Ouço uma risada e me sento rapidamente, vejo uma pequena criança humana me olhando com grandes olhos castanhos, um cabelo também castanho solto livre como o vento e todo encaracolado, seu perfume é uma mistura de cheiro de entardecer com rosas, ela parece simplesmente adorável
"Oi". Ela diz timidamente ainda com o largo sorriso no rosto
"Olá" Eu respondo amigavelmente, ela não parece ser uma ameaça, muito pelo contrário
"Você veio tomar chá comigo?" Ela fala com um brilho no olhar que enche meu coração de alegria, por um momento consigo esquecer as fatalidades que me trouxeram até aqui
"Claro, seria uma honra tomar chá com você, qual seu nome doce menina?" Pergunto entrando na brincadeira
"Meu nome é Lívia, mas todo mundo me chama de Lilica e o seu?"
"Me chamo Safira, é um prazer te conhecer Lilica" Digo indo em direção a pequena mesa para sentar-me a sua frente
"Safira, hum, nunca conheci ninguém com esse nome, já sei, você é um anjo que minha mamãe mandou para brincar comigo" Ela diz com os olhinhos brilhando e logo imagino que sua mãe assim como a minha não esteja mais neste mundo, lembro-me de minha mãe e meu coração se parte, logo me vejo indo em sua direção e tomando-a em um abraço apertado enquanto lágrimas saem descontroladamente dos meus olhos. Nunca imaginei que a pureza de uma criança pudesse trazer tanto conforto
"Não chore, vai ficar tudo bem" Ela diz me abraçando de volta e dando tapinhas em minhas costas
"Eu não sou um anjo Lilica, eu sou uma fada da natureza, princesa Safira, do reino das fadas" Digo com um gosto amargo na boca, logo me lembro que sem um reino não posso ser mais princesa.
"Uma fada, como a Tinkerbell?"
"Eu não conheço essa fada, você sabe de qual reino ela é?"
"Ela é da televisão, eu também tenho várias roupas com ela desenhada você quer ver?"
"Hum, o que é uma televisão?"
"Você não tem televisão? Pobrezinha, minha mãe sempre me falava que eu devia ser grata todos os dias pela nossa vida porque existiam muitas pessoas que não tinham nada, é por isso que você está na minha casinha da árvore, você não tem para onde ir?"
Ela me pergunta e logo minha realidade é lançada contra mim novamente, mais lágrimas caem como um rio de meus olhos e por um momento não consigo falar nada, eu realmente não tenho para onde ir
"Tudo bem, tudo bem, não precisa chorar, venha vamos tomar chá, tenho certeza de que a gaby e a marie não se importarão em dividir a casa com você" diz ela apontando para as bonecas
Pego as xicaras e imito seus movimentos levando a boca como se tivesse realmente tomando chá, até que um alto som ecoa do meu estomago na casinha e percebo que não me alimentei, Lilica sorri alto e diz que isso significa que temos que ir jantar, digo que ela não deve contar sobre mim a ninguém e ela concorda em trazer alimentos para mim. Eu decido ficar ali por um tempo até saber o que fazer agora, preciso me recuperar e de um plano para impedir Lasmar de reivindicar outros reinos.
Todos os dias levanto antes do nascer do sol, visito os animais da fazenda e vejo se eles precisam de ajuda, também vou para a floresta próxima, cuido dos filhotes e brinco com as plantas, todas as plantas e animais prosperam quando as fadas da natureza estão por perto e eu amo cuidar delas, minhas amigas e eu sempre nos divertíamos quando crianças plantando novas florestas e fazendo elas ficarem grandes e bonitas tudo em um dia, eu sinto falta da minha casa, sempre que fico triste começa a chover, ainda não consigo controlar muito bem a chuva e isso pode ser um problema porque tem chovido bastante ultimamente e Lilica não vem muito quando está chovendo. Passaram-se algumas semanas desde que cheguei aqui e sinto-me confortável em cuidar dos animais e das plantas, Lilica tem me feito companhia e tem me alimentado, eu amo estar em sua presença e fico maravilhada com o quão apegada estamos uma com a outra.