Capítulo 1 Atrasada

Hoje não é o meu melhor dia e isso está me deixando extremamente ansiosa e preocupada.

Geralmente sinto isso, como se o peso do mundo estivesse em minhas costas. Como se eu tivesse que provar que sou capaz, e que posso fazer todo o meu trabalho, sem problemas, mas a questão é que: estou cansada, me sentindo uma inútil e atrasada para uma ocasião importante.

Quando cheguei na TEC Corporation, eu era apenas uma garota, recém-formada, trazida pela magnifica Emma Novack. Emma Novack. Aquela mulher é como uma deusa para mim, e isso me traz um peso enorme. Ela me trouxe. Confiou em mim.

Essa mulher é a esposa do chefão, a fodona que criou um sistema de defesa e rastreamento que ganhou seu nome, e... passou a ser um exemplo para os alunos na faculdade de TI.

Os professores sempre diziam que eu era bem parecida com ela, algo que me deixava envergonhada, fazia-me gaguejar, e muitas vezes, rir de nervoso. Era claramente uma piada, até ela aparecer em uma das aulas finais.

Suei frio, como se estivesse na Sibéria. Ela era a mulher mais inteligente e foda que já conheci, e quando pôs os olhos em mim, senti-me pequena.

Não tenho família, sou eu, uma melhor amiga que se chama Hoper, e a Emma, que se tornou a minha mentora. A mulher me escolheu, no meio de tantos alunos talentosos, e me deu um lugar importante na empresa do seu marido. Em um setor responsável pelo monitoramento. Agora, desenvolvo métodos para melhorar o sistema, e agora, tem uma vaga como chefe do departamento e eu estou disputando ela com meu arque inimigo.

Adam Clark. Aquele homem é um desgraçado que sempre quer me ver por baixo. Ele disputa comigo, desde que cheguei aqui. Acredito que ele inveje a forma como entrei aqui, pelas mãos da própria Alisson. A tenho como minha madrinha, mesmo não sendo próximas.

Essa vaga era importante para mim, pois prova que sou boa, não só para mim mesma, que sempre me pego duvidando da minha capacidade, mas para ele e todos ao meu redor, que me subestimam, só por que sou tímida e quieta.

Porém, como minha melhor amiga sempre diz: Você tem que mostrar do que realmente é capaz, e está na hora de mudar de atitude. Seja forte, destemida, raivosa, e agarre o que deseja.

É isso. Tenho que mostrar do que sou capaz. Uma mulher forte e determinada que vai ter que falar para um grupo de pessoas, o porquê devo ser a escolhida para esse cargo.

Respira, Samanta. Você vai conseguir.

Porém, estou atrasada, como sempre. De alguma forma, meu despertador não me despertou, perdi o primeiro metrô, tenho que correr até a empresa, e parece que meu cartão custa a me permitir a entrar, já que para entrar no prédio, todos têm que ser autorizados, e os funcionários tem um crachá.

Quando consigo, visto o elevador, quase fechando. Vai demorar uma eternidade para pegar o próximo, então eu corro como uma louca e grito, para um homem que está dentro dele:

- Segura! – Estou tão eletrizada pela adrenalina, que me enfio dentro da caixa de metal, quase batendo na parede, e em poucos segundos, a porta se fecha. O ar pesa em meus pulmões. Ponho a mão nos joelhos, por causa do cansaço. Acho que estou muito sedentária. Respiro pesarosamente, e mal olho para o homem que está ao meu lado. – Obrigado. – Dou um sorriso cansado, ao pôr a mão no peito, que dói. – Acho que estou muito sedentária. Isso me cansou ao extremo.

Ouço um sorriso abafado, o que me faz olhar para ele, e engulo a língua. O desconhecido é um pouco mais velho do que eu, tem uma barba rala, sexy, braços do tamanho da minha perna e um físico perfeito. Bem, deu para ver bem como ele era, pois está com roupas de corrida.

Balanço a cabeça e me recomponho, voltando a ficar reta. Olho para cima, e finjo que não aconteceu nada.

- Deveria treinar um pouco. – Ele disse, em um tom elegante e despojado. Como se estivesse me dando uma dica. – Recomendo começar aos poucos, com uma caminhada, depois, uma leve corrida.

- Claro, obrigada. – Não sei o porquê, mas meu tom saiu mais irônico do que o normal. – Geralmente fico sentada na frente de um computador. Isso me custa um bom tempo.

- Deve ter tempo para a sua saúde.

Franzi o cenho, voltando a encarar a figura linda e estranha, ao meu lado.

- Desculpa, é um personal trainer? – Minha curiosidade o fez sorrir, o que o deixou ainda mais lindo. Quando faz isso, seu rosto toma um brilho e cria covinhas fofas na bochecha. – O que me leva a pergunta: veio ao lugar certo?

O homem, que ainda não sei o nome, se esforçou para engolir seu belo sorriso, lambendo os lábios o que me fez encara-los de forma esquisita.

- Vim.... – Ele parou, parecendo pensar no que diria. – Estou aqui para encontrar uma pessoa.

- Ahnn! – Balancei a cabeça, voltando a prestar atenção no monitor, que parecia nunca chegar ao meu objetivo, que era o decimo oitavo andar, abaixo da presidência do CEO, onde Ian Novack, o todo poderoso, trabalha. Então, as luzes começaram a piscar e do nada o elevador apagou, parando. – O que? – Me desesperei. – O que está acontecendo? – As luzes de emergência ligaram, e me vi em uma caixa, presa. – Não! Não faz isso agora!

