A primeira noite, eu tentei evitar a minha mãe, assim como ela fazia comigo quando eu era apenas um menino, as brigas de um casal não podem interferir na criação de um filho, e talvez essa mágoa que eu sinto por ela nunca vá embora, as lembranças de um garotinho em plenos dez anos, me lembra com força o abandono, a dor daquele dia.
Eu me lembro bem daquele dia, eu tinha apenas dez anos de idade e não entendia muito bem o que estava acontecendo. A minha mãe estava arrumando suas coisas e eu perguntei para onde ela estava indo. Ela me disse que precisava ir embora por um tempo, mas que voltaria logo.
Eu não conseguia entender o porquê dela ter que ir embora. Eu comecei a chorar e pedi para ela ficar, mas ela me disse que precisava ir. Ela me abraçou forte e começou a chorar também. Eu nunca tinha visto a minha mãe chorar antes, e aquilo me deixou ainda mais triste.
O meu pai estava olhando para nós com uma expressão firme, como se estivesse segurando a emoção. Ele não disse nada, apenas acompanhou a minha mãe até a porta.
Nos dias seguintes, eu sentia falta da minha mãe e perguntava para o meu pai quando ela voltaria. Ele me dizia que não sabia, mas que ela voltaria em breve. Eu ficava feliz com aquela esperança, mas com o tempo comecei a perceber que a tristeza da minha mãe não era tão grande assim.
Ela nunca mais voltou para casa. Isso foi difícil de aceitar, mas eu aprendi a conviver com a falta dela. Eu cresci sem uma mãe presente, mas isso me tornou mais forte. Eu aprendi a lidar com as dificuldades da vida e a valorizar as pessoas que realmente se importam comigo.
Hoje, eu entendo que a minha mãe tinha os seus próprios problemas e que ela precisava seguir em frente. Eu não queria guardar rancor dela, o Giovanni de hoje não guarda, mas o de dez anos, nunca vai esquecer.
Eu não tive escolha e acabei ficando hospedado na casa da minha mãe durante esse tempo. A mansão era enorme, assim como a nossa na Inglaterra. O quarto em que fiquei hospedado era amplo e bem decorado, com uma cama macia e um closet espaçoso.
Na noite daquele dia, fui jantar com a minha mãe na sala de jantar. Ela estava sentada na ponta da mesa, com um sorriso gentil no rosto. Eu me sentei em uma das cadeiras e comecei a observar o ambiente ao meu redor.
- A casa é muito bonita, mãe. - eu disse, tentando quebrar o silêncio. Fazia alguns anos que eu não vinha aqui, e a decoração já era outra, não que eu me lembre da antiga.
- Obrigada, meu filho. Fico feliz que tenha gostado. - ela respondeu, com um olhar carinhoso.
Eu peguei o garfo e a faca e comecei a cortar o bife que coloquei no meu prato. A minha mãe tentava puxar conversa comigo, mas eu estava quieto e não sabia muito bem o que dizer.
- Como estão as coisas na Inglaterra? - ela perguntou.
- Estão bem. - eu respondi, dando uma garfada na comida.
- E os seus amigos, estão todos bem?
- Sim, eles estão bem. - respondi, sem muita empolgação. Ela sabia que assunto de mulheres era algo que eu não gostava de comentar, sabia também da minha aversão por casamentos.
A minha mãe suspirou e deu uma olhada ao redor da sala de jantar.
- Eu gostaria que você se sentisse mais à vontade aqui em casa, Giovanni. Eu sei que é difícil para nós dois, mas eu quero que saiba que estou feliz por você estar aqui.
Eu não sabia muito bem o que responder. Eu não estava feliz por estar ali, mas também não queria magoar a minha mãe.
- Obrigado, mãe. Eu também estou feliz por estar aqui. - eu disse, tentando parecer sincero.
A empregada servia o restante do jantar com um sorriso no rosto e a minha mãe a elogiava pela comida. Eu fechava ainda mais a cara quando ela vinha colocar o restante dos pratos e precisava cumprimentar-me.
- O jantar está maravilhoso, Serene. - minha mãe disse, sorrindo para a empregada.
- Obrigada, dona Rosa. - Respondeu, muito a vontade para o meu gosto.
Eu não sabia o que dizer, então apenas continuei comendo em silêncio. Eu sabia que a empregada estava apenas fazendo o seu trabalho, mas a minha falta de conforto com aquela situação era evidente. Me sentia um estranho naquela casa, como se não pertencesse àquele ambiente. Mas sabia que precisava fazer um esforço para me adaptar, pelo menos durante o tempo em que estivesse ali.
Eu terminei o jantar em silêncio e agradeci a minha mãe pela refeição. Depois, subi para o meu quarto, sabia que aquele período me faria bem longe do meu pai. Por mais que eu o amasse, já tinha um tempo em que ele queria fortalecer as nossas empresas, e na sua cabeça um casamento com alguma mimada da alta sociedade da indústria, daria certo.
Tomei um banho relaxante. Quando saí do banheiro, eu vesti apenas uma cueca box e me joguei na cama. Eu peguei o meu celular e comecei a olhar as redes sociais.
Eu não era muito chegado em postar fotos da minha vida pessoal nas redes. Quando postava, eram geralmente fotos de eventos ou fotos profissionais. No story, eu raramente postava algo. Eu achava tolice expor a minha vida dessa maneira.
Eu olhei para o teto do quarto não tinha muitas amizades na Austrália, mas tinha uns companheiros para um drink. Contudo, naquele dia, eu não estava animado para sair. A viagem havia sido cansativa e eu precisava descansar.
Mas a lembrança da secretária mais cedo começou a me incomodar. Eu não conseguia tirar da minha cabeça aqueles lábios carnudos e vermelhos. Eles se destacavam no seu rosto pálido e delicado. Eu me perguntava se ela sabia o efeito que causava nos homens com aqueles lábios.
Eu tentava me concentrar em outras coisas, mas minha mente teimava em voltar para ela. Eu me sentia atraído por ela de uma maneira que eu nunca havia sentido antes. Eu me imaginei tocando os seus lábios com os meus, sentindo o gosto do batom na minha boca.
Eu sabia que isso era errado e que eu não devia pensar naquilo. Mas era como se uma força invisível me puxasse para ela. Eu me sentia enfeitiçado por sua beleza e a sua atração.
Fechei os olhos e respirei fundo, tentando afastar aqueles pensamentos da minha mente.
Sabia que não podia ficar pensando naquilo. Me levantei da cama e fui até a janela. Eu olhei para a rua e vi as luzes da cidade piscando ao longe, sabia que seria uma noite longa de insónia, apenas mais uma.