/0/12509/coverbig.jpg?v=826938fa2d6147a359ff89b8580da6c0)
- LENAA!!!
Acordo assustada de novo, minha tia Célia me odeia, já faz seis anos que meus pais morreram e a cada dia ela faz questão de me mostrar o quanto me despreza. Um acidente de carro, um maldito acidente com um motorista bêbado tirou meus pais de me, dói muito ainda, mas sei que eles queriam que eu fosse feliz, e é por eles que eu levanto todo dia e ponho uma expressão no rosto.
- JÁ VOU TIA - grito de volta.
Levanto e vou fazer minha higiene matinal. Hoje estou feliz, vou começar no High School East Secundário. Tive que mudar de colégio, não estava conseguindo esconder as marcas e minha tia percebeu e fez a transferência, já que dinheiro não é problema, meus pais cuidaram disso.
Estou tão feliz que nem faço questão de ver a cara aborrecida da minha tia, ela não está feliz, claro sua escrava particular ficará praticamente o dia todo fora, e não poderá fazer as atividades domésticas de casa, mas ela não tem escolha, senão os advogados iriam desconfiar, sendo que não desconfiaram quando ela não quis morar na mansão e sim continuar na casa dela, a imagem que passou era que não estava interessada no dinheiro que meus pais deixaram, mas só foi para não ter ninguém da confiança dos meus pais por perto. Eu sei que poderia denúncia-la, mas ela disse que me mataria e estava pouco se importando que iria para a cadeia, claro que acreditei, tenho certeza que ela teria coragem. Me arrumo e desço para tomar café, ou seja comer o que sobrou, o que ela deixou, não reclamo, apenas saio de casa, se é que posso chamar isto de um lar, pode ser qualquer coisa menos um lar.
Como este colégio é integral e vou passar o dia todo lá, graças a Deus, por isso ela está aborrecida, pois gostava de me ver fazendo as coisas, não sei o porquê de tanta raiva sente de me. Saio de casa apressada e vou até o metro, pois o colégio fica perto do Centro de New York. Chegando lá, a diretora me acompanha, tudo por causa do meu sobrenome que é conhecido, ela para em frente a sala 2A, me entrega os horários, bate na porta e me apresenta aos alunos, vejo alguns cochichando e já sei que são especulações sobre eu ter sido transferida no meio do ano, a Diretora Byrnes sai e me deseja sorte. Bom agora estou parada de cabeça erguida, posso ser tímida, mas não irei me rebaixar, a professora indica um lugar na frente, fazendo dupla com uma garota chamada Victória German, como a professora informou, me sento e rapidamente ela retorna o assunto.
- Bom, sem mais interrupções, meu nome é May Ray, como vocês sabem a Sra. Pitt não poderá continuar lecionando devido ao seu problema de saúde, e eu vou ficar com vocês pelo resto do ano letivo lecionando Geometria avançada - ela faz um pausa e depois continua - Bom agora que eu me apresentei, será a vez de vocês.
Depois de muitas apresentações que eu sequer prestei atenção, chegou a minha vez e ela me olhava com aqueles olhos pensando que me intimidava, mas na verdade era divertido ver a frustração neles depois de não obter sucesso.
- Seu nome, idade e....- eu a cortei para falar logo.
- Meu nome é Lena Wast e tenho 16 anos - falei encerrando ali minha apresentação, e percebi que ela não gostou, ela quer saber mais da minha vida, mas não ligo muito para esse tipo de apresentação, gosto de ser direta, e quanto menos souberem, melhor será.
Ela explicou sobre algumas fórmulas de cálculo, o que eu achei fácil por causa da minha facilidade com a matéria, mas pude ver vários rostos confusos, principalmente da minha parceira. Depois da sua aula veio outros e era sempre a mesma coisa, os professores me olhavam com pena pela minha história com meus pais, me faziam dizer meu nome. No decorrer do dia descobrir que minha dupla de geometria avançada faz quase todas aulas comigo, menos história e língua inglesa. Quando deu o horário de almoço quase gritei de alívio, pois não comi direito, e ainda bem que minha tia foi obrigada a incluir na matrícula pagamento de lanches e almoço, vou poder comer direito.
