Capítulo 2 FRUSTRAÇÃO

Não consegui tirar aquela mulher da cabeça. Ela me desarmou de uma forma que ninguém havia feito antes. Eu era Tristan, o príncipe herdeiro, e, naquele momento, estava sendo tratado como um qualquer. Passei o resto da noite na taverna, bebendo com os outros, fingindo que a presença dela não me incomodava. Mas cada vez que ouvia uma risada dela, um murmúrio ou via seu olhar arrogante se cruzar com o meu, eu sentia uma raiva crescendo dentro de mim.

Na manhã seguinte, acordei com a cabeça latejando, mas a ideia de que ela havia me menosprezado não me deixava em paz.

Não era só orgulho. Era algo mais profundo. Eu precisava vê-la novamente, precisava quebrar aquela muralha de desprezo que ela ergueu contra mim.

Esperei o anoitecer, me disfarcei mais uma vez e voltei para a cidade baixa.

Não foi difícil encontrá-la. Como da última vez, ela estava lá, encostada na mesma parede de pedra, cercada por outras mulheres e homens de moral duvidosa.

Assim que ela me viu, vi o mesmo sorriso de desdém surgir em seus lábios. Aquilo me irritou.

Me aproximei com passos decididos, e, quando cheguei perto o suficiente, sem rodeios, perguntei:

- Quanto você quer?

Ela levantou a sobrancelha, fingindo surpresa, e deu um meio sorriso, sem se mover da posição relaxada em que estava.

- Quanto eu quero?

Repetiu, como se estivesse achando graça.

- Quer mesmo saber?

- Quero.

Respondi, tentando manter a calma.

- Quanto para você trepar comigo esta noite?

Ela soltou uma risada baixa, balançando a cabeça, como se a minha oferta fosse a coisa mais patética que ela já havia ouvido.

- Você acha que pode me comprar, alteza?

Seus olhos brilharam de malícia.

- Acha que, só porque carrega uma bolsa cheia de ouro, eu vou correr para a sua cama como as outras?

- Todo mundo tem um preço. Rebati, mais ríspido do que planejava.

- Me diga o seu, e acabamos com isso.

Ela deu um passo à frente, ficando perto o suficiente para que eu pudesse sentir o calor de sua pele, mas, em vez de me tocar ou insinuar qualquer coisa, ela me olhou diretamente nos olhos, com o rosto sério.

- Meu preço?

Repetiu, com a voz mais baixa, quase um sussurro.

- Você realmente quer saber o quanto custa para uma mulher como eu ir para a cama com um homem como você?

Assenti, irritado pela forma como ela arrastava a conversa.

Ela suspirou, fingindo pensar por um momento, antes de continuar:

- Meu preço, alteza, é algo que você nunca vai conseguir pagar. Não porque não tenha ouro, claro, mas porque você simplesmente não vale o suficiente.

Ela riu de leve.

- Eu vejo homens como você todos os dias. Homens que acham que podem comprar qualquer coisa com moedas. Mas a verdade, querido príncipe, é que o seu dinheiro não me interessa. Nem o seu título.

Eu me senti ferver por dentro. Como ela ousava falar assim comigo? Eu poderia tê-la mandado prender, expulsar da cidade, acabar com sua vida em um piscar de olhos. E ainda assim, ali estava ela, me desafiando como se fosse a rainha de Eldoria.

Respirei fundo, tentando manter o controle.

- Não me interessa o que você acha.

Retruquei, a voz mais áspera do que pretendia.

- O ouro fala mais alto do que suas palavras vazias. Todos têm um preço. Até você.

Ela inclinou a cabeça, os olhos cheios de ironia.

- Ouro?

Ela riu de novo, dessa vez mais alto, atraindo a atenção de algumas das outras mulheres.

- Sabe o que acho engraçado, alteza? Homens como você acham que, com moedas de ouro, podem comprar qualquer coisa. Mas o que você não entende é que você está tão vazio por dentro que nem todo o ouro de Eldoria pode preencher. E eu?

Ela me olhou de cima a baixo, como se estivesse avaliando o quão ridículo eu parecia.

- Eu não sou como as outras. Eu não sou uma mercadoria na sua prateleira.

Aquilo foi o golpe final. Senti meu sangue fervendo, a raiva tomando conta de mim. Ela, uma meretriz, ousava me desafiar, me desrespeitar daquela forma! Eu, Tristan, herdeiro de um trono! Pude sentir minhas mãos cerrando, os dedos doendo de tanto que apertava os punhos.

- E o que você é então?

Perguntei entre os dentes.

- Uma heroína? Uma mulher nobre que caiu em desgraça? Não me venha com essas histórias de quem tenta se fazer de especial.

Ela não se abalou. Nem um pouco.

- Eu sou o que sou.

Respondeu ela calmamente.

- E você... você é apenas um garoto perdido, tentando provar algo que nem sabe o que é.

- Ela fez uma pausa, me encarando com uma intensidade que me desarmou por um momento.

- Você não pode me comprar, Tristan. E quanto mais tentar, mais patético vai parecer.

Eu não soube o que responder. Minhas palavras morreram na garganta, consumidas pela fúria e frustração. Ela me deixou ali, de novo, a raiva pulsando em minhas veias, enquanto se afastava lentamente, como se eu fosse um nada.

E pela segunda vez, fui derrotado por aquela mulher.

            
            

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