Capítulo 3 Tarde demais

Samanta

Não dava para acreditar no que acabou de me acontecer. Nunca vi aquele homem na minha vida, mas... parecia que éramos velhos amigos, no qual me deu liberdade para falar, e ser, alguém que não sou. Então, foi assustador, porém, não posso parar e refletir sobre, pois estava mais do que atrasada.

Assim que a porta se abriu, corri para a sala de reunião, onde estava acontecendo a apresentação para a promoção, como se eu fosse uma esportista, e naquele instante eu não podia parar para respirar, ou descansar meu corpo, pois isso era muito importante, e acreditei que o grupo que iria nos assistir, daria uma chance de me explicar e me apresentar, pois eu realmente sentia que era boa e que podia ganhar essa disputa, entretanto, minhas esperanças caíram por terra, quando vi todos saírem da sala.

Parei, pois quase esbarrei em um dos homens, que provavelmente era um grã-fino do alto escalão, no qual me olhou estranho, achando que eu era uma louca. Pior era que eu estava prestes a ficar como uma.

Olhei para os que saiam, conversando, totalmente desanimada. Eu sentia meu rosto arder, o que significava que minha face estava totalmente vermelha, por conta do esforço físico.

Respirava pesadamente, sufocada, sem forças. Eles olharam para mim, surpresos, e eu tomei o ar para pronunciar alguma explicação.

- Eu... – Saiu da minha boca, como um ar cansado, sendo abafado pelo ar. – Eu sou a Samanta Still, estou aqui para a apresentação.

Eles ficaram parados, me encarando, sem reação. Dava para ver o quanto estavam chateados. Olhei para cada rosto ali, e vi Emma Novack no meio deles, o que me deixou ainda mais apavorada.

Ela estava aqui. Eu não sabia que viria. A mulher que meu deu essa chance veio até aqui. Eu deveria ter me esforçado mais. Aqueles homens podem me achar uma boba, uma fracassada, mas ela, ela era a mulher no qual me espelhava.

Atrás deles estava Adam Clark, sorrindo, vitorioso. Eu queria o matar. Enfiar minhas unhas em seu pescoço e mata-lo, mesmo sabendo que o erro foi meu. Eu deveria ter acordado mais cedo, pego um taxi, ao invés de esperar o metrô, mas achei que o transito caótico de NY me atrapalharia. Talvez, se tivesse ido pelas escadas de emergência, fosse mais rápido e eu não teria ficado presa no elevador.

- A reunião já acabou. – Um deles fala, com certa arrogância. – Você se atrasou. Isso não é nada profissional.

Acredite, eu sei. Eu mesma estou me criticando. Sou mais do que posso apresentar. Então, porque não faço isso?

- Eu sei... – Baixei a cabeça, sentindo meus olhos arderem com as lagrimas que se formou, entretanto, não as deixei cair. – Fiquei presa no elevador. Ele...

- Não arranje desculpas. – Engoli as palavras, que sairiam pela minha boca, o olhando, assustada.

O tom foi duro, o que surtiu um grande impacto em mim. Me lembrei de quando estava no orfanato e ia mal em algumas coisas. A diretora me colocava de castigo, no sótão, escuro, frio e com fome. Eu merecia o sótão, agora.

- Sr. Martin – A voz de Emma ecoou pelo espaço, no qual não me dei ao trabalho de prestar atenção, detalhadamente, pois a pressão em minha mente me forçava a encarar os homens de terno, que mais pareciam o jure da minha inquisição. – Não seja rude com a Samanta. – Fiquei surpresa, em ver que ela, meio que estava, me defendendo. Pelo menos das palavras duras do seu colega. E eles pareceram baixar os ombros. Ela realmente tem certo poder ali. Obvio, era a esposa do CEO. A mulher que criou várias formas que de proteger nosso sistema, transformando a empresa na melhor, e mais requisitadas, no ramo de proteção de dados. – Deixe que ela se explique.

- Não podemos voltar atrás na nossa escolha, Sra. Novack. – O homem, que nem sei seu nome, falou. Era o mesmo que me tratou com arrogância. – A vaga já foi preenchida.

O sorriso de Adam, atrás de todos, só me fez sentir mais frustrada. Ele, mesmo não sendo um terço do que sou, em produtividade, sempre conseguia as coisas, por ter uma lábia boa.

Além disso, era homem. A única que tomou esse cargo, sendo mulher, foi a própria Emma, quando trabalhava no setor. Desde então, a vaga foi passada para um homem, que estava prestes a se aposentar.

Confesso que não sou a mulher mais forte, que bate de frente, e isso era um dos prontos fracos. Ninguém me via como líder, mas eu merecia uma oportunidade de mostrar do que sou capaz.