Me levantei, peguei um livro que tinha para ler um pouco e me sentei em um banquinho, fiquei sozinha, pois Victória sentou com um grupinho de amigas e apesar de insistir não quis incomodar. Apesar de ter alguns olhares tortos, o dia foi legal, tirando as olhadas que a senhora Ray me lançava, como se me conhecesse além do que todos conhecem a história, não sei, me deu essa impressão.
Assim que cheguei na casa da minha tia fui tomar um banho, depois fui na cozinha beber uma água
Acordei às 04:00, já que ontem ela estipulou este horário antes de eu sair para o colégio, tenho que fazer minhas tarefas se não ganho alguns roxos pelo corpo, mas estranhei um pouco, acordei sem nenhum grito o que é um milagre, já que minha tia não gritou pelo meu nome. Depois de fazer a higiene, desço as escadas e encontro minha tia dormindo no sofá da sala, estava fedendo à álcool, faço as tarefas que ela exigiu, ela realmente sujou a casa toda, o tempo passou rápido e me arrumo depressa, minha tia ainda não acordou e estou ficando preocupada.
- Tia - sacudi ela, com um pouco de força - Tia acordaaa - grito e com isso ela levanta tomada pelo susto.
- Menina você está doida, quer me matar!? - pergunta ela me sacudindo - Quer me matar? - repete ela. Ela vai fazer algo sei disso, e estou com medo, sempre me machuca quando está com raiva.
- Euu sooó taaava ten... - ela me interrompe dando um tapa no meu rosto.
Saio correndo, meu rosto arde, e as lágrimas descem sem minha permissão, enxugo depressa. Não demora muito e chego na School East, não converso com ninguém, está inchado o lado esquerdo do meu rosto. Logo todos começa a entrar, não olho e nem falo com ninguém, me sento na frente e faço como no outro dia, abaixo minha cabeça.
Na aula de Sra. Rey, fiquei o tempo todo de cabeça baixa, Victória tentou puxar assunto, mas não dei brecha, não queria falar com ninguém, na hora da chamada não ousei levantar minha cabeça na hora que ela chamou meu nome, só levantei minha mão.
- Bom podem ir para o almoço... - já ia me levantando quando ela acrescentou - menos você Lena - paro e me sento novamente.
- Lena o que está acontecendo? - Pergunta ela, mas não respondo nada, meu silêncio frusta ela, se o suspiro que ela deu é algum indicativo. Ela continua, quando percebe que não direi nada - Levanta o rosto - não faço nada e ela se frusta e ergue meu rosto, mesmo eu sendo negra, minha pele é clara, e fica perceptível qualquer vermelhidão, por isso o choque está presente na voz dela - Lena o que aconteceu!? Me fala - sua voz é alarmada e me reconforta, ela se importa comigo, mas não posso contar, não posso.
- Não foi nada professora, eu caí da escada e bati meu rosto na guina, desculpe - não sei porquê pedi desculpa e um soluço escapa de me.
- Shiii shii querida, não precisa pedir desculpas - diz ela me abraçando, é um abraço tão bom que me esqueço de todos, mas logo me recomponho e minha seriedade volta para meu rosto, o burburinho indica que todos estão voltando do almoço, ou seja ficamos muito tempo aqui, e eu chorando o tempo todo, no intervalo como algo. Como era continuação da aula dela, o seu olhar continuou me cercando.
Ignoro o olhar da professora o tempo todo, o de pena eu não gosto, e o de desconfiança me faz acreditar que ela não acreditou nem um pouco no que eu disse. Quando a aula da termina, levanto e saio sem olhar para trás, mesmo com ela me chamando, não posso contar nada pra ela, ninguém pode saber a verdade.