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Acordei naquele domingo com uma pergunta martelando na minha cabeça: Por que eu agi daquele jeito? Sair do táxi feito um louco, correndo para socorrer uma desconhecida... Isso não era nada parecido comigo. Mas, ainda mais estranho, eu não conseguia tirar aquela garota da cabeça. Aquela visão dela, os cabelos azuis, o sorriso, ficou fixo na minha mente, como se algo dentro de mim pedisse para eu me lembrar.
Fiz minhas higienes matinais, tomei um banho, e desci para tomar o café. Encontrei o bilhete que meus pais deixaram em cima da mesa da cozinha:
> Filho, fomos à igreja e depois vamos a um churrasco. Venha quando acordar, estaremos esperando por você! >
Eu li aquilo e pensei: Churrasco com parentes num domingo? Passo. Preferi ficar em casa e maratonar Riverdale, que já estava há um bom tempo na minha lista.
Liguei a TV, abri o app da Netflix, e selecionei a série. Logo estava imerso na trama, assistindo três ou quatro episódios seguidos, até que, em algum momento, acabei pegando no sono. Foi um descanso bem-vindo, até que fui acordado por batidas na porta da frente, que ecoaram pela casa silenciosa.
Eu me levantei, ainda sonolento e de mau humor. Domingo, descanso merecido...
- Quem quer estragar meu sono a essa hora? - Caminhei em direção à porta, meio zonzo, e quando a abri...
Ali estava ela, de pé, com um sorriso leve nos lábios, e era o sorriso mais lindo que eu já tinha visto. A garota do cabelo azul. Por um instante, fiquei sem palavras, só encarando aquele sorriso que parecia iluminar o dia.
- Oi...- eu disse, abobalhado, sem saber bem o que fazer ou o que dizer. Minha voz saiu quase num sussurro, ainda incrédulo com a cena.
Ela deu uma risadinha suave, e seus olhos brilharam como se ela achasse graça da minha reação.
- Oi, - respondeu, inclinando um pouco a cabeça. - Ontem, nem consegui me apresentar direito... e acho que também não te agradeci como devia.
Ela continuava sorrindo, e eu sentia meu coração acelerar, algo que eu não conseguia controlar. Me peguei tentando parecer mais confiante, mas sabia que ainda parecia um pouco abobalhado.
- Ah... n-não foi nada... - respondi, tentando soar tranquilo, mas eu sabia que não estava enganando ninguém.
Ela soltou um risinho e balançou a cabeça.
- Eu quis dizer que não foi pouca coisa... Você me ajudou, e acho que nem nos apresentamos direito. - Ela estendeu a mão, e eu olhei para ela, surpreso.
- Taty. E você é...?
Eu segurei sua mão e sorri, me recompondo o melhor que pude. "
- Carlos... quer dizer, me chamam de Carlos.
Ela riu de novo.
- Bom te conhecer, Carlos.
Ela ainda segurava minha mão, e por um momento o tempo pareceu desacelerar. Eu me peguei pensando em como era estranho e, ao mesmo tempo, incrível aquele encontro.
- Então... você mora aqui perto? - perguntei, sem muita ideia do que dizer, mas querendo que ela ficasse mais um pouco.
- Sim, não muito longe. Eu... ah, bom, eu perguntei sobre você ontem, na verdade. Acho que quem quer encontra, não é? - Ela riu, soltando minha mão devagar, mas ainda olhando diretamente para mim.
A pessoa com quem Carlos conversava riu, como quem recorda algo precioso, e então comentou:
- Ela me contou sobre isso uma vez...
As lembranças vieram à tona na mente dela, como flashes nítidos de uma história que ele já conhecia tão bem.
Flashback On
Taty começava a contar, a voz suave e leve:
- Engraçado, sabe? Eu tenho uma dor no joelho que nunca passou. - Ela soltava um risinho. - Mas, pensando bem, o que causou essa dor mudou minha vida de um jeito tão bom que até parece um bom preço pra se pagar. Se não fosse por esse acidente, a minha vida talvez nunca tivesse sido tão feliz...
Ela recostava-se, o olhar perdido nas lembranças, e continuava:
- Tudo começou em um sábado qualquer. Eu estava saindo com a Sara... se não me engano, a gente ia ao shopping.
