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Neste exato momento estou dando as coordenadas para minha professora me levar na casa da minha tia.
Antes de sair, ela deixou uma permissão assinada para que eu saísse sozinha, para que não precisasse me esperar, um amor ela né? Pensei que Mia tinha ido embora, qual foi minha surpresa quando a vi com uma bandeja nas mãos, dizendo bom dia e como foi sua noite? Fiquei surpresa e ela gostou disso, perguntei se a família dela não estranhou ela ter ficado a noite toda fora e ela simplesmente respondeu que o marido dela sabia o que tinha acontecido e só não foi me ver, porquê estava cuidando de algo que ela pediu pra providenciar, e quando ela disse isso, um arrepio se passou por meu corpo, uma sensação boa.
Ela estaciona e sei que tenho que ir, mas o que me surpreende é que eu não quero sair de perto nela, e isso não pode acontecer, não posso me apegar, sempre saio machucada no final. Chegou a hora, meu corpo esta tenso, meu braço envolvido na tipóia me lembra que terei que ficar um tempo de molho. Solto um longo suspiro antes de me despedir e ouvir ela fazer o mesmo.
- Então tchau. E obrigado por tudo! - já estava com minha mão na porta do carro para abrir, quando ela me para. Eu simplesmente odeio despedidas.
- Lena se despeça direito mocinha! - ela parece minha mãe falando, absurdo, não tem esse direito e pela minha fisionomia ela sabe que não gostei nada disso, mas nem me dar tempo de falar- Isto é só um até logo meu bem, venho lhe ver amanhã.
- Mai..- e ela não me deixa nem concluir, como odeio isso.
- Não estou pedindo, só estou avisando - dá uma pausa e continua - tchau linda, até amanhã - diz isso enquanto me dá um beijo na testa e um abraço até onde o cinto permite. Saio ainda atordoada, pego minha chave, abro a porta e entro. Escuto o ronco do motor do carro, e sei que ela já foi, meu coração pesa e sinto falta daquela sensação maternal que só minha mãe tinha, só que dessa vez bem mais forte, me pergunto desde quando necessito tanto dela e mesmo sem querer, eu sei que foi no mesmo dia que a conheci, que vi aqueles olhos tão verdes tentando me intimidar.
Já estou há quatro horas aqui, e descobrir que consigo fazer várias coisas só com a mão boa que é a esquerda, já arrumei a casa e fiz algo pra comer e limpei toda a bagunça e até agora não vejo um sinal da minha tia, mas aproveito bem meu tempo sozinha no quarto e leio. Estou tão concentrada na leitura que nem percebo minha tia parada no umbral da porta me observando, só me dou conta quando olho de relance para a porta e levo um susto com sua presença.
- Ai que susto - ela dá um risada irônica e sinistra ao mesmo tempo, sinto que tem algo errado.
- Susto? você ainda não tomou susto - diz isso já se virando, fico confusa com o que diz, mas não dou muita importância.
- Tia, então a minha professora disse que virá aqui amanhã para me ver - ela vira tão lentamente que parece a garota do filme de terror o Exorcista.
-O que você... - ela para e por um momento penso: é agora, lascou-se tudo. Mas ela só respira fundo mesmo quase bufando três vezes e diz- Tudo bem garota, é bom que ela te faz companhia - dito isto ela vira e vai embora, batendo o pé forte no assoalho.
Ok! o que acabou de acontecer aqui? Eu estou literalmente de boca aberta, ela nem surtou, está muito calma. Penso um pouco sobre isto e de repente minha mente dá um estalo, é isso, ela está aprontando algo, tenho medo, porquê da minha herança ela só tem acesso para as necessidades básicas, pois eu só terei acesso a herança e a empresa aos 21 anos, por isso tenho medo dela está aprontando, ela não toca em um único dólar meu sem passar pelo advogado dos meus falecidos pais, por isso sinto que será pior do que qualquer coisa que ela já fez e isso me dá um calafrio, preciso descobrir urgentemente isso.
.............
Acordo meio atordoada, ainda incomodada por só conseguir dormir em uma posição que não gosto, de lado, o braço não ajudou muito, aliás estou surpresa nenhum grito da minha tia, isto está estranho. Levanto e vou direto pro banheiro fazer minha higiene pessoal e tomar um banho, acordei muito suada hoje. Depois de banho tomado e de ter me arrumado vou direto para cozinha, e qual é a minha surpresa quando me deparo com a casa limpa, e a cozinha com uma mesa de café e minha tia cantando, sua felicidade é nítida que nem percebe a minha presença.
