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"A minha consciência tem milhares de vozes, / E cada voz traz-me milhares de histórias, / E de cada história sou o vilão condenado.William Shakespeare"
Caveira
Assim que saí da casa da mina comecei a refletir mil e umas paradas. Ela era mó marrenta, diferente de todo mundo aqui no morro me deu umas respostas na lata sem nem se importar com quem eu era e ainda me pediu pra fingir que não conhecia. Caô, qualquer outra já ia se atirar para cima de mim, pedir condição, para ser fiel, sei lá.
Passei o resto da noite pensando nela e quando a ruiva do postinho veio fazer o curativo certinho eu só consegui lembrar daquela desgraçada.
Minha vida foi regada a dor, solidão e ruína, mas agora eu teria algo bom nem que eu tivesse que buscar a força.
[...]
- E aí Caveira, a mina deixou forte ou não? - Neguinho perguntou com um sorriso no rosto.
- Conhece ela de onde?
- Nunca bati papo com ela não, mas sempre cumprimenta geral que fala com ela e não rende para os amostradinhos. - Ele se encostou na parede e tirou o celular do bolso.
- Manda alguém trazer ela aqui. - Ele levantou o rosto e me encarou, revidei friamente. - Agora, p*rra!
- Ela está na faculdade nessas horas.
- Mete o pé que eu tenho coisa pra fazer. - Murmurei.
Assim que ele saiu eu peguei o caderno de uma das bocas e comecei a revisar toda a contabilidade, de uma coisa eu sei, se você quer algo bem feito, faça você mesmo! Às vezes eu achava tantos furos nas contas que se eu não soubesse lidar eu já teria matado metade dos menor por burrice deles.
O tempo parecia ter congelado à medida que a minha ansiedade aumentava. Eu sentia no meu peito uma necessidade crescente de ver ela, de prender ela numa gaiola e ter como meu bichinho de estimação, sempre próxima a mim.
Neguinho me disse tudo que sabia sobre ela, a que horas sai, que horas chegava, onde trabalhava e onde era a faculdade. Era a única coisa que ela falava por aqui, parecia que a garota sequer vivia.
Quando chegou próximo ao horário eu me levantei e saí da boca, peguei minha moto e desci até a barreira para esperar por ela. Assim que chegou ela passou por mim sem nem notar a minha presença, respondeu todo mundo que falou com ela e subiu o morro de cabeça baixa. Nem parecia a mesma mulher.
Acelerei a moto e pilotei até a casa dela, desci e me encostei na parede. Alguns minutos depois ela chegou e quando me viu parecia ter visto um monstro em sua frente, não que eu não fosse.
- O que você tá fazendo aqui? - Ela perguntou enquanto abria a porta.
- Vim ver se eles consertaram mesmo. - Apontei para a porta. - Agora não vou precisar arrombar mais. - Tirei as chaves do meu bolso e mostrei para ela.
- Você prometeu que ia me deixar em paz! - Ela praticamente rosnou e me olhou indignada.
- E você acreditou? Você está no meu morro, na minha casa e acha que pode mandar em alguma coisa? - Assim que ela entrou eu segui os passos dela e entrei em seguida. - A gente vai fazer um acordo, você vai ser minha enfermeira, eu vou entrar aqui a hora que eu quiser e você ganha um dinheiro gordo para pagar a sua faculdade e viver sem precisar trabalhar.
- Dispenso, não quero.
- Você nem escutou a outra opção. Eu posso tocar fogo na sua casa, tirar você do trabalho e acabar com qualquer chance de você terminar a faculdade.
- Você não faria... - Ela me encarou e eu não deixei de demonstrar que eu faria.
Tirei do meu bolso um isqueiro e acende me aproximando da cortina e começando a incendiá-la. Ela me olhou atônita e seu desespero aumentava à medida que as chamas cresciam.
- EU FAÇO! Só para com isso agora. - Ela gritou.
Eu apaguei as chamas, quando me virei ela estava ajoelhada no chão chorando baixinho. Me agachei a sua frente e levantei o seu rosto.
- Shh... Eu nem te dei motivos para chorar ainda.
- O que você quer de mim? - Larissa me perguntava como se não fosse óbvio.
- Eu quero tudo, quero você, sua vida, suas escolhas, tudo na palma da minha mão!
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@mxluizaa_