Zoraida ouviu em silêncio enquanto Dana explicava o ocorrido. Ela a imaginava do outro lado da linha, sentada em seu pequeno apartamento em Nova York, com as mãos entrelaçadas e os olhos perdidos em algum ponto do vazio. Quando Dana terminou de falar, Zoraida sentiu uma onda de determinação percorrer seu corpo como um raio.
- Vou te ver - disse Zoraida sem hesitação.
- Não é necessário, Zora - respondeu Dana, tentando soar forte, mas sua voz tremia levemente.
- Não me importa se é necessário ou não - replicou Zoraida com firmeza. - Quero estar aí por você.
Sem perder tempo, Zoraida reservou um voo para Nova York naquela mesma noite. Sabia que Dana precisava de apoio e estava decidida a ser a rede de segurança que sua irmã merecia.
A manhã da viagem amanheceu fresca e tranquila. Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas cortinas da sala quando Adán bateu à porta de Zoraida. Era cedo, mas ele sempre fora pontual. Vestia uma jaqueta cinza quente e jeans escuros, e seu cabelo estava bagunçado daquela maneira que Zoraida adorava.
- Bom dia, pronta? - perguntou Adán com um sorriso suave enquanto entrava para ajudá-la com as malas.
- Pronta, embora um pouco nervosa - admitiu ela, fechando o último zíper de sua mala azul. Vestia uma camisa bege e jeans confortáveis, acompanhados por um cachecol marrom que sua mãe havia tricotado anos atrás. Esforçou-se para sorrir, mas seus olhos revelavam uma mistura de preocupação e expectativa.
Durante o trajeto até o aeroporto, as ruas ainda estavam tranquilas, iluminadas por um brilho matinal tênue. O som do motor e o murmúrio distante do tráfego enchiam o ar. Zoraida olhava pela janela, observando as árvores nuas passarem rapidamente, enquanto sua mente viajava até Dana.
- Está nervosa? - perguntou Adán, rompendo o silêncio.
- Um pouco - confessou Zoraida, virando-se para ele. - Não sei como Dana estará quando eu a vir. Isso tem sido muito difícil para ela. Mas também estou animada. Quero celebrar que agora ela está livre e ajudá-la a se preparar para o que vem a seguir.
Adán sorriu e segurou brevemente a mão de Zoraida enquanto o semáforo estava vermelho. Seu gesto era caloroso, cheio de apoio e compreensão.
- Você é uma irmã incrível. Dana tem muita sorte de ter você.
Quando chegaram ao aeroporto, Adán estacionou o carro e desceu para ajudá-la com a mala. Havia um silêncio carregado de emoções entre eles. Ambos sabiam que sentiriam falta um do outro, embora fosse apenas por alguns dias ou semanas.
Zoraida abraçou Adán com força, sentindo o calor de seu corpo e a segurança que ele sempre lhe proporcionava.
- Cuide-se enquanto eu estiver fora - disse ela, olhando nos olhos dele com um leve sorriso.
- E você cuida da sua irmã - respondeu Adán suavemente. - Me liga quando chegar, tá?
Despediram-se com um beijo cheio de amor e promessas silenciosas. Embora estivessem se separando por um tempo, sua conexão era firme e verdadeira.
O voo de Zoraida transcorreu sem problemas, mas seu coração palpitava de antecipação enquanto o avião descia sobre Nova York. As luzes da cidade brilhavam como estrelas presas entre prédios, e o ar frio a recebeu como um lembrete de novos começos.
Ao chegar ao apartamento de Dana, Zoraida sentiu uma mistura de alívio e tristeza. O prédio era antigo, mas bem cuidado, com uma fachada de tijolos vermelhos que falava de histórias passadas. Quando Zoraida subiu os degraus, ouviu a porta se abrir antes que pudesse bater. Dana estava ali, esperando por ela.
Usava um suéter largo cor de vinho e calças pretas. Seu cabelo estava preso em um coque desarrumado e, embora seus olhos estivessem cansados, seu sorriso iluminou o momento.
- Não acredito que você está aqui - disse Dana, envolvendo Zoraida em um abraço longo e caloroso.
- Onde mais eu estaria? Enfrentamos isso juntas.
O apartamento de Dana era pequeno, mas acolhedor. A sala estava decorada com móveis simples e algumas plantas que davam um toque de vida ao espaço. Naquela noite, as duas irmãs sentaram-se no sofá, compartilhando histórias, risadas e lágrimas. Falaram sobre o passado, o futuro e as esperanças que ambas tinham para o bebê que Dana esperava.
Depois de uma noite de descanso, Zoraida e Dana sentaram-se na manhã seguinte para tomar café juntas na pequena mesa da cozinha. A luz do sol filtrava-se pela janela, enchendo o ambiente com um brilho acolhedor. Foi então que Dana, com os olhos fixos em sua xícara de café, respirou fundo.
- Há algo que preciso te contar - disse, sua voz quase um sussurro.
Zoraida franziu a testa, deixando sua colher de lado.
- Diga, Dana. O que for.
Dana ergueu o olhar, visivelmente nervosa. Seus dedos tamborilavam contra a mesa.
- É sobre Clara. Ela está esperando gêmeos.
Por um momento, Zoraida ficou em silêncio, processando a informação. Então, como se uma torrente de emoções fosse liberada de repente, seu rosto se tensionou.
- Clara? A mesma Clara que esteve envolvida com Mateo? - Sua voz se elevou, carregada de incredulidade e raiva.
Dana assentiu lentamente.
- Sim. E... os gêmeos são dele.
Zoraida se levantou de um salto, sua cadeira rangendo contra o chão. Seu peito subia e descia rapidamente, como se a raiva ameaçasse transbordar.
- Não posso acreditar nisso! Que tipo de pessoa faz uma coisa dessas? E Mateo? O que diabos ele estava pensando? - exclamou, andando de um lado para o outro na cozinha, suas mãos gesticulando furiosamente.
Dana encolheu-se um pouco, sentindo-se pequena diante da intensidade da reação de sua irmã.
- Não estou defendendo o que eles fizeram, Zora - disse com a voz trêmula. - Mas eu precisava que você soubesse a verdade. Não podia mais guardar isso para mim.
Zoraida parou, respirando fundo para se acalmar. Fechou os olhos por um momento e depois voltou a olhar para Dana. Sua expressão ainda era severa, mas havia também um pouco de dor em seus olhos.
- Isso... isso é muita coisa para assimilar. Mas obrigada por me contar. Não vou permitir que essa situação te destrua mais do que já destruiu.
Dana assentiu, sentindo um alívio tênue por ter se libertado daquele peso. Sabia que a tempestade de emoções de Zoraida fazia parte do que as tornava tão próximas: sua paixão por protegê-la, mesmo quando as notícias eram difíceis de suportar.