A Jornada do Último Guerreiro: O Destino de Castian
img img A Jornada do Último Guerreiro: O Destino de Castian img Capítulo 5 O Coração em Conflito
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Capítulo 6 A Calmaria Antes da Tempestade img
Capítulo 7 O Despertar img
Capítulo 8 Revelações Sob o Céu Escuro img
Capítulo 9 A Jornada Sob o Céu Rasgado img
Capítulo 10 O Sussurro na Escuridão img
Capítulo 11 O Predestinado img
Capítulo 12 O predestinado parte 2 img
Capítulo 13 O Reflexo img
Capítulo 14 Informações img
Capítulo 15 O Pacto img
Capítulo 16 O Retorno à Vila img
Capítulo 17 O Fardo Revelado img
Capítulo 18 O Presságio Sombrio img
Capítulo 19 O Olhar nas Sombras img
Capítulo 20 Sonhos de Ruína img
Capítulo 21 Silêncios e Sombras img
Capítulo 22 Sombras na Floresta img
Capítulo 23 O Legado da Pérola Celestial img
Capítulo 24 Sombras da Insegurança img
Capítulo 25 O Cerco das Sombras img
Capítulo 26 O Ultimato de Lorde Feng img
Capítulo 27 Dividido Entre Dois Mundos img
Capítulo 28 Um Confronto de Vontades img
Capítulo 29 A Lâmina na Escuridão img
Capítulo 30 Os Primeiros Movimentos img
Capítulo 31 O Aviso Final img
Capítulo 32 A Emboscada nas Sombras img
Capítulo 33 O Sacrifício de Cheng img
Capítulo 34 O Peso da Promessa img
Capítulo 35 A Sombra na Floresta img
Capítulo 36  Refúgio na Floresta img
Capítulo 37 A Caçada Incessante img
Capítulo 38 O Peso da Sobrevivência img
Capítulo 39 A Dança da Sobrevivência img
Capítulo 40 A Jornada do Ancião img
Capítulo 41 A Sabedoria do Mestre Xun img
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Capítulo 5 O Coração em Conflito

Os dias tinham se arrastado desde a última conversa de Castian com Shen, mas as palavras do velho viajante ainda ecoavam em sua mente, persistentes como o eco de um tambor distante. Cada história contada, cada menção aos horizontes longínquos, parecia ter deixado uma marca invisível, mas impossível de ignorar. Algo dentro de Castian estava diferente, como se a vida que ele conhecia já não pudesse mais conter o peso de seus pensamentos.

A pacata rotina de Liang prosseguia imutável. As manhãs no campo, as refeições em família, o sossego das noites eram como um ciclo contínuo e previsível. Para muitos, essa repetição trazia conforto, mas para Castian, começava a se parecer mais com uma prisão invisível.

Certa tarde, enquanto ajudava sua mãe, Mei, a colher vegetais para o jantar, ele sentiu o olhar dela pousado sobre si com mais intensidade que o normal. Era um olhar que conhecia bem. Aquele olhar afiado de mãe, capaz de penetrar a alma, como se enxergasse o que ele ainda mal entendia sobre si mesmo.

- Castian, precisamos conversar, - disse ela, interrompendo a colheita, a voz carregada de uma preocupação quase palpável.

O jovem suspirou, deixando de lado os vegetais que segurava. Ele sabia que esse momento chegaria. O nó que se formou em seu estômago anunciava o que estava por vir. Tentando parecer despreocupado, ele se virou para ela.

- O que foi, mãe? - perguntou, mesmo já sabendo a resposta.

Mei não respondeu imediatamente. Em vez disso, limpou as mãos no avental e se sentou no pequeno banco de madeira que ficava sob a sombra da árvore no quintal. Seus olhos se ergueram para o céu, onde o sol já começava a se pôr, tingindo o horizonte com cores suaves, laranjas e rosadas.

- Tenho percebido que você está diferente, mais distante. - Mei finalmente quebrou o silêncio, com uma calma que escondia o turbilhão de emoções. - Não é difícil imaginar o que tem ocupado sua mente. As histórias de Shen...

Ela suspirou, seus olhos cheios de uma preocupação que só uma mãe pode sentir.

- É o mesmo olhar que vi no seu pai quando ele ainda era jovem, antes de aceitar a vida tranquila que temos aqui em Liang. É o olhar de quem sonha com algo além.

Castian abaixou a cabeça, sem saber como responder de imediato. As palavras da mãe carregavam uma verdade que ele não conseguia mais ignorar. Algo dentro dele ansiava por mais, algo que não cabia no vilarejo, nas montanhas que cercavam Liang. Ele se sentou ao lado de sua mãe, sem coragem de encará-la diretamente.

- Mãe, - começou ele, hesitante, como se cada palavra precisasse ser escolhida com cuidado. - Eu sei que o mundo lá fora é perigoso. E sei que a vida aqui é segura, estável... - Ele pausou, buscando as palavras certas. - Mas eu não posso continuar ignorando o que sinto. Há algo dentro de mim que precisa saber o que existe além dessas montanhas.

Mei, que já havia ouvido essas palavras antes, fechou os olhos por um momento. Ela parecia estar tentando buscar as respostas certas, as que poderiam protegê-lo do que estava por vir.

