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"Vilões nunca rompem porque são persistentes, até no amor."
-Vincenzo
Flora
Encarei o homem à minha frente incrédula da capacidade dele de ser tão escroto. Eu sentia uma certa raiva de mim mesma por ter confiado nas palavras desse maldito, o que eu ia esperar de alguém que reina com a ruína de outras pessoas?
- Eu nunca vou ser sua.
- A gente vai dar uma volta. - Ele murmurou e se aproximou de mim segurando o meu pulso e me arrastando para fora de casa.
Pelas cenas passadas eu fiquei relutante demais para contrariar esse louco. Ele subiu na moto e instintivamente eu fiz o mesmo, logo ele acelerou passando pelas vielas em uma velocidade absurda. O Caveira parou a moto em um barzinho, eu desci e nós entramos, os olhares de todos que estavam no lugar caíram sobre nós.
- Qual é o intuito disso, ein? - Perguntei séria.
- Eu tô morto de fome. - Ele murmurou de volta.
Assim que a gente sentou em uma das mesas afastadas do pessoal eu fiquei totalmente surpreendida com um forró tocando. Abri um sorriso inconsciente.
"Fiz você pra mim, meu brinquedo meu anjo querubim
Meu segredo guardado só pra mim, meu amor mais louco
Até de tanto amar, fiz também algo pra gente ninar
Uma criança pra gente adorar, tudo num sufoco"
- Limão com mel... Essa me pegou desprevenida.
- Caô que tu curte essas paradas? - Ele julgou até a minha alma depois de saber disso. Eu dei de ombros. - Olha aí o passado do vilão.
- Tô mais para heroína viu, você é quem comete atrocidades por aí que eu saiba. - Falei na cara dura.
- Se tu for pelo que os outros dizem eu vou ser o monstro dos teus pesadelos mesmo, todo mundo tá aí para olhar quando a gente erra ou faz alguma coisa ruim, mas tenta acertar uma vez para tu ver, vai estar todo mundo de olhos fechados.
Eu não sei porque, mas cada palavra que saia da boca dele entrava na minha cabeça de uma maneira tão profunda. Talvez, só talvez, ele ainda tivesse uma chance de ser curado.
- Não adianta se fingir de mocinho, nós sabemos quem é o vilão aqui.
- Com certeza eu vou ser o herói quando vencer essa sua marra te f*dendo!
Ele me olhou cinicamente, eu via o desejo nos olhos dele desde a noite em que ele invadiu a minha casa e era uma das coisas que eu mais tinha medo. Medo de começar a retribuir esse desejo.
Quanto mais distante eu o queria, mais perto ele parecia vir, como se fôssemos um ímã.
- Por que você virou traficante? - Mudei de assunto rapidamente.
- Eu era soldado, acredita? - Não, eu não acreditava. - Saí por dispensa médica, mas foi tudo fachada, a real é que eu descobri uma rede de corrupção lá dentro. Fiz um acordo, eu não me metia nos negócios deles e eles não deixavam a polícia se meter nos meus.
- Mas por que o tráfico?
- Eu cresci aqui, meu avô era traficante, meu pai era e eu tive a ilusão de que eu ia ser diferente, mas o mundo me mostrou que que nem tudo que a gente quer a gente pode ter.
- Você não queria, né?
- Me diz aí Larissa, quem quer ter a cabeça a prêmio? Quem quer viver sem liberdade? Eu tenho que dormir de olhos abertos se eu não quiser acordar do outro lado.
- Se você saísse dessa eu até tentaria te conhecer melhor e sei lá, quem sabe... - Fui sincera.
- Se eu sair dessa, eu morro em uma semana.
[...]
O Caveira me trouxe para casa depois de muita conversa, piadinhas e comida. No final das contas em menos de um dia ele já mudou todo o conceito que eu tinha sobre ele. É como ele mesmo disse, todos nós erramos e acertamos, mas no fim as pessoas só acabam apontando os nossos erros. Ele me contou tantas histórias que eu ficava perplexa no quanto ele era... Normal.
Eu sou uma pessoa simples, vim para cá do nordeste só para crescer e acabei quebrando a cara, mas não desisti de tentar por aqui, ao menos não ainda. A cada dia a saudade da minha família e da minha terrinha só aumenta, mas é por eles que eu estou aqui. Em hipótese nenhuma eu vou deixar eles sonharam que eu saí com um de frente do tráfico.
Deitei na minha cama e deixei o sono tomar conta de mim.
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@mxluizaa_