Capítulo 4 Sam e Dom

- Tem algum plano para o futuro? – Perguntei a Dom.

- Viver? – Ele debochou, abrindo outra cerveja e bebendo no gargalo.

- Que tal passar um tempo em Avalon e viver de verdade? – Sugeri.

- Está supondo que não "vivo"?

- Claro que vive, meu velho amigo! Tanto quanto eu... – Gargalhei.

- Como assim?

- Quem nos olha acha que estamos vivos, mas por dentro estamos mortos... E já faz um tempo. – Lamentei enquanto flagrava Satini olhando para Estevan, com um sorriso no rosto que demonstrava toda sua felicidade quando estava ao lado dele.

Por um momento nossos olhares se cruzaram e levantei minha cerveja, piscando e tentando um sorriso espontâneo e despretensioso. Recebi um sorriso de volta e logo Estevan virou a cabeça, me flagrando com os olhos em sua mulher. Fiz o mesmo movimento com a cerveja na direção dele, que sorriu e segundos depois voltou para a conversa que estava tendo com a esposa e os amigos.

- Dar em cima do marido dela é sacanagem. – Dom foi sarcástico.

Não consegui impedir o riso, que vinha fácil por conta da bebida:

- Sempre que os olhos dela caem sobre mim, mesmo eu sabendo que não significa nada, um pingo de esperança surge no meu coração.

- Sinceramente não quero beber demais e fazer um fiasco aqui, falando algo que eu possa me arrepender depois.

- Posso fazer uma pergunta? – Questionei, curioso.

- Se não for muito complexa, pode! – Ele me encarou.

- Por que casou com a irmã dela?

- Pergunta complexa! – Ele voltou a beber, fixando o olhar em outro ponto qualquer.

- Por que foge desta conversa?

- Não gosto de falar sobre a minha vida pessoal.

- Nos conhecemos há anos, porra! O suficiente para eu saber que ainda a ama.

- Até um cachorro da rua sabe disto.

- Obrigado pela parte que me toca. – fingi que estava ofendido – Talvez eu seja mesmo um cachorro de rua, já que nos últimos tempos só tenho comido cadelas.

Nos olhamos e começamos a gargalhar novamente. E claro que era o efeito do álcool.

- Eva era uma boa mulher. E sem defeitos. E talvez seja exatamente isto que me fez não conseguir amá-la.

- Será que temos problemas? Quem não gosta de mulheres perfeitas?

- Nós! Porque não somos perfeitos.

- Neste caso você! Eu sou... Um rei bonito, sexy, bom de cama, inteligente, divertido...

- Modesto! Esqueceu desta parte. Acho que a modéstia é sua melhor qualidade, "rei Samuel".

Suspirei:

- Sempre achei que casou com Eva para ficar ao lado de Katrina.

- Acho que no meu subconsciente sempre foi isto. Mas tentei gostar de Eva. Porém não sou o tipo de homem que daria certo com uma mulher convencional. Eva era perfeita... E me deu a filha mais imperfeita do mundo.

Eu ri:

- Isto deve fazer com que ame sua filha pra caralho, já que é viciado em imperfeição. – Foi minha vez de debochar.

Ele fez careta:

- Laura é muito parecida comigo. Porém não tem caráter.

- Uau! É difícil quem consegue admitir isto da própria filha.

- Não sou hipócrita. E confesso que parte do que minha filha se tornou foi por minha culpa. Fui um pai omisso. Me perdi em mim mesmo por muito tempo após a morte de Eva, me culpando por não tê-la amado.

- Para quem não gosta de falar da vida pessoal... Se saiu bem.

- Só contei meus segredos mais sórdidos a uma pessoa nesta vida...

- Katrina?

- Uma garota que conheci por aí, há alguns anos atrás.

- Dormiu com ela?

- Depois que recusei Katrina e acabei a perdendo, nunca mais deixei de dormir com uma mulher.

- Acha que se tivesse dormido com Katrina não a teria perdido para Magnus?

- Eu não sei... Mas não tenho dúvidas de que ela gostava de mim.

- Eu também não tenho dúvidas de que Satini gostava de mim... Até Estevan aparecer. Pelo menos ela me deu um beijo de despedida... E estava com ele – ri ao lembrar do nosso último beijo – Talvez esta seja minha única vingança contra Estevan... A qual ele jamais saberá.

- Kat me chamou de Magnus enquanto eu a tocava num banheiro. Então... – ele riu da própria desgraça – Acho que se saiu melhor que eu, Sam.

- E sobre aquela garota? Por que não deu certo?

- Adivinha? Ela também amava outro. E mais uma vez fui trocado. A rainha de Primavera também me deixou. E ela seria a única capaz de me fazer esquecer Kat.

- Ninguém mandou você não ser sexy como eu! – Era o auge do álcool no meu cérebro.

- Estou pensando seriamente em começar um movimento rebelde em Avalon para destroná-lo, Majestade!

- Poderia fazer isto em qualquer lugar, caro Dr. Domênico, menos em Avalon. Esqueceu que o rei daquele país já nasceu planejando destronar um rei e tomar o poder?

Dom suspirou:

- Acho que você é mais rebelde que eu, "rei Sam".

- Se não tem ideia do que vai fazer quando sair daqui, por que não passa um tempo comigo em Avalon? – Sugeri.

- Quer montar uma queda do seu próprio país, Samuel Beaumont?

- Na verdade só quero fazer o que prometi a minha mãe e não me tornar um rei fraco e omisso.

- Como assim?

- Prometi a minha mãe que assim que acabasse esta queda do rei de Alpemburg eu voltaria para casa e seria o rei que Avalon precisava.

- E você não é? O povo lhe ama. O que Emy quer mais?

- É difícil explicar.

Ele levantou os ombros:

- Se não tem intenção de me oferecer um cargo ou algo do tipo, posso pensar na ideia.

- Só quero não me sentir sozinho enquanto tento ser o rei que minha mãe quer.