Eu sabia quem era o responsável por isso. Fernando Gonçalves, nosso inimigo declarado. Ele quer nos derrubar a todo custo para poder ter a cidade toda para si.
Olhei em meio ao caos. Estava tarde da noite. Só haviam as luzes dos postes acesas. Busquei por meu irmão, que estava escondido atrás de um dos veículos, atirando contra os inimigos, assim como os nossos homens, que tentavam nos proteger.
Eu, com uma pistola na mão, me preparava para correr para o carro da frente, buscando saber como estava o meu pai. A porta, do lado em que ele estava sentado, estava aberta, e isso era um alerta, pois ele não saiu, e por mais que os carros sejam a prova de bala, poderia ter o atingido por conta disso. Então, acreditando que o melhor era seguir pelo lado aposto, eu corri até o carro e constatei o pior.
- PAI!!! - Olhei para seu peito e o vi todo ensanguentado. Um pânico passou pelas minhas veias e o som da sua voz me trouxe de volta a realidade.
- Logan, saia daqui. - Ordenou, quase sem forças. - Saia!
Olhei para os lados e para trás, e vi Jason, que se protegia atrás do carro, enquanto atirava para um inimigo não muito distante dali.
- Vamos - Ignorei as suas ordens. Por sorte, ele já estava no banco do carro. Foi onde ele levou os tiros. Apenas o ajustei no banco do carona, para fechar a porta.
- Garoto idiota - Ele murmurou. - Me deixe e se salve.
- O senhor sabe que isso não vai acontecer.
- Então vai morrer.
- Pelo menos não fui um covarde traidor.
Apesar de ser quem sou, sou fiel a minha família e amigos. Nunca deixaria que um deles morressem em minha frente, sem que eu pudesse fazer algo para evitar.
Meu pai não era o melhor do mundo, mas tinha o meu sangue e eu não vou deixa-lo morrer na minha frente.
Por isso eu fechei a porta blindada, dei a volta no veículo e fui para o lado do motorista.
Antes de partir dali, olhei para o meu irmão, e ele pareceu estar confortável. Seja lá quem for, que está do outro lado do confronto, estava perdendo a força.
Liguei o motor e sair dali, disparado, para um lugar onde eu sabia que receberia ajuda.
Olhei pelo para-brisa e o vi, desacordado. Seu sangue se acumulava no banco. Dirigi o mais rápido que pude, pelas ruas de Nova York. Era noite.
No meio do caminho, encontrei alguns carros de polícia, que se deslocava para o local do confronto, e eu rezei para que Elijah estivesse com tudo sob controle, e que já tivesse saído de lá.
Confronto entre gangues aconteciam a todo o momento. Os postos policiais estavam fervorosos, e eu, como filho do chefe de um dos carteis de drogas mais ativos e perigosos da cidade, evitava tais conflitos, mas parece que nossos inimigos, esperando nos prejudicar, tentam a todo custo nos puxar para dentro do caos, alertando as autoridades. Como se eles já não estivessem na nossa cola.
***
Já fazia, no mínimo, três horas, desde que ele entrou no bloco cirúrgico, desacordado, e não tenho informação alguma.
Esse lugar era financiado pelo nosso grupo e meu pai era um velho amigo do chefe desse lugar, então, eles não fariam muitas perguntas sobre o ocorrido.
Meu nervosismo aumentava a cada segundo. Quando cheguei aqui, ele estava desacordado, perdeu muito sangue, e ao olhar para o meu corpo e roupas, conseguia ver os vestígios dessa noite, que para mim, foi uma tortura.
O hospital era pequeno, comparado aos de prestígios, na cidade de NY. Contudo, a descrição era o que nós esperávamos, e por isso era o melhor lugar para se procurar, caso você não tenha uma boa justificativa, legal, ao entrar para uma consulta ou emergência.
Eu estava nervoso, andando de um lado a outro, pensando no que aconteceu.
Lembro-me, ao fechar os olhos, do momento em que fomos abordados. Eles foram certeiros. Dois carros na frente e um atrás.
O primeiro veículo, da nossa frota, foi alvejado, ele tombou e em seguida foram para o veículo dois, onde estavam meu pai e meu irmão.
