Capítulo 4 Cicatrizes Invisíveis

Com Marcos sob custódia, Ana começou a sentir um pouco mais de paz. Mas a normalidade ainda parecia um sonho distante. Lucas continuava ao seu lado, e embora o perigo imediato tivesse sido contido, a sombra das ameaças anteriores ainda pairava sobre ambos. As semanas seguintes foram uma série de compromissos profissionais e sessões de terapia que Ana começou a frequentar para lidar com o trauma. Lucas permaneceu uma presença constante, observando, protegendo e, lentamente, se tornando uma parte essencial de sua vida cotidiana.

Em um desses dias, após uma sessão particularmente intensa com sua terapeuta, Ana convidou Lucas para um passeio em um parque próximo. Ela sentia que precisava de ar fresco e de uma conversa leve, algo fora do ritmo frenético de sua rotina. "Você já esteve aqui antes?" Ana perguntou enquanto caminhavam pelo parque arborizado. Lucas balançou a cabeça. "Não, na verdade não costumo visitar muitos parques. Trabalho exige que eu esteja sempre em alerta e raramente tenho tempo para relaxar." Ana sorriu, um sorriso triste. "Acho que ambos precisamos aprender a relaxar um pouco mais." Enquanto caminhavam, uma leve brisa balançava as folhas das árvores, criando um ambiente quase onírico. Sentaram-se em um banco à beira de um pequeno lago, observando os patos nadando preguiçosamente na água. "Eu costumava vir aqui quando era criança," Ana começou a contar. "Meu pai me trazia para alimentar os patos. Era um dos poucos momentos de paz que tínhamos juntos." Lucas olhou para ela, notando a nostalgia em seus olhos. "Seu pai deve ter sido um homem incrível." Ela assentiu, seu olhar perdido no passado. "Ele era. Faleceu quando eu tinha quinze anos. Desde então, tudo mudou." Houve um silêncio confortável entre eles, preenchido apenas pelos sons suaves da natureza ao redor. Lucas sentiu que aquele era um momento crucial para entender mais sobre Ana, não apenas a atriz, mas a pessoa por trás da fama. "E você, Lucas? O que te levou a se tornar um guarda-costas?" Ana perguntou, curiosa. Ele respirou fundo, seus olhos fixos no horizonte. "Depois que deixei a polícia, eu queria continuar ajudando as pessoas. Mas de uma forma mais direta, onde eu pudesse ver o impacto do meu trabalho. Perdi meu parceiro em um tiroteio, e isso me fez reconsiderar muitas coisas. Proteção privada parecia um caminho natural." Ana tocou levemente o braço dele, em um gesto de conforto. "Sinto muito pelo seu parceiro. Perder alguém assim deve ser devastador." Lucas assentiu, apreciando o gesto dela. "Foi. Mas me ensinou a valorizar ainda mais a vida e a segurança das pessoas que protejo." O tempo passou sem que percebessem, e logo o sol começou a se pôr, pintando o céu com tons de laranja e rosa. Ana se levantou, estendendo a mão para Lucas. "Vamos? Ainda temos um jantar com o diretor do meu próximo filme." Ele aceitou a mão dela, levantando-se. "Claro. Estou aqui para garantir que tudo corra bem." O jantar com o diretor foi uma mistura de negócios e socialização. Ana estava radiante, mostrando toda a sua habilidade em navegar pelos círculos sociais. Lucas, sempre vigilante, mantinha-se próximo o suficiente para intervir se necessário, mas distante o suficiente para respeitar seu espaço. Após o jantar, ao voltarem para o apartamento, Ana sentiu-se exausta mas satisfeita. "Hoje foi um bom dia," comentou, sentando-se no sofá e tirando os sapatos. Lucas sorriu. "Sim, foi. Você merece dias assim." Ela olhou para ele, uma expressão de gratidão no rosto. "Eu nunca te agradeci o suficiente, Lucas. Por tudo que você fez e continua fazendo." Ele balançou a cabeça, minimizando o elogio. "Apenas fazendo meu trabalho, Ana. Mas fico feliz em saber que faço a diferença." Ana se aproximou, tocando levemente a mão dele. "Você faz mais do que isso. Você é uma parte importante da minha vida agora." Lucas sentiu um calor estranho no peito, uma sensação que ele não estava acostumado. "E você é uma pessoa incrível, Ana. Não esqueça disso." Naquele momento, ambos sentiram que algo profundo estava se formando entre eles. Algo mais do que proteção e dever. Mas sabiam que ainda era cedo para deixar isso florescer completamente. Havia muito a ser resolvido, muitos passos a serem dados. E assim, com uma promessa silenciosa e um entendimento mútuo, seguiram em frente, sabendo que o caminho do coração é longo e cheio de curvas, mas vale a pena ser trilhado.

            
            

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