Capítulo 3 Aqueles olhos

estava sentindo. Mas isso não significava que fizera algo errado. Claro que ele nunca enxergaria a situação sob esse prisma, mas o que Colton King pensava dela não lhe importava, certo? Ele nem piscava os olhos. Só a encarava com aqueles olhos azuis afiados, completamente focados, como se pretendessem ler sua mente e revelar seus segredos. Por sorte, isso seria impossível. – Qual é o nome deles, Penny? Eu tenho o direito de saber o nome dos meus filhos. Ela estava detestando tudo aquilo. Era como se estivesse entregando seus filhos a um pai que, na verdade, não os queria.

Mas não poderia ignorar o pedido de Colt. Agora que ele sabia da existência dos gêmeos, de que serviria tentar proteger seu anonimato? – Tudo bem. O nome do seu filho é Reid e da sua filha Riley – disse ela. Ele engoliu em seco, respirou fundo, depois repetiu: – Reid e Riley do quê? Ela entendeu exatamente o que ele perguntava. – O sobrenome deles é Oaks. Ele abriu um sorriso amarelo e Penny percebeu que Colt contava até dez. Lentamente. – Isso vai mudar. Ela ficou em pânico, morta de raiva. – Você acha que pode chegar aqui e mudar o nome deles? Não. Você não pode entrar na minha vida e tentar decidir o que é melhor para os meus filhos. – Por que não? – ele perguntou, com o mesmo tom gélido. – Você tomou essa decisão por mim há dois anos. – Colt... – Você incluiu meu nome na certidão de nascimento deles? – Claro que sim – ela respondeu, pois os seus filhos tinham o direito de saber quem era o seu pai. E ela um dia lhes contaria toda a verdade... um dia. – Pelo menos isso – ele murmurou. – Eu vou pedir aos meus advogados que cuidem dessa mudança de sobrenomes. – O quê? – Ela tentou erguer o corpo na cama, mas a dor era forte. Sem ar, caiu sobre os travesseiros. Ele surgiu ao seu lado. – Está tudo bem? – ele perguntou. – Você precisa de uma enfermeira? – Eu estou bem – ela respondeu. – E não, eu não preciso de uma enfermeira. – Ela precisava era de um bom analgésico... e de privacidade, pois queria chorar. Além de uma boa taça de vinho. – O que eu preciso é que você vá embora. – Isso não vai acontecer – ele retrucou. Ela fechou os olhos e murmurou: – Eu vou matar o Robert... – É... Acho que alguém finalmente foi honesto comigo. Isso é um crime... Ela ergueu os olhos. Ele a estudava com se analisasse um inseto em um microscópio. Droga, por que ele não engordou nesses dois anos? Por que não perdeu os cabelos? Por que continuava sendo aquele homem lindo de sempre? E quem diria que ela teria aquela conversa difícil presa em uma cama de hospital? Usando uma camisola ridícula... sentindo dores, com fome, pois a comida do hospital era horrível... e sabe Deus como estaria seu cabelo! Meu Deus, Penny! Como você pode se preocupar com sua aparência neste momento? É complicado não se preocupar com isso, ela disse a si mesma. Especialmente com Colton King de pé ao seu lado, ainda mais lindo do que há dois anos. Ele a deixava sem fôlego. – Quando você vai sair daqui? – ele perguntou, arrancando-a dos seus pensamentos. – Amanhã, provavelmente – ela respondeu, e a verdade é que estava morta de pressa. Sim, ela continuava sentindo dores, mas odiava estar no hospital. Ela sentia falta dos seus filhos. Além do mais, Penny não queria continuar incomodando Robert e Maria. Eles tinham muito o que fazer, e se casariam em poucas semanas. Sabendo de tudo isso, ela deveria ter imaginado que Robert procuraria Colt. Que o seu irmão, imaginando fazer a coisa certa, procuraria o pai dos seus sobrinhos e lhe contaria a verdade. – Tudo bem – disse ele. – Vamos continuar esta conversa quando você estiver em casa. – Não. Nada disso. Esta conversa