- Coff... Coff - forço uma tosse e ela toma um susto ao me ver, fazendo uma careta engraçada, mas ao qual não me atrevo rir.
- Que susto menina! Tá louca? - ri sem humor nenhum.
- Desculpa. - o receio presente na minha voz e tenho certeza que ela percebeu, pois soltou uma risadinha maldosa.
-Relaxe garota, não vou fazer nada ainda..- era pra ser somente um sussurro, só que felizmente eu escutei.
-Tudo bem então - meu tom de voz felizmente não denunciou o medo que eu senti naquele momento - eu vou pro quarto, vou deixar a senhora comer em paz - estou quase saindo da cozinha, quando ela me chama de volta.
- Lena esse café da manhã é para você também, venha sente aqui - a voz dela tão doce, que se eu não a conhecesse bem, poderia até sorrir de volta, mas eu a conhecia, e muito bem, aí tem coisa.
Fiquei com medo até da comida está envenenada, mas sei que ela não faria isso, precisa mais de me do que eu dela.
Minha tia saiu feliz da vida, dizendo para me alimentar bem e que voltava a tarde. Comi claro né, não posso desperdiçar a oportunidade, a casa estava um brinco de tão limpa, acho que era para a professora Mia não desconfiar de nada, mas do que ela já estava, falando nela acho que daqui à pouco ela chega.
Minha cabeça está dando voltas, pensando o que será que ela está tramando, várias perguntas sem respostas, nesse devaneio quase não percebo alguém batendo na porta.
- JÁ VAI!- grito, mas antes verifico, já que aqui em casa não tem olho mágico - Quem é? - pergunto e espero a resposta.
- Sou eu Lena - faz uma pausa e continua - Mya
Nem precisava continuar, reconheço essa voz a quilômetros de distância. Abro a porta e a vejo, está radiante e feliz por me ver, está usando um vestido estilo afro, com estampa de onça, está linda, sem perceber lhe dou um abraço que rapidamente é retribuído.
- Que saudades Lena - diz ela sendo sincera
- Pro.. Mya nos vimos ontem, nem deu tempo de você sentir saudades.
- Claro que deu! Não vai me convidar para entrar? - sua voz soa tão doce, que me aquece por dentro, realmente ela se importa comigo.
- Ohh perdão - solto uma risadinha por ser tão distraída e ela me acompanha - Entre por favor
Abro espaço para ela passar, e ela observa tudo atentamente, como se estivesse investigando, mas rapidamente este pensamento é dispensado por me, ela senta no sofá de dois lugares e dá palminhas, indicando para me sentar ao seu lado, eu faço de bom grado.
- Bom dia! Como está? Cadê sua tia? - ela começa perguntar tudo rápido demais, e eu não aguento e solto uma risada e ela olha para me parecendo constrangida... Tímida.. Ou talvez sem graça, não sei dizer.
- Estou bem sim, obrigado por se preocupar, e minha tia saiu e só volta à tarde - digo assim que consigo cessar meus risos.
- Ela te deixou sozinha Lena, que absurdo, e se você caísse, sentisse dor, sei lá, precisasse de ajuda - diz ela elevando cada vez mais a voz e eu me encolhi com seu tom de voz, ela está com raiva e muita. Acho que ela percebe que eu fiquei com medo, pois rapidamente sua feição mudou, de raiva para extremo carinho, e o alívio foi palpável.
Pessoas com raiva me lembra ELA, não que Mya seja parecida com ela, só não gosto da sensação que esse sentimento transmite, principalmente os momentos que eu lembro.
- Ei Lena, desculpa, só me exaltei - ela dá um longo suspiro - só fiquei chateada por ela ter te deixado sozinha aqui, sendo que você está machucada.
- Prefiro assim.. - digo num sussurro, assim pensei eu, pois no mesmo instante ela me olha e espera uma explicação, mas apenas balanço a cabeça em negação, não vou falar sobre isso. Graças à Deus ela entendeu.
- Então quer sair? - pergunta ela mudando de assunto.
- Acho melhor não, minha tia não está aqui, ela não iria permitir de qualquer jeito - minha voz saiu tão triste, eu realmente queria sair com ela, mas sei que as consequências disso, irá me trazer marcas.
- Lena, não se preocupe, vamos deixar um bilhete pra ela com o número do meu celular, assim ela liga e confirma que está tudo bem com você - olho pra ela ainda hesitante, mas com uma parte cedendo e ela usou isso ao seu favor, tenho certeza - Vamos Lena, vai ser legal, prometo que você vai gostar.
