Capítulo 4 4 capítulo

Os primeiros dias na TechNova foram como uma montanha-russa para Beatriz. Cada dia trazia uma nova surpresa, um novo desafio. Mas por mais que o ambiente fosse exigente e, por vezes, hostil, Bia se encontrava estranhamente motivada. Ela sabia que estava sendo observada por todos, mas, em vez de se intimidar, isso apenas a fez redobrar seus esforços.

Na quinta-feira pela manhã, o dia começou com um clima pesado. As nuvens escuras cobriam o céu, e uma leve garoa caía sobre a cidade. O tempo refletia perfeitamente o humor de Gabriel Costa, que chegou à empresa com uma expressão séria e sombria. Bia notou imediatamente a mudança no ambiente quando ele passou por sua mesa, indo direto para sua sala sem dizer uma palavra.

Pouco depois, o interfone tocou em sua mesa. Era Gabriel, e sua voz estava mais fria do que o habitual.

- Srta. Nogueira, venha até a minha sala agora.

Bia ajustou o blazer, pegou seu caderno de anotações e foi rapidamente até a sala de Gabriel. Quando entrou, ele estava de pé, olhando pela janela com as mãos nos bolsos, uma expressão de frustração evidente em seu rosto.

- Feche a porta. - Sua voz era baixa, mas carregada de autoridade.

Bia obedeceu, sentindo o peso do momento. Gabriel virou-se para ela, seus olhos cinzentos mais afiados do que nunca.

- Recebi uma notificação de que a Connext está prestes a lançar uma campanha semelhante à nossa proposta para a nova plataforma de IA - ele disse, cada palavra cuidadosamente medida. - Isso é mais do que uma coincidência. Alguém de dentro da empresa está vazando informações.

Bia ficou momentaneamente sem palavras. A ideia de que poderia haver um traidor dentro da TechNova era alarmante, mas o fato de que Gabriel estava trazendo isso à tona diretamente com ela a deixou ainda mais tensa.

- O que o senhor gostaria que eu fizesse a respeito? - perguntou Bia, tentando manter a voz firme.

- Quero que você me ajude a identificar quem está por trás disso - respondeu Gabriel, com uma calma assustadora. - Você está em uma posição estratégica, tem acesso às minhas reuniões e interage com todos os executivos. Quero que observe, ouça, e me reporte qualquer comportamento suspeito. Alguém está tentando sabotar nossa campanha, e eu não vou tolerar isso.

Bia assentiu lentamente, processando a magnitude da tarefa que lhe havia sido dada. Ela sabia que Gabriel era meticuloso e que, se havia um vazamento de informações, ele não descansaria até descobrir quem era o responsável. Mas ser incumbida de uma missão tão delicada significava que ele começava a confiar nela, o que era um passo significativo.

- Entendido, Sr. Costa. Vou prestar atenção em tudo ao meu redor e informá-lo de qualquer coisa incomum que eu perceba - disse Bia, determinada.

Gabriel a observou por alguns instantes, como se estivesse avaliando sua determinação.

- Excelente. Preciso que mantenha isso em segredo absoluto. Se a pessoa responsável souber que estamos investigando, ela pode cobrir seus rastros. - Ele fez uma pausa, os olhos fixos nos dela. - Confio que você lidará com isso de maneira adequada.

- Pode contar comigo, Sr. Costa.

Quando Bia saiu da sala, seu coração estava acelerado. A tarefa que Gabriel havia lhe dado era delicada e perigosa. Ela não podia cometer nenhum erro. Sabia que isso poderia definir seu futuro na TechNova, e talvez até na carreira corporativa como um todo.

Enquanto caminhava de volta para sua mesa, Bia notou os olhares dos colegas. Ela sabia que sua proximidade com Gabriel estava começando a gerar comentários, e que algumas pessoas viam com desconfiança o fato de ela estar avançando tão rápido em tão pouco tempo.

Pouco depois, Camila Vieira surgiu em sua mesa, com seu habitual ar de superioridade.

- Alguma novidade interessante na reunião com o Sr. Costa? - perguntou ela, aparentemente de forma casual, mas com os olhos atentos a qualquer detalhe que Bia pudesse deixar escapar.

Bia sorriu educadamente, mas manteve sua resposta vaga.

- Nada além do habitual. Apenas alinhando algumas prioridades para a semana.

Camila a observou por mais um momento antes de acenar com a cabeça.

- Certo. Bom trabalho, Srta. Nogueira. Continue assim.

Camila se afastou, mas Bia sentiu uma pontada de desconforto. Sabia que a diretora de operações estava tentando obter informações, e isso a deixava ainda mais cautelosa. Se havia alguém tentando sabotar a TechNova, qualquer um poderia ser o responsável - até mesmo alguém como Camila.

Naquela tarde, enquanto revisava a agenda do dia seguinte, Bia notou algo estranho em um e-mail enviado por Henrique Ventura, o CEO da Connext. Era uma mensagem de cortesia, mencionando casualmente uma conferência no próximo mês, mas uma frase em particular chamou sua atenção: "Espero que nossas empresas possam aprender uma com a outra no futuro."

Era uma frase comum, mas, dadas as circunstâncias, parecia ter um duplo sentido. Bia fez uma nota mental para investigar mais sobre os contatos recentes entre a TechNova e a Connext. Talvez houvesse algo ali, algo que pudesse dar uma pista sobre o vazamento.

À medida que o dia chegava ao fim, Bia sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ela estava no meio de um jogo de poder que não tinha margem para erros, e sabia que Gabriel esperava nada menos do que resultados.

Enquanto guardava suas coisas e se preparava para sair, Gabriel passou por sua mesa. Ele parou por um momento, sem olhar diretamente para ela, mas falando em um tom baixo que apenas ela poderia ouvir.

- Não se esqueça do que discutimos, Srta. Nogueira. O tempo está correndo.

Ele seguiu em frente, deixando Bia sozinha com seus pensamentos. O recado era claro: a pressão estava aumentando, e ela teria que agir rápido. Com um suspiro profundo, Bia se levantou, decidida a descobrir o que estava acontecendo, custe o que custar.

Era o começo de uma nova fase em sua jornada na TechNova. Uma fase em que ela teria que navegar em águas ainda mais turbulentas, lidando com traições, desconfianças e, acima de tudo, o desejo implacável de vencer.

Ao sair do prédio, a garoa havia se transformado em uma chuva leve. Bia puxou o capuz do casaco e caminhou pelas ruas movimentadas, imersa em seus pensamentos. Havia muito mais em jogo do que apenas um emprego; havia sua reputação, seu futuro, e, de certo modo, seu próprio senso de identidade. Ela estava entrando em um território perigoso, mas, com cada passo que dava, sentia-se mais determinada a sair vitoriosa.

E, ao longe, entre as luzes da cidade e o som da chuva, Bia sabia que essa batalha estava apenas começando.