Os desgraçados sabiam o que estavam fazendo. Parecia saber até, quem estava em cada carro. Não descarto a possibilidade de haver um traidor, próximo a nós, e se fosse o caso, eu o mataria.
- Vai acabar fazendo um buraco no chão, se continuar assim.
Olho para o meu irmão, que não está tão preocupado quanto eu, pensando em agarrar sua garganta e enforca-lo.
A sala de espera não era muito grande. Haviam outras pessoas ali, mas ninguém nos conhecia. Elijah era o mais novo, o mais rebelde e brincalhão. Diferente de mim, que fui criado para substituir nosso pai, ele não recebeu a atenção devida do nosso pai, e por isso se sente excluído.
Os dois vivem em um embate, e eu esperava que pelo menos agora, com ele nesse estado, Elijah se preocupasse com o pai.
- Me admira está tão calmo.
- Não é que eu não esteja preocupado - Justificou. - Eu só não vou gastar energia como você.
Cerrei os olhos, sem paciência para ouvir suas bobagens.
- Saiba que, se o pai morrer, serei eu quem irá assumir o seu lugar e a primeira coisa que vou fazer, e acabar com você.
Debochado, ele riu, se encostando no sofá.
- Acho engraçado a sua ameaça, sendo que você é a pessoa que mais zela pela família e que faria o mesmo por mim.
Revirou os olhos, sabendo que é verdade. Contudo, ele estava precisando de uma lição.
- Já sobre mim, você não moveria nem uma palha. - Reclamo. Olho no relógio e vejo que já se passou muito tempo.
- Isso é uma mentira. - Protestou. - Sabe que amo você, irmão. E apesar do papai ser duro e um pouco distante de mim, também me sinto mal e não quero o perder.
- Não é o que está parecendo.
Voltei a prestar atenção no ambiente. Enfermeiras passavam, outros médicos, e nada de notícias. Eu estava a ponto de invadir a ala cirúrgica.
- Você é um idiota - Jason dispara. - Sabe que sou leal a família e que se fosse o caso, eu mesmo trocaria de lugar com você.
- Então porquê desse desprezo pelo papai?
Bem, não era como se eu não soubesse. Jason e o nosso pai nunca foram respeitosos, um com o outro.
Ele sempre foi rebelde. Nada que nosso pai gostasse. Por isso ele era tão rigoroso com Jason, esperando que ele tomasse jeito.
- Logan, respeito a posição dele, como nosso líder, já como pai...
- Não dá para esquecer disso, pelo menos um segundo?
Olho o meu irmão, que colocou uma cara de poucos amigos, encostando-se a cadeira.
- Você é o preferido. Ele sempre deixou claro. Mas comigo, as coisas sempre foram diferentes. - O rancor que meu irmão tem pelo nosso pai, é sem precedência. - Mas não vamos entrar nesse assunto.
Quando vejo o médico, corro até ele, em busca de informação.
- Então, ele está bem? - Aquele homem já salvou nossas vidas, algumas vezes. Era um grande amigo do meu pai e era o único que podíamos recorrer, naquela situação.
- Logan, seu pai chegou aqui com muitos poli traumas e as balas, bem, eu tirei... - Vi que ele estava relutante, por isso me aproximei ainda mais. - Menos uma.
- Como assim? - O encarei, perplexo.
Ele respirou fundo e respondeu:
- Há uma bala alojada no peito - Arregalei os olhos. Meus sentimentos ficaram alerta, esperando pelo pior. - Atingiu uma artéria. Fiz o que pude e estava em meu alcance, mas...
- Está dizendo que ele vai morrer?
A tenção estava no ar. Até Jason se aproximou de nós.
- Não sou cardiologista. Fiz o que pude, para parar a hemorragia, contudo, não posso ir além, sem arriscar a vida dele.
- Então é isso? - Me alterei, furioso. Minha voz ecoou pela sala, fazendo com que todos que estavam ali, que não eram muitos, prestassem atenção em nós. - Está desistindo dele?
- Logan, estou dizendo que precisamos de um cardiologista. - Pontuou. - Se eu abrir o peito do seu pai, ele vai acabar morrendo.