Capítulo 2 2

Meu chefe, Daniel Díaz, era o tipo de homem que, se te visse no chão, não te estendia a mão; pelo contrário, te empurrava para te afundar ainda mais. Um monstro sem piedade, sem valores, sem respeito. Saí correndo do seu escritório, tentando não ouvir suas últimas palavras, que pareciam um eco interminável na minha cabeça. Peguei minha bolsa, sem precisar recolher nada, já que nunca deixei nem uma foto lá.

Para quê deixar algo tão pessoal naquele lugar? As paredes do escritório estavam impregnadas de uma energia sombria, pesada, como se o próprio Daniel tivesse deixado sua essência em cada canto.

Assim que saí, uma chuva torrencial me recebeu. Era só o que me faltava! Será que a má sorte estava decidida a me perseguir aonde quer que eu fosse? Decidi caminhar sob a chuva; afinal, minha casa não estava tão longe, e a água talvez levasse embora um pouco da minha frustração. Embora eu nunca tenha sido do tipo que acredita em chakras ou energias protetoras; essas coisas são apenas invenções para quem busca consolo no intangível.

A chuva encharcava minhas roupas, e o frio começava a penetrar até meus ossos. Para completar, um carro passou por uma poça e me cobriu de lama, da cabeça aos pés. "Maldito!" gritei com raiva. O mundo às vezes parecia feito só para favorecer uns poucos, aqueles que, como Daniel Díaz, tinham o poder de pisar em qualquer um sem consequências. Nesta sociedade, parecia que só tinham valor as mulheres de rostos perfeitos, com vestidos caros e maquiagem impecável. As que, como eu, vestiam roupas modestas e básicas, pareciam invisíveis, apenas sombras em um mundo de brilhos superficiais.

Ao chegar em casa, jamais imaginei me deparar com a pior cena da minha vida. Minha mãe estava caída no chão da cozinha. O medo e o desespero tomaram conta de mim. "Será que chegou sua hora?", pensei, aterrorizada.

-Mãe! Mãe! Acorde, por favor! -chamei, sentindo meu coração se partir a cada palavra. Minha irmã apareceu, também chorando, em um ataque de pânico.

-O que aconteceu com a mamãe? -perguntou entre soluços, com a voz trêmula.

Tentei manter a calma por ela, embora tudo em mim quisesse desabar. Minha irmã, em sua fragilidade, precisava das minhas palavras como âncora.

-Calma, irmã, já vou ligar para a emergência. Mas você precisa se tranquilizar. Tomou seus remédios hoje?

-Sim, só falta o da noite -ela respondeu, com a voz quase inaudível por causa do choro.

Liguei para o número de emergência e, pouco depois, os paramédicos chegaram e levaram minha mãe. Minha vizinha, que conhecia nossa situação, ficou com minha irmã enquanto eu subia na ambulância. Minhas mãos estavam geladas e, ainda encharcada, o frio me fazia tremer.

Ao chegar na clínica, o médico da minha mãe, doutor Horácio, já me esperava. Só de me olhar, ele entendeu a angústia que me consumia.

-Amélia -ele disse com uma voz carregada de tristeza-, lamento dizer isso, mas sua mãe está na fase final. Não acredito que passe desta noite.

Um golpe de realidade atravessou meu peito. Eu sabia que a saúde da minha mãe tinha piorado, mas nunca estaria preparada para isso. Horácio continuou, com sua usual gentileza e profissionalismo.

-Além disso, Amélia... a clínica exige que os pagamentos pendentes sejam quitados. Até mesmo o custo desta noite precisa ser pago ainda hoje.

A dor pela minha mãe se misturava com a vergonha de não ter como pagar e, pior ainda, com o desespero de ter perdido o emprego justamente naquela manhã. Horácio me olhou, compreensivo, e se ofereceu para me ajudar. Mas eu não podia aceitar. Sabia o que precisava fazer, embora odiasse a ideia.

Decidi ligar para Daniel Díaz. Repugnava-me pensar que ele seria minha única saída para cobrir os gastos, aceitando sua proposta.

-Já se arrependeu? -ele atendeu no primeiro toque, com sua voz fria e sarcástica-. Não consegue ficar nem um dia sem emprego?

Não consegui responder, apenas comecei a chorar. A impotência, o medo e a vergonha me dominavam.

-O que aconteceu? -ele perguntou, e sua voz parecia menos dura-. Amélia, alguém fez algo com você?

-Aceito o seu maldito acordo -respondi entre soluços-. Mas quero que venha à clínica e pague as despesas da minha mãe. Ela está... morrendo.

Houve um silêncio desconfortável do outro lado da linha, e então, com um tom menos sarcástico, ele respondeu:

-Não se preocupe com o contrato agora. Espere aí, eu estarei aí em alguns minutos.

Sentei-me na sala de espera, abraçando os joelhos, tentando me acalmar. A dor do que eu estava vivendo era tanta que mal conseguia pensar. Não sei quanto tempo passou até que senti mãos firmes me levantarem do chão. Sem abrir os olhos, soube que era ele, Daniel Díaz.

Acordei em um quarto, envolta em um cobertor quente. Percebi que tinha dormido algumas poucas horas. Sua voz cortou o silêncio:

-Conseguiu dormir um pouco?

-Quanto tempo se passou? -perguntei, ainda sonolenta.

-Umas três horas. Sua mãe continua igual. Eu cuidei das contas da clínica e da hipoteca da sua casa por enquanto. Agora você pode ficar tranquila -ele disse, sem qualquer expressão.

-Obrigada... -murmurei com amargura-. Vou pagar cada centavo, pode ter certeza.

-Agora vamos falar do que importa. Quando nos casamos? Não posso esperar mais -ele disse, direto-. Meu avô quer me passar o controle das empresas, mas só confia em mim se eu estiver casado. Mas vou deixar claro: não sou um homem de uma mulher só.

Olhei para ele, furiosa, e respondi com firmeza:

-Tenho minhas condições: nada de exibições com outras mulheres enquanto durar o nosso casamento, nem rumores que possam me prejudicar. E quero que respeite minha integridade e poupe-me de comentários desrespeitosos.

Ele me olhou com sua habitual frieza, mas sua boca formou uma leve expressão de aprovação.

-Você tem fibra, Amélia. Nos casaremos amanhã. E, para que saiba, eu te pagarei um salário quatro vezes maior do que você ganhava. Mas insisto: não quero que me devolva nada do que paguei. Considere isso uma retribuição.

Cerrei os punhos, odiando-o ainda mais. Mesmo assim, sabia que não tinha outras opções.

-Está bem -respondi, tentando manter a calma-. Mas lembre-se de que, embora eu aceite, não sou sua marionete.

            
            

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