- Acho que teve um apagão. – O homem ao meu lado, falou, também achando estranho. – Não há um gerador?

- Tem, então, porque parou? – Comecei a apertar algum botão, desesperada. Hoje, realmente, não é o meu dia. – Eu não estou acreditando no que está acontecendo. – Repentinamente, minhas emoções ficaram ativadas e exageradas, fazendo com que meus olhos se enchesses de agua. – Logo hoje?

- Fique calma, com certeza irá voltar ao normal. – O olhei, e por poucos segundos, senti raiva do desconhecido. Ele me olhava, assustado ou preocupado. Naquele momento, eu não sabia o que sentir. – Vão notar que os elevadores pararam.

- Eu estou atrasada. – Me alterei. – O universo está me mandando muitos sinais, estranho bonitão, eu não estou bem. Acordei arde, perdi o primeiro metrô, corri para pegar esse elevador, e agora ele parou. – Uma raiva brotou no meu peito, me deixando quente, como se estivesse fervendo. – MERDA! Eu não sou assim. Geralmente sou calma, calada, dedicada. Então, nesse momento importante para a minha carreira, a droga do elevador, da empresa de tecnologia, para, do nada. – Eu sentia a necessidade de dizer tudo o que se passava em minha cabeça, ou explodiria, o problema era que o homem ao meu lado, não tinha culpa alguma. – Aposto que isso é um plano do Adam.

- Adam? – Ele perguntou, cauteloso. Aposto que para esse homem lindo de morrer, pareço uma louca. Eu me sinto uma.

- Meu arque inimigo. – Expliquei, lembrando do rosto do desgraçado. Senti que o desconhecido ria de mim. O olhei feio, o que fez ele engolir seu sorriso. – Esse idiota sempre me boicota. Em cada passo que dou. Se vou bem no meu trabalho, ele faz de tudo para me derrubar, quer sempre estar em minha frente. Até agora, com essa promoção. Ele nem gosta de liderar. Nem é o melhor do nosso setor, mas foi só eu me candidatar, para ele fazer o mesmo.

Sinto como se meu sangue tivesse se transformado em lava.

- Qual o seu nome? – O homem pergunta, me trazendo de volta a realidade.

- Samanta. – Respondi, rude. Não era culpa dele, e minha rispidez não era com o desconhecido, só que não posso controlar isso agora.

- Samanta – Repetiu, colocando suas enormes mãos na minha frente, e olhando em meus olhos. Ele pegou em minhas mãos, que estavam frias. O calor do seu corpo, me acalmou, e aquele toque, deixou-me confusa e em alerta. Foi um arrepio fora do comum. Mas é obvio que esse homem não pensaria em me seduzir nesse elevador. Além do mais, não faço seu tipo. – Respira fundo.

- Não vem com essa de respirar fundo. – O cortei, me afastando. – Eu estou puta. Estou furiosa, e me desculpe, não quero ser rude, mas...

- Mas está agitada e preocupada, eu sei. – Pareceu compreensivo. – Às vezes me sinto assim.

- Nas suas aulas, na academia? – A ironia saiu sem que eu percebesse, o fazendo rir.

- É, - Confirmou, humorado. – Às vezes tenho alunas que se sentem profundamente frustradas, e sempre falo para respirar fundo, e mentalizar.

- Você é um hip também? – Levantei uma das sobrancelhas.

O homem voltou e pegar em minhas mãos, olhou no fundo dos meus olhos. Eu queria saber qual a cor dos seus, pois parecia profundo. O homem tem uma sobrancelha grossa, definida, dando a ele um aspecto sério e sexy. Tem um maxilar definido, boca com lábios grossos e cabelos escuros, lisos, e naquele momento, algumas das suas belas mechas estavam sobre seu rosto. Aquilo aqueceu meu coração.

Fiz o que me pediu. Respirei fundo, e tentei me acalmar, mas não funcionou.

- Vai conseguir o que deseja. – Disse, quase profetizando. – Não precisa ficar estressada. Se você sabe que ele não tem qualificação para o cargo, então ele não o terá.

- Acredite, aquele, filho da .... o idiota tem persuasão. Já cai na dele uma vez. – Me lembrei do fatídico dia. – Sempre consegue o que quer.

- Onde isso vai o levar, se não tem o que é preciso?

- Não sabe como é difícil ser uma mulher, em uma sala que te ver como fraca.

- Você não precisa mostra nada a ninguém. – Do nada, me perguntei o porquê esse estranho está me motivando. Quem é ele? – Se não consegui agora, vai conseguir no futuro. Não precisa se desesperar.

- Sabe, suas palavras são boas, e acredito que todas as suas alunas caem em seus pés, não é mesmo? – Cerrei os olhos.

O homem deu uma gargalhada, jogando a cabeça para trás. Isso o fez me soltar. Confesso que queria o contato. Foi estranho.

- Não posso dizer que não.

- Aposto que é um galinha. – Saiu sem pensar. Chega arregalei os olhos. – Desculpa, saiu sem querer.

- Não me ofendeu. – Ficou ereto, me olhando de cima. Acredito que sou uma formiguinha perto dele. – Confesso que sou bom com as mulheres.

- Também com essa beleza. – E novamente soltei sem querer. – Você tem alguma coisa que me faz falar coisas que geralmente não falo em voz alta.

- Eu gosto disso. – Confessou, me deixando surpresa.

O homem me encarou por um bom tempo, me deixando vermelha de vergonha. Ainda bem que a luz vermelha, que indicava o pane no sistema dos elevadores, não o deixava ver isso.