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Já se passaram duas semanas e nada da professora May desistir de falar comigo, mas sempre dou um jeito de escapar. As coisas lá em casa está cada vez mais difíceis, pelo que eu ouvi os advogados estão desconfiando de alguma coisa, e minha tia está me batendo com mais frequência, e me deixa sem comida por causa disso, a sorte é a comida do colégio, os hematomas aparece, mas eu sempre escondo, quando dá, pois quando não dá eu fico em casa, não quero confusão.
Hoje um pouco antes de eu sair para ir pro curso, ela sentou em cima do meu braço, só pq esqueci de lavar um garfo, e eu não sei se quebrou, mas está doendo muito, muito mesmo. Essa aula não acaba nunca, estamos no intervalo e a garota que é minha parceira nas aulas, Victoria, mas prefere que a chame de Vic, está conversando comigo, já que eu não falo quase nada, respondo as vezes com aceno, só penso nessa dor que está insuportável.
- Então você não gosta muito de conversar né? - pergunta ela com o tom bem curioso, e com isso reparo que ela percebe a careta que eu faço de dor.
- Não gosto de falar mui.. - ela esbarra no meu braço que está doendo, sei que foi sem querer, e ela está com um olhar confuso e desconfiado, e eu não aguento esconder, choro muito.
- Lena!? Você está bem!? Desculpa, eu esbarrei sem querer no seu braço e...e..e você, me desculpa Lena - sei pelo seu tom aflito que ela realmente está preocupada comigo e em meio tanta dor, eu sorrio para tranquiliza-lá, mas não adianta, agora tenho certeza meu braço realmente está quebrado. Estou cercada pelos meus colegas, todos perguntam ao mesmo tempo como estou e nem percebo quando Vic volta com a professora ao seu lado, nem percebi que ela saiu do meu lado.
- Todos para sala agora - ordena ela, alguns protestam, mas no final só com um olhar todos entram.
- Lena me diz o que houve? - a preocupação está estampada no seu rosto e a aflição esta refletida na sua voz, mas não posso contar pra ela, ela não pode saber. Então apenas permaneço em silêncio.
- Lena me responda? - não faço nada, meu braço lateja e tenho certeza que eu fiz uma careta de dor, e ela percebeu - Vamos, vou te levar em um hospital agora.
Duas horas depois, aqui estou eu, em uma cama de hospital, odeio hospitais. Este até que é confortável, a única vez que fui em um hospital, minha tia me levou em um pequeno, para não chamar atenção, e este é um hospital particular, a professora Mia insistiu em pagar e me levar para este lugar, mesmo eu negando.
Logo após saímos do colégio, ela deixou a alguém cuidando da turma que ela estava dando aula, e informou a diretora que teve que notificar minha tia, na hora que ela falou isso, chorei, chorei muito, ela pensou que era a dor e ficou aflita demais, mas não foi isso, minha tia vai me matar pensando que eu contei algo, tenho certeza disso.
O quarto em que estou é todo branco, a cama em que eu estou fica no centro, uma cômoda do lado, uma televisão no canto superior esquerdo da sala e um pequeno sofá perto da porta.
Meus pensamentos são interrompidos pela minha tia que entra no quarto, ela está arrumada, e nem me lembro da última vez que a vi assim, a não ser pra sair com algum homem que tem dinheiro. Aquele olhos azuis frios me olha sem amor, sem carinho, sem nada, só há rancor, ameaças, me dá calafrios só de imaginar o que ela vai fazer comigo.
- Que merda você fez Lena? - ela não me dá oportunidade de responder e continua - Se você falou alguma coisa sobre o que realmente aconteceu, você vai se arrepender pirralha e... - ela é interrompida por minha professora que retorna não sei de onde.
- Olá? atrapalho algo? - eu e minha tia negamos - Você deve ser a mãe dela não é? Meu nome é Mia, Mia Ray, professora de Geometria Avançada da Lena no High School East - falou ela sendo educada, e notei pelo seu tom que ela sabia que minha tia não era minha mãe, só queria informações.
- Não, ela não é minha filha - diz ela com todo rancor que possa existir e tenho certeza que não passou despercebido por minha professora - Sou tia dela, da parte materna e desde que seus pais morreram eu cuido dela. Ah meu nome é Célia Midle - ela fala tudo isso com a maior arrogância e isso me envergonha profundamente.
- E agora Lena como vamos pagar isso? Você sabe que está difícil, me diz vai - ela não tem noção, desde que ela chegou, não me pronunciei nem por um segundo, e temos dinheiro sim, ela só não quer que o advogado seja notificado, e quando penso em responder sou novamente interrompida, e isto já está me frustando de um jeito.
- Senhora Célia, não se preocupe, eu fiquei responsável por todas as despesas, ela tentou negar, mas fui convincente o suficiente quanto à isto - ela suspira e continua, sei que ela está percebendo o clima estranho entre minha tia e eu, e isso me preocupa, pois ela não vai desistir de falar comigo - e não precisa pagar, eu não vou aceitar de qualquer jeito.
- Eu não iria pagar de qualquer jeito, por me ela poderia ter ido para um hospital menor, as despesas daria para pagar - minha professora olha pra ela incrédula e eu apenas encolho os ombros e seguro as lágrimas - eu já vou indo, nos vemos quando você estiver recebido alta - diz ela olhando pra me e se vira pra minha professora - Me avise quando isso acontecer, já que fez tanta questão de lhe fazer companhia, xau professorinha.
Mas antes dela sair minha professora lhe chama e pergunta o que eu estava o tempo todo evitando falar, mesmo com a insistência dela e dos médicos.
- Senhora Célia? - minha tia faz um som nasal para que ela continue - O que aconteceu com Lena? Ela não quer nos contar, e além disso o médico que está responsável pelo caso, Dr. Phill precisa saber o que houve.
- Ah então a pirralha não falou nada..- diz ela em um sussurro, só que eu e a professora escutamos tudo, ela é burra demais e nem percebeu. Senhorita Mia faz um som nasal indicando que está esperando a resposta - Ah, claro que vocês querem saber, essa garota aí é estúpida, desastrada, tem dois pés esquerdos, por isso caiu da escada, eu perguntei se estava bem e ela disse que sim, depois foi para o colégio, e horas depois eu sou tirada de um encontro importante por causa dessa aí. Bom se foi só isso eu já vou indo.
Assim que ela saiu do quarto, eu olho pra professora e ela parece chocada com tudo que aquela bruxa falou, nisso se instalou um silêncio insuportável e resolvo quebrar.
- Me desculpe professora, a senhora não deveria ter presenciado uma ceen-na deessaas - a última parte eu já estou soluçando, choro muito e nem vejo quando ela me abraça, só sinto, pois é um abraço acolhedor, reconfortante, o abraço que minha mãe me dava, e é desse jeito em um abraço quentinho que eu choro até adormecer, um sono sem perturbações, sem meus demônios só por causa do abraço dela.