O flashback a transportava diretamente para aquele dia. O sol brilhava lá fora, e o céu estava de um azul perfeito, uma leve brisa bagunçava os fios do cabelo dela. Taty lembrava de si mesma, distraída, com os dedos passando freneticamente pela tela do celular, deslizando entre mensagens e fotos.
A rua estava movimentada, as pessoas andavam apressadas ao redor, os sons de carros, conversas e risadas misturavam-se em uma sinfonia urbana. Taty, alheia ao mundo ao redor, mexia no celular, completamente absorvida. Sara, ao seu lado, continuava andando, uma amiga atenta e sempre disposta a acompanhar suas distrações.
- O sinal estava vermelho, então... - Ela fez uma pausa breve ao recordar o momento exato. -
eu estava tranquila, achando que ainda tinha um tempinho antes de atravessar.
A respiração dela parecia ficar um pouco mais tensa ao contar, como se revivesse o segundo exato em que as coisas mudaram.
- Eu nem percebi que o sinal tinha aberto de novo, - continuou Taty, ajeitando-se, como se ainda pudesse sentir a adrenalina daquele instante. - Estava tão distraída com o celular que nem reparei nos carros que começavam a se mover.
Foi então que eu ouvi a voz da Sara - clara, alta e carregada de urgência, cortando o ar de repente:
- Amiga, não!
Taty se lembrou de levantar os olhos, o mundo parecendo parar por um instante. O som de um motor ressoava cada vez mais perto, e, em um segundo, seus olhos se arregalaram. Sara, do lado dela, se movia, a mão estendida como se tentasse protegê-la.
- Olha o carro! - gritou Sara, com o rosto marcado pelo pânico.
Eu não vi nada. De repente, tudo ficou escuro e, quando abri os olhos de novo, estava nos braços de um garoto... um garoto muito lindo.
Ela sorri, relembrando o momento, como se ainda sentisse o impacto daquela primeira visão.
Nunca o tinha visto antes daquele dia, mas lembro dele me olhando com uma preocupação tão genuína. Ele sorriu um pouco hesitante, os olhos me analisando com cuidado, e perguntou com uma voz suave:
- Você se machucou? - a preocupação estampada em seu rosto tornava aquele sorriso ainda mais especial.
Eu estava tão encantada que, por um instante, fiquei paralisada. Aquele sorriso... Ele era tão lindo que me deixou completamente hipnotizada, a ponto de parecer que eu tinha desaprendido a falar. Era como se o mundo tivesse parado ali, enquanto eu só conseguia olhar pra ele, tentando processar tudo que tinha acontecido.
No fundo, ouvi a voz da Sara, que vinha se aproximando rápido:
- Amiga, você está bem? - ela perguntou, com a respiração ainda ofegante pela correria.
Eu ouvi a pergunta dela, mas devo confessar que a ignorei completamente. Taty solta uma risada suave, ainda surpresa com sua própria reação naquela situação.
Me virei para o garoto, tentando encontrar minha voz de novo.
- Eu estou bem - consegui dizer, sentindo minhas bochechas esquentarem enquanto ele me observava com aquele olhar gentil. - Só ralei o joelho, nada grave.
Ele assentiu, ainda segurando meu braço para me ajudar a ficar de pé. A sensação da mão dele em meu braço parecia ainda mais real agora que me lembro de cada detalhe. Com cuidado, ele me puxou pra cima e, naquele instante, eu me perdi ainda mais naquele sorriso. Ele era tão natural, tão despretensioso, como se ele estivesse realmente feliz só por poder me ajudar.
Assim que fiquei de pé, ele deu um passo pra trás, mas seus olhos ainda não desviaram dos meus.
- Tem que tomar mais cuidado na rua - disse ele, com um sorriso, e eu não pude evitar sorrir de volta, como se estivesse completamente enfeitiçada.
A cena parecia congelar enquanto nos olhávamos, com um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra. Aquele foi o momento em que o mundo ao nosso redor ficou em segundo plano, e tudo o que importava era o sorriso dele e o jeito que ele me olhava, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Flashback Off