Emma, passou entre eles, ficando a minha frente. Ela, ao contrário dos demais, sorria amigavelmente. Era uma mulher incrível, e sempre que me olhava assim, sentia como se ela fizesse parte da minha vida. Uma mãe que nunca tive.

- Não significa que não podemos a deixar se explicar. – Disse, pegando em minha mão.

Aquele gesto me fez sentir confiante, pelo menos, para falar algo.

- O elevador parou. Fiquei presa nele, por uns vinte minutos. – Falei, aceitando que não iria ter volta. A chance passou por mim, e eu não a agarrei. – Sinto muito pelo transtorno.

Ela franziu o cenho, seus olhos ficaram distantes, indicando que ela estava pensando.

- Nosso elevador? – Perguntou.

- Sim, - Balancei a cabeça, tímida. Eram poucas as vezes que ficava na frente dela. – Entendo que perdi a chance, eu só queria explicar.

- Agora, podemos ir. – Diferente de Emma, os outros não se importaram com a minha explicação. Era como se não fizessem questão.

Saíram, um atrás do outro, passando por nós. A Sra. Novack, porém, ficou, ainda com minhas mãos na sua. Adam passou por mim, com um sorriso de canto. Ele estava silencioso, mas sabia que, assim que estivéssemos a sós, iria soltar suas garras e me provocar, com seus insultos velados.

O burburinho atrás de mim, se sessou quando o elevador se abriu, eles entraram e fechou-se a porta. Baixei, novamente, a cabeça. Decepcionada comigo mesma.

- Sei que a decepcionei. – Falei, frustrada. Essa sensação fez com que meu peito pesasse, o nó se criou em minha garganta. Odiava a minha personalidade fraca. Eu era órfã, sem muitos amigos, sem família, e me apegava ao meu talento com computador e sistema. Esquecia do fato ruim de ser só, e focava no trabalho, e acabei decepcionando a única pessoa que já acreditou em mim. – Me colocou aqui, viu meu potencial, e acabei falhando na primeira oportunidade.

Mesmo sentido vontade de chorar, não deixei uma lagrima se quer, cair. Engoli todo aquele sentimento, como sempre fazia. Tudo o que eu mais desejava era ser diferente. Determinada, e que não deixava ninguém tirar o que era meu, mas...

- Não me decepcionou nenhum pouco. – Acariciou meu rosto, levantando-o, para que a enxergasse. Ela era uma mulher linda. Olhos verdes, sorriso doce. Acho que foi isso que fez Ian Novack se apaixonar por ela. – Coisas assim acontecem, acredite em mim, eu já estive no seu lugar.

- Foi a melhor monitora do meu setor – A lembrei. – Fez coisas incríveis, desenvolvendo sistemas. – Eu li tudo sobre ela. o quanto era inteligente e como desenvolveu um sistema de rastreamento de dados, e isso me fascinou.

- Eu era jovem, quando entrei aqui. Sempre estava atrasada, desastrada, e o destino parecia brincar comigo. – Falou, sorrindo. Aposto que estava revivendo aquelas memorias. – Nada é por acaso, Samanta, e você é a melhor, naquela sala.

- Mas sou uma decepção, em pessoa.

- Você pode contornar, e não é uma decepção.

- Por que acredita nisso? – Sorri, desacreditada.

- Posso não estar aqui, 100%, porém, observo tudo, da onde estou, e sei, que você ainda será valiosa, e que esses homens vão ter que pedir desculpa, pela forma como a tratou. – Era impressionante o quanto ela acreditava mais em mim, do que eu mesma. – Agora, volte para o seu posto, não baixe a cabeça, e não deixe que outro idiota tome seu lugar. Prove que estão errados, e no final, será recompensada.

- Parece uma mãe, falando assim. – Depois que terminei a frase, notei o quanto fui idiota. Mas ela riu.

- Me sinto um pouco assim. Agora vá. Não perca tempo.

Sabe? Ela tinha razão. Não posso baixar a cabeça, ainda mais para aquele idiota. Adam pode ter ganhado a vaga, mas não ganhou a batalha.

Decidimos pegar o elevador. Ela voltaria para o andar da presidência, onde o CEO, seu marido, estava, e eu, para o meu setor. Ponho a mão no bolso e noto que perdi meu celular. Arregalo os olhos, olho para o chão, e não o encontro.

Não demostro nada, já basta tudo o que aconteceu. Mas isso só demostra o quanto sou desastrada. Agora, como vou o encontrar. Espera! O outro elevador. O estranho. Mas, quem era ele?