fiel à sua palavra, ela observa em silêncio enquanto eu termino as últimas repetições no leg press. Na verdade, ela está olhando com tanta atenção, que preciso cerrar os dentes com força para não a puxar para cima de mim. Aparentemente, eu não sou o único que está penando aqui. Ela abana o rosto, e eu abro um sorriso zombeteiro. - O que é? - ela geme. - Estou suando por causa da aula! - Eu não disse nada. Sam não acredita, ergue as mãos e se vira, me oferecendo outro vislumbre do traseiro que está me matando a noite toda. - Vou esperar no carro! - Você vai precisar das chaves. Eles estão aqui na minha bolsa. Ela não se vira enquanto faz um aceno por cima do