Capítulo 5 Segredos

O silêncio pairava na velha sala como uma neblina densa, cada palavra não dita pesando mais do que qualquer grito. Sofia permanecia imóvel, os olhos fixos na janela onde Romulo agora estava parado, o olhar perdido em um ponto distante. A fita de vídeo, ainda girando no velho aparelho, emitia um som de estática que parecia se misturar ao ritmo acelerado de sua respiração. Ela tentou processar o que acabara de ver. Marcelo, seu pai, não era apenas um homem violento, mas algo pior, algo envolto em sombras que ela nem sabia que existiam. E Romulo...

o irmão de seu pai, aquele que sua mãe havia tentado esquecer, era agora o único fio que a conectava àquela verdade sombria. - O que ele queria proteger? - A voz de Sofia cortou o silêncio, quase um sussurro, mas carregada de uma força inesperada. - O que havia de tão especial em mim? Romulo virou-se lentamente, os olhos ainda fixos em algum ponto invisível do passado. - Não era apenas sobre você. Era sobre o que você representava. - Ele deu um passo em direção a ela, a expressão cansada, como se cada palavra fosse um peso adicional sobre seus ombros. - Marcelo acreditava que nossa família estava destinada a algo... diferente. Algo que corria em nosso sangue. Sofia franziu o cenho. - Que tipo de destino? Romulo suspirou, sentando-se em uma velha cadeira, o olhar fixo no chão. - Nossa família, Sofia, tem raízes em coisas que a maioria das pessoas preferiria ignorar. Marcelo descobriu que nossa linhagem estava ligada a uma ordem antiga. Uma sociedade secreta que existiu por séculos. - Sociedade secreta? - A descrença na voz de Sofia era palpável. - Isso parece... loucura. Romulo assentiu, um sorriso amargo nos lábios. - Foi exatamente isso que sua mãe pensou. Mas Marcelo... ele acreditava. Acreditava tanto que acabou se perdendo. Sofia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. - E o que essa sociedade tem a ver comigo? Romulo hesitou, como se estivesse pesando as palavras. - Você é a última peça, Sofia. A última descendente direta. Marcelo acreditava que você tinha um papel a cumprir, algo que ele não podia deixar escapar. Ela o encarou, o coração batendo forte. - E você? O que você acredita? Romulo ficou em silêncio por um longo momento, antes de finalmente responder: - Eu acredito que ele estava disposto a fazer qualquer coisa para proteger esse segredo. Mesmo que isso significasse destruir tudo o que amava. Sofia sentiu as lágrimas queimando nos olhos. Tudo o que ela pensava saber sobre seu pai, sobre sua infância, estava desmoronando. - Minha mãe sabia disso? - perguntou, a voz trêmula. - Não tudo. Mas ela sabia o suficiente para fugir. Para tentar proteger você. - Romulo a olhou, o olhar carregado de algo que Sofia não conseguia decifrar. - Mas agora, esse segredo não está mais enterrado. Ela sentiu o peso daquelas palavras, uma sensação de que algo muito maior estava prestes a se revelar. - Então o que acontece agora? - A voz dela era quase um sussurro. Romulo se levantou, caminhando até a janela. - Agora, você precisa decidir se quer descobrir a verdade. Porque, uma vez que souber, não haverá mais volta. Sofia olhou para a fita, ainda no aparelho, a imagem estática congelada. O rosto de seu pai, aquele olhar frio e calculista, parecia ainda encará-la. - Onde está minha mãe agora? - perguntou, a voz carregada de urgência. Romulo a encarou, uma sombra passando pelo rosto. - Ela foi atrás de algo. Algo que poderia protegê-la. - Do quê? - Sofia sentiu o estômago revirar. Ele hesitou. - Dele. A resposta pairou no ar, pesada como uma tempestade iminente. - Você está dizendo que... meu pai está vivo? - Sofia mal conseguia formar as palavras. Romulo assentiu lentamente. - Não da forma como você imagina. Marcelo se tornou algo mais. Algo que vai além do que entendemos. E ele está vindo atrás de você. Sofia sentiu o chão sumir. Tudo o que ela acreditava estar enterrado no passado agora parecia uma ameaça real, algo que a perseguia. - Então... o que eu faço? - perguntou, a voz falhando. Romulo caminhou até ela, os olhos cheios de algo que Sofia não conseguia definir. - Você precisa se preparar. A verdade está lá fora, mas é perigosa. E o que você descobrir pode mudar tudo. Ela assentiu, sentindo o peso daquela decisão. Não havia mais como voltar atrás. A verdade a esperava, sombria e inevitável. Naquele momento, Sofia soube que sua luta estava apenas começando.