Trevor sempre foi difícil de lidar e após perder seu filho em um acidente de carro, se tornou pior ainda, com a responsabilidade de criar Arícia acabou sendo rígido demais, não era capaz de dar amor a menina, como havia feito no passado com seus filhos, ele queria a moldar, para ser uma herdeira perfeita.
Com tantas exigências e regras, a adolescência dela foi uma fase bastante difícil, com a perda dos país, a personalidade dela mudou, foi sendo regada a isolamento, mania de não se abrir para coisas e pessoas novas, vivendo sobre o medo constante de errar, assim decepcionando seu avô, esses modos a privaram de aproveitar melhor a juventude.
Enquanto as amigas amadureciam, aprendendo com os erros, como deveria ser, Arícia apenas observava a tudo, sem se envolver em qualquer risco.
Ainda assim, ela se tornou uma mulher forte, engenhosa, inteligente e muito bonita, destoante que ainda discreta com um estilo clássico chique, atraia todos os olhares masculinos por onde passava, com seus cabelos longos escuros, olhos amendoados daqueles serradinhos que mostravam o sorriso se aproximando, sempre optou por ser discreta escondendo seu corpo era escultural.
Trevor queria que a neta seguisse seus passos, estudando direito, ao recusar após terminar o ensino médio, ela foi convidada a se retirar de casa, foi inacreditável ver que algo tão simples, uma escolha tão pessoal, causou essa discórdia toda.
Estavam jantando e no mesmo instante, Trevor a mandou se levantar e sair, levando apenas as roupas, ainda menor de idade, desempregada, teve dois dias para fazer as malas e partir, tão geniosa quanto ele, ela viu isso como um desafio pessoal, não questionou nada e foi, largando a boa vida, um quarto muito confortável decorado do jeito que ela adorava, um lar aconchegante com vários funcionários.
Trevor acreditava que a jovem voltaria rapidamente, afinal, era uma menina mimada, acostumada a viver no luxo, ao ver dele, era um grande desaforo, ela se recusar a cursar direito e trabalhar para ele.
Arícia não desistiu de seus sonhos mediante o grande desafio, encontrou uma república só para meninas, onde era cobrado um valor baixo pela estadia, elas tinham direito aos mantimentos simples, arroz, feijão, café, açúcar, produtos de limpeza, todo o resto era separado, carnes, legumes e verduras, guloseimas e os produtos de higienepessoal.
Lá tinham muitas regras e isso era ótimo para a boa convivência, não era permitido nada de visitas de nenhum tipo, ninguém diferente podia entrar, homem, familiar, amigas, tinham até uma escala de limpeza.
Usando as economias da bela mesada que recebia, ela pagou a estadia, recarregou o passe do ônibus, algo que ela nem tinha, pois em casa, andava com o motorista todos os dias, não era algo que ela dizia, mas se sentia extremamente humilhada, indo levar uma vida tão simplória.
Ela havia sido aprovada com uma bolsa de estudos, decidiu estudar arquitetura, desde pequena amava desenhar, organizar ambientes, decorar, ver construções desde o início até o fim.
Não é surpresa para ninguém, que estudar é sempre muito desgastante, com Arícia não era diferente, já que agora pegava quatro ônibus no dia, seu desempenho caiu muito, a falta de boa alimentação, também já a prejudicou no primeiro mês, a deixando doente com a imunidade baixa.
Ela precisava de um emprego e a reserva da poupança estava se acabando, era difícil não poder comprar roupas, sapatos como antes, até o dinheiro de um docinho, fazia falta.
Nas vésperas de uma entrevista de emprego em uma empresa muito importante na cidade, ela aderiu a dica de sua colega de quarto, comprar uma roupa linda para impressionar e usar, sem tirar a etiqueta, assim podendo trocar depois.
Não foi preciso experimentar muito, ela foi ao shopping em uma loja popular, no final do dia, tomou um sorvete de casquinha e foi embora arrasada, querendo muito comer comida japonesa.
Trevor havia falado com ela a alguns dias e a chamou com deboche, para ir jantar na casa dele, disse que se ela precisasse de qualquer coisa, era só ir até lá.
Muito orgulhosa ela garantiu que estava indo muito bem, amadurecendo com as mudanças, conhecendo pessoas, por pouco não pediu dinheiro no dia que foi ao shopping.
O escolhido foi um vestido clássico, com zíper nas costas, azul rente ao corpo para modelar e largo o suficiente para não ser vulgar, parecia roupa de primeira dama, era realmente lindo e chique.
Foi até difícil dormir e descansar a noite, ela levantou bem cedo animada, colocou o vestido, um cardigã preto, fez uma maquiagem sutil, olhos com rimel e delineador, calçou um salto não muito alto de bico fino, foi para a sua primeira entrevista, imaginando como seriam as outras candidatas, menos instruídas, mais velhas.
Ficou muito surpresa com a quantidade de candidatas, eram mais de quinze mulheres, de todos os tipos, algumas tão jovens quanto ela e outras até senhoras, a maioria estava bem vestida, mas poucas tão chiques quanto ela.
Levaram muitas horas até serem liberadas, uma moça as levou para começar o processo seletivo, ficaram todas em uma sala grande, fazendo provas de conhecimentos gerais, de inglês, informática, até de questões sobre a empresa.
Arícia foi a última a sair, por ter refeito com perfeccionismo todas as questões da prova, chamou muito a atenção da secretária que a entrevistou, distraída foi observada várias vezes pela janela, o ceo da empresa deu risada e questionou com a secretária, se iriam dar um estágio ou um milhão de dólares, porque aquela candidata estava ficando maluca, querendo ser a ganhadora de qualquer modo.
Assim que ela saiu esperançosa por ter vivido algo novo e instigante, começou mexer no celular, em frente a guarita da empresa, enquanto esperava o ônibus se distraiu, já estava anoitecendo e a rua estava vazia, dois rapazes se aproximaram, com brincadeiras sobre a tocar, tirar a roupa, ficaram em pé como se fossem pegar o ônibus, ela decidiu se afastar, estava quieta os ignorando, um deles puxou seu cabelo com graça
- Oooooo morena cheirosa, não pode andar sozinha por aí, é perigoso. A onde vai?
Ela estava apavorada, ficou sem reação, pegaram a bolsa dela rindo
- Parceiro vamo vê oque tem aí?
Jogaram tudo no banco do ônibus, um deles pegou o dinheiro da carteira
- Cinquentinha, só isso morena? Que merda!