já chegou ao fim, Colt. – De jeito nenhum – ele retrucou, encarando-a firme. – Você tem muito o que me explicar. – Eu não te devo nada – disse ela, mas suas palavras pareceram vazias aos seus próprios ouvidos. Ela manteve um enorme segredo, e o fizera de maneira deliberada. Ela sabia que qualquer pessoa que não conhecesse detalhes sobre o relacionamento deles dois lhe chamaria dos piores nomes. Mas ninguém conhecia suas razões. Ela não contara tudo a Robert. Penny tinha seus motivos, e eram motivos muito sólidos. Por conta desses motivos ela nunca se arrependeu de nada do que fez. E continuava sem se arrepender, mesmo encarando aqueles frios olhos azuis à sua frente. Ele estava raivoso e tinha motivo para estar. Mas ela também tinha motivos para querer oferecer o melhor aos seus filhos. E não abriria mão de nada. – Você está enganada, Penny – disse ele, em tom suave, até mesmo gentil, um tom que não refletia a fúria que crescia no interior do seu corpo. Uma enfermeira entrou no quarto, e logo disse: – Sinto muito, mas o senhor precisa esperar do lado de fora. Eu vou examinar a senhora Oaks. Ele fez que sim e disse: – Tudo bem. Amanhã eu volto... para te buscar. Ela entrou em pânico. – Não precisa. Robert já combinou de me buscar. – Nós não precisamos da ajuda do Robert. Eu estarei aqui logo cedo. – Ah... – disse a enfermeira –, ela só deverá receber alta no início da tarde. Colt nem prestou atenção. – Nos vemos amanhã. E saiu do quarto sem olhar para trás. Penny o observou indo embora e continuou olhando para a porta, mesmo quando ele já tinha ido embora. – Nossa – disse a enfermeira. – Esse é o seu marido? – Não – respondeu Penny. – Ele... – O que ela diria? Era um amigo? Um inimigo? O pai dos seus filhos? Um fantasma do passado? Sem saber o que dizer, disse apenas: – Ele é o meu ex. A enfermeira suspirou. – Nossa, eu não acredito que você deixou esse homem escapar. Na verdade, Penny não teve escolha. Ainda assim, para evitar mais conversa, ela fechou os olhos e deixou que a enfermeira continuasse o seu trabalho. Mas a sua mente não parava de girar. Ela não parava de pensar no olhar frio e cortante de Colt. Um olhar furioso que fez Penny rezar para que o dia seguinte não chegasse nunca. CAPÍTULO 2 ELE NÃO foi ver os gêmeos. Ainda não estava preparado. E não queria que seus filhos ficassem com a primeira impressão de um pai furioso. Portanto, ele foi à praia. Precisava queimar um pouco da raiva que o consumia. Mas as ondas calmas de Laguna Beach não seriam suficientes para isso. Ele precisava de uma boa dose de perigo. Uma dose suficiente para que sua adrenalina alcançasse níveis inimagináveis. Em Newport Beach, onde as maiores correntes tomavam conta da península Balboa, as ondas atingiam alturas consideráveis. Por conta de algumas "melhorias" feitas ao Porto de Newport, na década de trinta, aquelas águas eram campeãs de ferocidade. Uma onda se juntava à seguinte, e assim sucessivamente, em formações únicas em toda a costa. O melhor de tudo é que não havia duas ondas iguais por ali, e parecia impossível prever em que ponto elas quebrariam. Os surfistas inexperientes evitavam aquela área... ou pelo menos os que conseguiam manter um pouco de sanidade mental. Mas Colt, além de um punhado de surfistas experientes, estava lá naquele dia frio de outono... O perigo só aumentava a diversão. Naquele dia a diversão não fazia parte do programa. Ele pegou onda atrás de onda, subindo às suas cristas, sendo atirado ao mar e voltando na onda seguinte. A sua mente estava muito distraída para pensar em outra coisa. A imagem de Penny não saía de

            
            

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