Capítulo 2 Entre Acasos e Destino

De repente, o sinal abriu. Eu ainda estava tentando processar tudo quando ouvi uma voz que atravessou o barulho da cidade e o som dos carros ao redor.

Flashback

- Amiga, cuidado! - gritou uma garota.

O grito me fez olhar para frente, justo a tempo de ver uma garota atravessando apressada. Quando o táxi freou bruscamente, fui lançado para a frente e, sem pensar, saí do carro em um impulso. Corri para ela e, antes de perceber o que estava fazendo, meus braços estavam ao seu redor.

Era ela, a garota do cabelo azul. E naquele instante, eu soube, com a mesma certeza de que o céu é azul: eu estava apaixonado por ela.

- Você está machucada? - perguntei, tentando disfarçar a preocupação na minha voz.

Ela olhou para mim, surpresa, mas logo fez uma careta, olhando para o joelho ralado.

- Não... - respondeu, dando um meio sorriso. - Só ralei o joelho.

- Tem que tomar mais cuidado na rua, sabia? - eu disse, ajudando-a a se levantar.

Ela riu, como se não estivesse nem um pouco abalada pelo que tinha acabado de acontecer.

- Pode deixar - falou, sorrindo, e emendou com um olhar agradecido. - Obrigada.

- Disponha - respondi, tentando parecer calmo, mesmo com o coração disparado.

Uma amiga dela se aproximou, com os olhos arregalados.

- Amiga, você tá bem? - perguntou, parecendo genuinamente preocupada.

- Sim - respondeu Taty, olhando para mim e depois sorrindo para a amiga. - Graças ao... Qual é mesmo o seu nome?

- Carlos - eu disse, tentando não transparecer a estranha euforia.

Ela assentiu, dando um sorriso que parecia iluminar ainda mais o azul dos cabelos.

- Prazer, o meu é...

O som alto da buzina do táxi interrompeu a frase. Olhei para o motorista, que me encarava com impaciência.

- É meu táxi - falei, soltando uma risada curta. - E, mais uma vez, cuidado aí na rua.

Enquanto eu voltava para o carro, ouvi a amiga dela cochichando:

- Quem é ele? Não me lembro, mas acho que já vi ele em algum lugar...

- Não sei - Taty respondeu, mas senti seus olhos me acompanhando enquanto eu entrava no táxi. - Mas vou descobrir, pode ter certeza.

Flashback off

O táxi seguiu seu caminho, e meu coração ainda estava acelerado. O resto do dia passou normalmente: cheguei em casa e fui recebido com uma bronca da minha mãe, que estava impaciente, esperando para almoçar.

Mas, no fundo, nada parecia mais normal. A verdade é que, naquele instante, no meio da rua, minha vida tinha mudado.

Carlos chega em casa e é sendo questionado pelos pais

Carlos empurrou a porta da cozinha, já sentindo o peso dos olhares de seus pais sobre ele. Clara, sua mãe, apoiava as mãos na mesa, enquanto seu pai, Clayton, terminava de servir-se de mais um pedaço de carne. Ela olhou para o relógio na parede e depois voltou os olhos para Carlos.

- Olha a hora, mocinho - disse Clara, com uma expressão séria.

Carlos esboçou um sorriso envergonhado, caminhou até a pia, lavou as mãos e se sentou à mesa ao lado do pai.

- Desculpa pelo atraso, mãe, mas... é que hoje foi um dia atípico.

Clara cruzou os braços, sem perder o tom inquisitivo.

- Essa é a sua desculpa?

Carlos passou a mão pelo cabelo, ainda um pouco sem jeito.

- A tipo... aconteceram alguns imprevistos no caminho...

- Vai, Clara, não pega tanto no pé do garoto, - disse Clayton, tentando amenizar o clima. Ele olhou para Carlos, curioso. - Conta pra gente, filho, o que houve de tão especial?

Carlos respirou fundo, já pensando no melhor jeito de explicar a sucessão de acontecimentos.

- A tipo... - ele começou, hesitante, enquanto as lembranças do dia surgiam vívidas na mente.

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Carlos narrando

Carlos inspirou, como se buscasse o tom certo, e começou a descrever aquele sábado, um dos dias mais memoráveis de sua vida.

- Então foi assim... o melhor sábado que já tive, mesmo com cada coisa dando errado, - ele começou, com um sorriso contido. - A moça do café demorou a me entregar o troco, e isso acabou me fazendo discutir com Roge, que parecia ter acordado de mau humor. A coisa saiu do controle e, de repente, lá estava o Muniz, nosso 'pai do bairro', chegando pra apartar a briga.

Carlos deu uma risada leve, lembrando-se de cada detalhe.

- Mas, é claro, o Muniz não me deixou ir embora tão fácil. Começamos a conversar, e ele logo implicou com o meu cabelo, dizendo que eu parecia um 'arbusto ambulante'. E assim, sem escapatória, lá fui eu pro salão, cortar o cabelo. - Ele suspirou, com um toque de satisfação na voz ao recordar. - Foi por causa disso que acabei perdendo mais tempo do que planejava, e precisei pegar um táxi pra chegar rápido em casa.

Carlos deixou uma breve pausa, sentindo o peso do que viria a seguir.

- Mas... eu tinha que pegar aquele táxi. Porque se eu não tivesse feito isso, nunca teria parado naquele sinal vermelho, bem naquela hora, - ele disse, com uma ênfase quase reverente. - E, por causa desse atraso, eu vi a garota do cabelo azul. - Ele sorriu, e parecia que tudo dentro dele sorria junto com aquela lembrança. - Foi ali, exatamente ali, que eu me apaixonei por ela. De imediato, sem qualquer lógica. Apenas aconteceu."

Carlos ajustou o tom, tentando explicar o que sentia.

- Era como se fosse mais forte que eu. Como se... como se o destino, o cosmos, ou talvez até o cupido tivessem me guiado até ali. Querendo, de todas as formas, que nossos caminhos se cruzassem. - Ele deu de ombros, resignado, mas com um brilho nos olhos. - Não sei se foi destino, cosmos, ou até o cupido que armou cada detalhe desse dia. Só sei que funcionou. E naquela tarde, eu conheci a mulher da minha vida, a garota do cabelo azul.

Ele sorriu, como se estivesse finalizando a história, mas com um ar de mistério, sem revelar a quem ele contava.

            
            

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