Capítulo 5 O Encontro

João

Vejo Lívia passando, segurando a mão de uma mulher que não conheço. Ela parece um anjo de tão linda, e percebo que nunca a vi por aqui. Seu cabelo está preso em uma trança lateral com fios soltos, sua pele branquinha e um nariz fino e arrebitado. Suas longas pernas e o vestido simples fazem meu coração disparar só de olhar para ela. O que está acontecendo comigo? Desde a morte de Ellen, nunca mais me interessei por nenhuma mulher assim. Seus pequenos e delicados pés descalços me preocupam. Será que aconteceu algo? Preciso descobrir quem ela é e o que faz em minha casa.

Vou em direção às duas, mas logo sou interceptado por Adeline, que traz um de nossos fornecedores para me cumprimentar. Adeline é ótima em seu trabalho, sempre cuidando de tudo com eficiência desde que assumi a liderança da empresa. Apesar disso, ela tem me irritado hoje. Desde que perdi minha esposa, percebi que ela tem se insinuado para mim. Já considerei um contrato de relacionamento com ela, mas não consigo imaginar algo além de trabalho entre nós.

Adeline é bonita, e muitos dos meus parceiros de negócios acham que temos um caso. Entretanto, meu foco está em Lilica. Hoje, em particular, ela não tem me dado espaço para passar tempo com minha filha, sempre me puxando para socializar. Peço licença ao grupo com quem estava falando e vou até a cozinha.

"Juliana, onde está minha filha?" pergunto à babá, que está montando um prato.

"Ela estava no quarto de Maria há poucos minutos."

Sem responder, sigo para o quarto de Maria. Ouço vozes animadas:

"Não tenho nada menor que isso, menina. Espero que se sinta ao menos mais confortável. Ficar descalça não fará bem a você," diz Maria.

"Está perfeito. Obrigada," responde a mulher desconhecida com um abraço caloroso em Maria.

"Boa noite, meninas," digo, anunciando minha presença.

"Papai, venha conhecer Safira, minha amiguinha que disse que traria!" Lilica exclama, para minha surpresa. Pensei que sua amiga fosse uma criança, não uma mulher deslumbrante.

Encaro Safira, que me devolve um olhar profundo. Seus olhos têm uma tonalidade única, uma mistura de mel e verde. Nunca vi algo tão lindo. Minha atenção se fixa em seus lábios rosados e delicados, mas logo controlo meus impulsos.

"Olá, João Ricardo. Muito prazer," digo, estendendo a mão.

"Safira," ela responde com um sorriso tímido, segurando minha mão.

"Senhor, viemos buscar um calçado para a menina Safira, mas já estamos voltando," explica Maria.

"Tudo bem, vamos indo," digo.

"Senhor João, gostaria de ter uma breve conversa com o senhor," Safira solicita de repente.

"Claro. Maria, leve Lilica até Juliana. Logo alcançamos vocês," respondo.

Maria e Lilica saem, e me viro para Safira, sentindo o perfume inebriante que emana dela.

"Senhor..." ela começa, mas hesita ao notar minha proximidade.

"Para começar, me chame apenas de João."

"Certo, João," ela diz, com uma doçura que mexe comigo.

"Quando cheguei, vi uma cena preocupante. Uma mulher chamada Adeline repreendia Lilica de forma inadequada, dizendo que não deveria atrapalhá-lo. Lilica parecia abatida, o que me preocupou com o tipo de pessoas que você permite ao redor dela," ela afirma.

Sinto meu corpo enrijecer com suas palavras.

"Não sei do que você está falando. Adeline conhece Lilica desde pequena, e nunca houve reclamações," rebato rispidamente.

"Talvez você devesse prestar mais atenção à sua filha. Passo muito tempo com ela e sei que aquela postura abatida não é comum. Lilica sempre está sorridente e alegre," ela responde, com firmeza e o nariz arrebitado.

"Como assim você passa muito tempo com minha filha? É alguma professora da escola?" pergunto, vendo-a empalidecer. Ela abaixa o olhar, e sinto vontade de erguer seu rosto para encará-la novamente, mas me contenho.

"Isso não vem ao caso," ela murmura.

Adeline aparece, interrompendo.

"João, estava te procurando. Vamos."

"Logo terminaremos essa conversa. Quando a festa acabar, me procure," digo para Safira antes de seguir com Adeline.