Capítulo 4 Você ficou maluca

Kristopher deslizou a mão por baixo das dobras do roupão de Carrie, seu toque acariciando a curva suave da pele dela, delicada como seda. Ele a puxou para mais perto, envolvendo a cintura esguia dela com um aperto gentil, mas firme.

Com a expressão marcada pelo desafio e pela irritação, Carrie despertou nele um desejo intenso de quebrar sua resistência.

A respiração de Kristopher ficou pesada, mas ele se mantinha sereno, começando a tirar lentamente seu terno sob medida.

O tecido roçou suavemente na bochecha de Carrie, liberando um misto de fragrâncias: o aroma amadeirado familiar de sempre, entrelaçado com um toque cítrico de limão. Era o inconfundível Blue Agava e Cacao da Jo Malone, a fragrância característica de Lise.

Ao perceber isso, um arrepio de náusea percorreu o corpo de Carrie.

Quando os olhos de Kristopher, agora carregados de uma intensidade sombria, se aproximaram dos dela, a proximidade fez com que visões indesejadas de Lise invadissem sua mente. Seu estômago se revirou e, num movimento brusco, ela o empurrou e se levantou, engasgada.

"Ugh..."

Seu estômago estava vazio, deixando-a sem nada para vomitar.

O olhar de desejo de Kristopher se apagou, dando lugar a uma expressão fria e distante enquanto ele recuava.

Notando o desconforto genuíno e os olhos avermelhados de Carrie, Kristopher percebeu que sua proximidade havia causado um desgosto profundo nela.

Ele ajustou os punhos da camisa e, com a voz cortante, indagou: "Carrie, essa reação é só para mim, ou é assim que você reage a todos os homens?"

O ar no quarto ficou gélido, carregado de uma tensão palpável.

Carrie engoliu o amargo da garganta, seu olhar surpreso se fixando nele.

Desde o casamento, ela se afastara de quase todos os amigos homens, e ali estava ele, lançando palavras afiadas como facas.

Anos de dedicação ao relacionamento pareciam agora um esforço fútil.

O calor subiu por seu pescoço, tingindo suas bochechas de um vermelho intenso, enquanto a indignação tomava conta. Sem pensar, sua mão se moveu rápida e impetuosa, estampando um tapa sonoro no rosto de Kristopher.

Todas as frustrações acumuladas nesse dia se condensaram nesse gesto.

Seu roupão, já frouxo, escorregou de seus ombros. Ignorando a vergonha da exposição, ela rapidamente o reuniu e o envolveu ao redor de seu corpo, seus movimentos rápidos e firmes.

O impacto do tapa deixou uma leve marca avermelhada na bochecha de Kristopher, marcando-o com a indignação dela.

Seus olhos, arregalados de surpresa, se encontraram com os dela. "Carrie, você ficou maluca?"

Maluca? Sim, ela estava claramente maluca por ter se apaixonado por ele em primeiro lugar!

Carrie estava em ebulição, seu coração batendo acelerado no peito.

Foi então que o toque agudo do celular na mesa cortou a crescente tensão, trazendo um breve alívio ao impasse entre eles.

Kristopher deu um olhar rápido para a mensagem, bloqueou o celular com um estalo e caminhou até a porta, suas costas rígidas, carregadas de tensão.

A voz de Carrie, firme e sem espaço para contestação, ecoou pelo ambiente: "Vamos nos divorciar! Assine os papéis antes de sair por essa porta!"

Kristopher fez uma pausa breve antes de se virar e, com um tom direto, disse: "Tenho algo a fazer agora. Quando eu voltar, faço o que você quiser."

Sem mais palavras, ele fechou a porta com um estrondo.

Observando a saída determinada dele, Carrie sentiu o peso da tristeza apertar seu peito mais uma vez.

A dor na perna tentou desviar sua atenção, mas ela ignorou o incômodo, mancando com firmeza até o tablet. Com os dedos trêmulos, ela procurou rapidamente o perfil de Lise no Twitter.

Lise havia acabado de postar um tweet novo.

A foto a mostrava deitada, com um adesivo antitérmico colado na testa, envolta no casaco familiar de Kristopher.

A legenda dizia: "Ficar doente me deixa mais carente. Queria alguém aqui comigo. Fiquem aquecidos e se cuidem, pessoal!"

Era difícil para Carrie não pensar que Kristopher tinha corrido para cuidar de Lise devido à coincidência entre o momento e os acontecimentos.

Os instintos de Carrie gritavam, a convencendo de que não era uma simples coincidência. Lise tinha claramente tentado despertar o coração de Kristopher, e parecia estar conseguindo.

Nem mesmo a ameaça de divórcio de Carrie parecia ter o poder de desviar a atenção de Kristopher da exibição de vulnerabilidade de Lise.

Tomada pela raiva, Carrie tremia como uma folha sendo levada pelo vento forte.

Lutando contra a dor no peito, ela retirou com determinação o plástico que envolvia sua perna machucada.

Depois do longo banho, a umidade havia agravado a ferida, a tornando vermelha e inchada, pulsando de dor.

Carrie também sabia o que era ser vulnerável. Ela se lembrou dos tempos difíceis no campo, quando, após se queimar com a chaleira quente, desabou em soluços nos braços acolhedores de sua avó.

Mas, nesse momento, não havia espaço para fraqueza.

A saída de Kristopher a forçou a encarar a dura realidade de sua necessidade de ser independente.

Mordendo o lábio com força, ela tratou da ferida com uma mão experiente e então a envolveu com cuidado.

Com uma nova determinação, ela se levantou e puxou do fundo do closet uma mala preta, a mesma que ela usara ao chegar ali como uma noiva esperançosa.

Ela pegou um conjunto de roupas limpas e, antes de sair, deixou um cartão de débito sobre a mesa de cabeceira.

Ela havia transferido para ele todo o dinheiro que ganhara no último ano, resolvendo assim sua parte no acordo financeiro com Kristopher e selando o fim da relação.

Arrastando a mala atrás de si, ela saiu da luxuosa vila, mancando com esforço.

Ao passar pelo portão, ela apertou o casaco de beisebol contra o corpo, sua silhueta solitária na escuridão.

O ar frio da primavera parecia cortante, sem nenhum vestígio de calor, mas o frio parecia insignificante diante da frieza em seu coração despedaçado.

Ela chegara com nada além de uma mala e sonhos cheios de promessas, e agora estava partindo, com seus sonhos desfeitos, completamente sozinha.

Um riso amargo escapou de seus lábios. Se ao menos não tivesse se entregado tão profundamente a ele e tivesse proposto uma separação amigável ao final do ano acordado, talvez agora não estivesse vagando sozinha, como uma alma perdida.

Lise não precisou fazer nada, e Carrie já estava caída, irreparavelmente quebrada.