Capítulo 5 O Desafio do Açude

Com a recuperação de Ana, a vida na roça voltou a um ritmo mais tranquilo, mas a experiência recente havia deixado uma lição indelével em Ethan. Ele se sentia mais maduro e consciente das responsabilidades que tinha, tanto com sua família quanto com os animais. O desejo de se tornar veterinário se tornara ainda mais forte. As noites eram passadas estudando e sonhando acordado com o futuro. Certa manhã, enquanto ajudava seu pai a trabalhar na plantação de milho, Ethan notou que as nuvens se acumulavam no céu.

O cheiro da terra misturado com a umidade do ar anunciava que uma tempestade se aproximava. "Parece que vamos ter um dia chuvoso," comentou seu pai, observando o horizonte. "Precisamos nos preparar para isso." Com o passar das horas, a chuva começou a cair, inicialmente como uma leve garoa, mas rapidamente se transformou em um verdadeiro dilúvio. Os sons da água batendo no telhado eram ensurdecedores, mas Ethan sentia uma estranha sensação de alegria. A chuva era essencial para a roça, e ele adorava ver a terra sendo alimentada. No entanto, uma preocupação começou a surgir em sua mente: sua mãe estava na cidade, estudando à noite, e a tempestade poderia complicar seu retorno para casa. Ao meio da tarde, a chuva se intensificou, e Ethan e seu pai perceberam que o açude, localizado no fundo da propriedade, estava começando a encher rapidamente. "Precisamos verificar o açude!" disse Ethan, a preocupação evidente em sua voz. "Se transbordar, a pinguela vai ser coberta, e sua mãe não conseguirá atravessar!" "Você está certo, Ethan. Vamos ver o que podemos fazer," respondeu seu pai, já se preparando para sair. Eles se equiparam com capas de chuva e, juntos, caminharam até o fundo da roça, onde o açude se encontrava. Quando chegaram, o cenário era alarmante. A água subia rapidamente, e Ethan pôde ver que a pinguela, a única passagem entre a roça e a cidade, estava em risco de ser inundada. "Precisamos reforçar as margens do açude," disse seu pai, analisando a situação. "Se a água transbordar, não conseguiremos atravessar." Com determinação, pai e filho começaram a trabalhar. Eles coletaram pedras e troncos, criando uma barreira improvisada para conter a água. Ethan sentia o vento forte em seu rosto, e a chuva torrencial tornava o trabalho mais desafiador. Mas ele não se deixava abater. A urgência da situação o motivava a continuar, a preocupação com sua mãe o impulsionava. Enquanto trabalhavam, Ethan percebeu que a força da natureza era imensa, mas a união deles também era poderosa. "Pai, podemos fazer algo mais," sugeriu Ethan, a mente fervilhando de ideias. "Se a pinguela for coberta, sua mãe não conseguirá voltar!" "Tem razão," respondeu seu pai, olhando para o céu escuro. "Vou amarrar uma corda em um tronco e a outra na minha cintura. Se precisar, posso atravessar a correnteza e buscar sua mãe." Ethan sentiu um frio na barriga. A ideia era ousada e arriscada, mas também necessária. "Eu vou ajudá-lo a se preparar," disse ele, decidindo que não poderia deixá-lo enfrentar isso sozinho. Juntos, eles amarraram a corda, e o pai de Ethan se preparou para a travessia. "Fique firme e não se preocupe. Eu vou voltar," disse seu pai, com um olhar decidido, mas Ethan podia ver a apreensão em seus olhos. A água estava forte, e ele sabia que a correnteza poderia ser traiçoeira. Com um último olhar, seu pai entrou na água, a correnteza batendo em suas pernas. Ethan segurou a outra ponta da corda, sentindo a tensão aumentar. A cada passo, seu pai lutava contra a força da água, mas a determinação o mantinha firme. O coração de Ethan disparava, e ele rezava para que tudo desse certo. Finalmente, após uma luta intensa contra a correnteza, seu pai conseguiu alcançar a margem oposta. Ethan mal podia acreditar no que via. "Vou buscar sua mãe!" ele gritou, e Ethan assentiu, segurando a corda com todas as suas forças. Do outro lado, sua mãe estava à espera, encharcada e cansada, mas aliviada ao ver seu marido. "O que aconteceu?" ela perguntou, a voz tremendo. "A chuva... eu não consegui voltar a tempo." "Eu sei, mas estou aqui agora," respondeu seu pai, envolvendo-a em um abraço protetor. "Vamos atravessar juntos." Com sua mãe segurando a corda e seu pai guiando-a, eles começaram a travessia. A água batia contra suas pernas, e Ethan sentia o peso da responsabilidade. Atravessar a correnteza era um desafio, mas a união deles era mais forte. Com muito cuidado, eles conseguiram chegar ao outro lado, onde Ethan os aguardava. Quando sua mãe finalmente pisou na terra firme, Ethan correu para abraçá-la. "Eu estava preocupado com você!" ele disse, a voz embargada. "Mas você está bem!" "Estou bem, graças a vocês," ela respondeu, com lágrimas nos olhos. "Vocês foram muito corajosos." Naquela noite, enquanto a família se reunia para o jantar, o clima estava leve e cheio de risadas. Ethan percebeu que, apesar das dificuldades que a vida na roça trazia, havia sempre um motivo para celebrar. Ele se sentou à mesa, cercado por sua família, e agradeceu por mais um dia. Enquanto a conversa fluía, Ethan olhou pela janela e viu as estrelas começando a brilhar no céu, cada uma delas parecendo contar uma história de esperança. Ele fez uma promessa a si mesmo: continuaria lutando por seus sonhos e cuidando de quem amava, sempre pronto para enfrentar os desafios que a vida lhe apresentasse.

                         

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