Ela me olha com expectativa e eu finalmente cedo soltando um suspiro, com isso ela começa pular pela casa, muito hilário, começo a rir, ela para e me olha com um olhar triste, como se estivesse perdida em lembranças e eu fico triste por ela mesmo sem saber ao certo o porquê disso.
- Coff.. Coff..- forço uma tosse para chamar sua atenção e conseguir, pois ela balança a cabeça, como se fosse para espantar os pensamentos, digo que vou subir para me arrumar.
Vou ao meu quarto e troco só de roupa, já que eu tinha tomado banho. Ponho um uma blusa preta, um short jeans desfiado e o meu all star.
- Vamos!?
- Claro, vamos logo que hoje vamos nos divertir - fala ela rindo e automaticamente dou risada também, contagiada pela sua animação.
Entro no banco passageiro do carro e ela vai pro lado do motorista, ponho o cinto e vejo ela fazendo o mesmo.
- Então aonde vamos? - pergunto tentando conter a animação, mas vejo que ela percebe pelo seu sorriso de canto.
- Surpresa! - e assim ela me deixa curiosa.
Depois de trinta minutos de viagem, com um silêncio confortável entre nós duas, estamos na parte nobre da cidade, tudo luxuoso, é um condomínio próximo a casa dos meus pais, sinto saudade de lá, mas automaticamente me sinto intimidada e meu corpo fica tenso.
- Onde estamos!? - pergunto alarmada, não sei se posso lidar com isso - Você mora aqui!? - minha voz elevou um pouco ao pensar nessa possibilidade, como pode, ela é professora. Ok, chega Lena de julgamentos, não se deve julgar o livro pela capa né!? Respira e inspira.
- Prof.. Mia pode me explicar o que está acontecendo? - pedi tentando me manter calma.
- Oras Lena, você vai almoçar com minha família e nem adianta dizer não, certo!? - ela nem esperou eu responder e já foi saindo do carro, e ficou parada me observando, eu acho que meu rosto revelou todo meu pavor e eu nem sei porquê eu estava assim, parece sei lá que sensação é essa, parece que estou com medo de não ser aceita, oras porque tenho que ser aceita por pessoas que eu nem conheço. É isso mesmo, não me importo!
Primeira coisa que eu faço assim que saio do carro é olhar a casa, casa não, mansão, fico de boca aberta, literalmente, nem dos meu país era tão grande assim. A mansão é de um estilo vitoriano ao mesmo tempo moderno, é linda.
Dentro é mais linda do que eu imaginava. Na sala se encontrava uma linda mulher com características fortes, jovem ainda, mas nos olhos eram perceptíveis as marcas dos anos adquiridos, suponho que é a mãe da professora Mya.
- Olá filha - ela abraça a filha com uma força e carinho que até eu sinto uma pontada de inveja.
- Oi mãe - já olhando pra me, ela nos apresenta - Mãe está é Lena, Lena está é Marina minha mãe.
- É uma prazer dona Marina, espero não está incomodando - digo estendendo a minha mão para um comprimento, só que sou totalmente ignorada e pega de surpresa pelo abraço que eu acho tão confortante e cuidadoso por causa do meu braço.
.......
Logo depois eu me encontro na cozinha com Nina, ela pediu para que a chamasse assim, a professora Mia depois de receber uma ligação ficou com uma feição preocupada e teve que sair dizendo que tinha uns assuntos para resolver, mas que estaria de volta em uma hora, a mãe dela parece que entendeu imediatamente depois que ela falou isso, e eu estou confusa até agora, sem entender o que houve naquela sala.
Nina está me contando as histórias de Mia, ela era uma menina bem esquentada e espoleta pelo que ela me diz. Ela agora está contando a história que teve um dia que Mia estava no meio da rua fingindo dor de barriga só para não ir pra escola e ficar assistindo desenhos, o engraçado era o que ela estava argumentando para Nina.
- ......... Ai ela disse: Mãe me leve pra casa, eu vou morrer, um monstro está saindo de me, indo direto pro meu bumbum, isto é uma bomba nuclearrr -disse ela imitando uma voz infantil, e eu não estava mais aguentando de rir, rir não, gargalhar, até que somos interrompidas por uma voz rouca, mas bastante suave.
- Que risada, tou com vontade de rir junto - disse ele rindo junto de verdade.
Eu me virei para ver melhor, e eis que encontro um homem de mais ou menos 1,80m de altura eu acho, branco, cabelo preto e olhos azuis. Ele é lindo e me olha com afeição, seus olhos transborda carinho direcionados pra me. E isto me confundi, todos aqui olham para me como se me conhecessem.