A última Bruxa
img img A última Bruxa img Capítulo 4 Marcelo
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Capítulo 6 A casa img
Capítulo 7 O livro img
Capítulo 8 Rair img
Capítulo 9 Pronta img
Capítulo 10 Família Mavilor img
Capítulo 11 A mansão img
Capítulo 12 Legado img
Capítulo 13 O poder img
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Capítulo 4 Marcelo

O silêncio do porão ainda ecoava nos ouvidos de Sofia enquanto subia as escadas, a fita de vídeo apertada contra o peito. Romulo a seguia de perto, seus passos pesados e firmes, como se cada degrau fosse um lembrete do peso das lembranças que carregava. Ao chegar à sala, ela olhou para o velho aparelho de videocassete empoeirado no canto da sala. Era um resquício de outra época, algo que pertencia a um tempo que ela mal lembrava, mas que agora parecia mais real do que nunca. - Você tem certeza de que quer ver isso? - Romulo perguntou, a voz baixa, quase vacilante.

- Não há como voltar atrás depois. Sofia engoliu em seco. Cada fibra de seu ser gritava para que ela parasse, mas a necessidade de saber era mais forte. Ela assentiu, sem dizer uma palavra, e caminhou até o aparelho. Inseriu a fita, sentindo o coração bater tão forte que parecia ecoar no peito. A tela da velha televisão piscou, estática por alguns segundos, até que uma imagem começou a se formar. A gravação era granulada, como todas as fitas antigas, mas o cenário era inconfundível: a sala daquela mesma casa, anos antes. Marcelo estava sentado em uma cadeira, o olhar fixo na câmera. Ele parecia diferente, mais jovem, mas os olhos... havia algo nos olhos dele que fez Sofia estremecer. Algo frio. Algo calculista. - Você entende o que está prestes a fazer? - Uma voz fora do enquadramento perguntou. Sofia reconheceu imediatamente: era Romulo. Marcelo sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos. - Você acha que pode tirá-la de mim? - A voz dele era calma, mas havia uma ameaça velada ali. - Ana é minha. Sempre foi. E você... - Ele fez uma pausa, o sorriso desaparecendo. - Você é só uma sombra. A câmera balançou um pouco, como se Romulo tivesse se aproximado. - Não se trata de quem a tem, Marcelo. Trata-se do que você está se tornando. Você precisa parar. Marcelo riu, um som curto e sem humor. - Não há como voltar atrás. E você sabe disso. Sofia sentiu um arrepio subir pela espinha. Havia algo na voz do pai que parecia diferente, como se ele estivesse à beira de algo... perigoso. A imagem mudou. Agora mostrava um corredor, e a câmera tremia, como se alguém estivesse correndo. O som de passos ecoava, e então uma porta foi aberta com violência. Ana apareceu na tela, os olhos arregalados de medo. Ela segurava a mão de uma menina pequena. Sofia reconheceu a si mesma, com nove anos, os olhos cheios de lágrimas. - Ana! - A voz de Romulo chamou. - O que você está fazendo? Ana virou a cabeça, os olhos cheios de desespero. - Ele enlouqueceu, Romulo. Ele... ele sabe! O grito de Ana foi cortado por um estrondo. A câmera caiu, a imagem ficou embaçada. Tudo o que se ouvia agora eram sons confusos: gritos, objetos sendo quebrados, e, por fim, um silêncio mortal. Sofia ficou paralisada, o corpo imóvel, o coração batendo descontrolado. A fita continuou, mas a imagem estava estática. Apenas o som de respiração pesada ecoava na sala. - Desligue isso - sussurrou Romulo, a voz quase inaudível. Mas Sofia não conseguia. A verdade estava ali, cruel e inescapável. Quando a imagem voltou, a câmera estava no chão, apontando para o teto. Passos ecoaram, e então a figura de Marcelo apareceu no enquadramento. Ele olhava para baixo, os olhos cheios de uma frieza que Sofia nunca imaginara possível. - Agora você entende? - Romulo perguntou, olhando para Sofia. Ela não conseguia responder. O silêncio da sala parecia sufocá-la, cada palavra, cada grito da gravação ainda ressoava em seus ouvidos. - O que aconteceu depois? - perguntou, a voz trêmula. Romulo desviou o olhar, como se estivesse revivendo algo doloroso. - Sua mãe fugiu naquela noite. Consegui tirá-la daqui. Mas o que ela viu... o que ela sabia... Sofia o encarou, o corpo todo tremendo. - Por que ele enlouqueceu? O que era esse segredo? Romulo hesitou, o olhar fixo em um ponto distante. - Marcelo fez algo que não devia. Ele... mexeu com coisas que vão além do que você imagina. - Coisas? - Sofia o interrompeu. - Que tipo de coisas? Romulo olhou para ela, os olhos cheios de um misto de dor e culpa. - Marcelo descobriu algo sobre nossa família. Um segredo antigo. Algo que deveria ter permanecido enterrado. Sofia sentiu o chão sumir sob seus pés. - Que segredo? - Ele acreditava que havia algo de especial em você. Algo que ele precisava... proteger. Sofia ficou em silêncio, a mente girando. Tudo parecia um quebra-cabeça que nunca se encaixava completamente. - E você? - perguntou, finalmente. - O que você fez? Romulo não respondeu. Em vez disso, caminhou até a janela e ficou olhando para fora, como se procurasse algo. - Há mais coisas que você precisa saber, Sofia. Mas, por enquanto, o mais importante é que você saiba disso: seu pai não era apenas um homem violento. Ele era algo... muito pior. Sofia sentiu um calafrio percorrer a espinha. O que quer que estivesse enterrado naquele passado, ainda estava à espreita. E agora, parecia mais perto do que nunca. - O que eu faço agora? - perguntou, a voz quase um sussurro. Romulo a olhou, os olhos cheios de algo que ela não conseguia decifrar. - Prepare-se. A verdade é só o começo. Naquele momento, Sofia soube que sua vida nunca mais seria a mesma.

            
            

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