- Castian, eu entendo seu desejo de explorar o desconhecido, - disse ela, a voz suave como uma brisa. - Mas a vida aqui, embora simples, é segura. Temos tudo o que precisamos. O mundo além das montanhas... ele não é como Shen o descreve em suas histórias. É um lugar cruel, onde o perigo espreita em cada sombra.

Ela segurou a mão de Castian, o calor do gesto transmitindo todo o amor que ela tinha por ele.

- Sonhar é bom, meu filho, mas há perigos em sonhar com o desconhecido. Nem sempre o que encontramos vale o que perdemos. Às vezes, ao buscar algo, acabamos perdendo mais do que poderíamos imaginar.

Castian sentiu o peso das palavras da mãe. Elas eram carregadas de sabedoria e experiência, mas algo dentro dele continuava inquieto. O desejo de partir, de ver o que havia além, queimava mais forte do que qualquer aviso. Quanto mais tentava se convencer a ficar, mais difícil parecia.

- Eu sei que o mundo lá fora é perigoso, mãe, - disse ele, com sinceridade. - Mas... eu não posso passar o resto da minha vida sem ao menos tentar. Eu sinto que meu destino está lá fora, em algum lugar. Se eu ficar aqui, sempre vou me perguntar o que poderia ter sido. Não posso ignorar isso.

Mei apertou os lábios, seus olhos se enchendo de uma tristeza resignada. Ela conhecia esse sentimento, o desejo de buscar algo maior. Sabia que, quando Castian tomava uma decisão, era difícil fazê-lo mudar de ideia.

- E se você for e não encontrar o que procura? - perguntou ela, a voz agora mais baixa. - E se você se perder ao buscar algo que talvez nem exista? Não poderemos estar lá para ajudá-lo, Castian.

As palavras dela atingiram um ponto sensível. Castian sabia que era uma possibilidade real. O mundo lá fora era vasto, implacável. Mas o medo de nunca tentar parecia maior que o medo de falhar.

- Eu sei que existe esse risco, mãe, - admitiu ele. - Mas o medo de falhar não pode ser maior que a vontade de descobrir. E se eu não tentar... sempre vou me perguntar o que poderia ter sido. - Ele apertou a mão da mãe, buscando reconfortá-la. - Eu amo vocês, amo nossa casa, mas se eu ficar... eu estaria ignorando quem eu realmente sou.

Mei ouviu as palavras de seu filho e, mesmo sem querer, sentiu a verdade nelas. Ela sempre quis proteger Castian das dores do mundo, mas sabia que ele não era mais um menino. Ele tinha o direito de traçar seu próprio caminho, por mais perigoso que fosse. Suspirando profundamente, ela puxou-o para um abraço apertado, como se quisesse mantê-lo seguro por mais um instante.

- Eu sempre estarei aqui para você, - disse ela, com lágrimas nos olhos. - Não importa o que escolha, sempre terá um lar em Liang.

Castian fechou os olhos, sentindo o calor e o amor no abraço de sua mãe. Ele sabia que a decisão que estava tomando não seria fácil, mas também sabia que não estava sozinho. Mesmo que sua jornada o levasse para longe, seu coração sempre teria raízes profundas em Liang.

***

Nos dias que se seguiram, Castian continuou ajudando seu pai nos campos, mas sua mente estava distante. O vilarejo, que antes lhe trazia tanto consolo, agora parecia uma prisão, uma barreira entre ele e o mundo além. Era como se ele já não pertencesse àquele lugar, como se algo o chamasse de longe.

Certa tarde, enquanto trabalhava sozinho, ouviu o som de passos atrás de si. Era Shen, o velho viajante, que se aproximou com um sorriso enigmático, como se soubesse exatamente o que passava pela mente de Castian.

- Está inquieto, não está? - disse Shen, encostando-se em uma árvore. - A curiosidade é um fardo tão grande quanto a responsabilidade.

Castian sorriu, já sabendo que Shen falava com a experiência de quem havia vivido muitas aventuras.

- Não consigo parar de pensar no que você disse, Shen. As terras distantes, os guerreiros, as aventuras... - Castian balançou a cabeça, confuso. - Minha mãe quer que eu fique. Diz que o desconhecido é perigoso, e eu sei que ela está certa. Mas algo dentro de mim me diz que preciso ir.

Shen observou o jovem por um momento, seus olhos cansados, mas ainda cheios de sabedoria.

- O desconhecido é perigoso, sim, - disse ele calmamente. - Mas também é onde encontramos as partes mais profundas de nós mesmos. Às vezes, para descobrir quem somos de verdade, precisamos nos perder.

Castian absorveu essas palavras, sentindo que Shen compreendia exatamente o que ele estava passando. Ele não queria apenas aventuras. Ele queria se encontrar.

- Eu vou partir, Shen, - disse Castian, agora com uma convicção renovada. - Não sei o que vou encontrar, mas sei que preciso ir.

Shen assentiu, seus olhos cansados brilhando com uma pitada de orgulho.

- Então prepare-se, rapaz. Sua jornada está apenas começando.

E assim, no coração de Castian, a decisão havia sido tomada. O futuro, incerto e perigoso, agora o aguardava além das montanhas que cercavam Liang.

                         

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