Minha respiração ficou pesada. Odiava aquele termo, mas decidi que não daria a ele o prazer de me ver irritada ou triste.
- É mesmo? E o que você acha agora que me viu? - cruzei as pernas.
Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos se movendo para minha perna e depois para meu rosto.
- Acho que ele exagerou. Você mancou, mas não parece ser algo incapacitante.
- Que alívio saber que passo no teste - respondi, com sarcasmo escorrendo de cada palavra.
Alejandro soltou uma risada baixa, algo entre divertido e incrédulo.
- Gosto do seu fogo, Camila. Isso vai tornar as coisas interessantes.
- Não estou aqui para te entreter, Alejandro. Ainda falta tempo para mim. Ainda não se passaram três anos.
- Bobagem... Só tem mais duas semanas para isso. - se inclinou para mim - Vamos marcar a data do casamento.
Droga! Eu ainda não me sinto pronta a casar. Eu sei que estou dentro do final do prazo, mas a ideia ainda me incomoda um pouco. Eu nem sei nada sobre ele.
- Se quer marcar o casamento, ótimo. Mas antes disso, eu preciso te conhecer melhor.
Ele arqueou a sobrancelha, como se eu tivesse dito algo completamente absurdo.
- Já passaram os três anos, Camila. Quanto mais tempo você precisa?
- Três anos em que você me ignorou. Não houve uma ligação, uma mensagem, nada... Agora você aparece e espera que eu simplesmente obedeça sem questionar?
Ele reclinou-se no sofá, parecendo considerar minhas palavras.
- Você tem um ponto. Eu deveria ter mantido contato. Mas eu sabia que você precisava de liberdade antes de... - ele fez uma pausa, um sorriso sutil no rosto - Pertencer a mim.
- Pertencer? - repeti, indignada.
- Não se preocupe, eu cuido bem do que é meu. - mexeu a cabeça e chamou uma garçonete com um gesto.
Eu ia responder algo ácido, mas a garçonete entrou na sala trazendo uma bandeja com drinques. Ela parecia nervosa, provavelmente intimidada por Alejandro e a atmosfera que ele emanava. Mal olhou pra gente.
Ao colocar a bandeja na mesinha, ela esbarrou no copo de uísque de Alejandro, derramando parte da bebida em sua camisa impecável. Ele se jogou de lado.
- Maldição! - Alejandro levantou-se abruptamente, olhando para a mancha em sua roupa.
Eu não consegui evitar. Uma risada escapou antes que eu pudesse me controlar. Ele me lançou um olhar cortante, mas isso só tornou a situação ainda mais engraçada.
- Está rindo? - perguntou, a voz baixa, mas carregada de uma ameaça que não soava tão assustadora quanto ele provavelmente esperava.
- Um pouco, sim - admiti, mordendo o lábio para tentar me recompor.
A garçonete começou a gaguejar desculpas, mas Alejandro ergueu a mão para silenciá-la. Ela fechou a boca na hora.
- Tudo bem. Pode ir.
Assim que ela saiu, ele se virou para mim.
- Engraçado, não é?
- Muito - respondi, sem hesitar.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente tentando recuperar o controle.
- Voltando ao que interessa - disse, sentando-se novamente. - Vamos marcar o nosso casamento.
- Não tão rápido - cruzei os braços, recostando-me no sofá. - Primeiro, vamos conversar. Quero entender o que você espera de mim como sua esposa.
Ele me encarou por alguns segundos antes de sorrir novamente. E tem o sorriso bonito.
- Está bem, Camila. Pergunte o que quiser. - continuou a limpar a camisa com um lenço.
Olhei para ele, avaliando se estava realmente disposto a ser sincero ou se aquilo era mais um de seus jogos. Decidi arriscar. Não o conheço realmente.
- Por que aceitou esse acordo?
- Porque achei que você seria um bom complemento para mim - ele disse, sem rodeios.
- Complemento? - estreitei os olhos.
- Sim. Inteligente, bonita, com uma dose saudável de rebeldia. Tudo o que um homem como eu precisa em uma esposa.
- E como sabia que eu seria assim, se nunca entrou em contato comigo?
- Eu tenho meios - pegou o copo.
Isso me deixou curiosa.
- Que meios? Meu pai passou informações sobre mim à você?
- Até que ele respondeu algumas de minhas perguntas, mas não foi ele o principal informante - bebeu um gole grande.
- Você tem informantes? Sobre mim? - fiquei surpresa. Não de um jeito bom.
- Mas é claro que sim - deu uma risadinha - E por acaso você acha que sua liberdade vem de onde?
- Do acordo que fiz com meu pai.
- Não, não... - ele balançou a cabeça, rindo - O seu pai lhe permitiu sair para o mundo, porque eu sempre estive protegendo você.
- Me vigiando, isso sim!
- Como queira - deu de ombro.
- E o que você vai me dar em troca?
Ele se inclinou para frente, o rosto mais perto do meu do que eu esperava.
- Tudo, Camila... Desde que saiba me obedecer.
Engoli em seco, sentindo a tensão no ar, mas não recuei.
- Veremos, Alejandro. Veremos.
- Acho que você não me entendeu, Camila. - a voz dele era baixa, mas carregada de um peso que me fez prender a respiração. - Eu não estou aqui para pedir sua permissão. Estou aqui para cumprir um acordo.
- E se eu decidir desistir? - perguntei, mantendo a cabeça erguida, embora o nervosismo estivesse começando a apertar meu peito.
Ele sorriu de lado, mas não havia humor no gesto.
- Não vai desistir. Não depois de todo o tempo que perdi esperando por você.
- Esperando? Sabe o que significa essa palavra? Você nunca se deu o trabalho de me procurar ou de falar comigo nesses três anos. Como isso é "esperar"? - rebati, sentindo a irritação crescer novamente.
Ele ergueu uma sobrancelha, o sorriso desaparecendo.
- Você acha que estava completamente livre, Camila? - balançou a cabeça devagar. - Eu sabia de tudo o que você fazia. A faculdade, os amigos, até as boates que frequentava.
Meu estômago afundou. Ele não podia estar falando sério.
- Então... Você... me vigiou mesmo? - perguntei, incrédula.
Alejandro não respondeu imediatamente. Ele pegou o copo de uísque novamente, como se estivesse deliberando sobre como me responder.
- Digamos que eu tinha interesse em garantir que você estivesse segura... E que mantivesse sua palavra.
- Minha palavra? - ri com sarcasmo, balançando a cabeça. - Que piada! Eu fui jogada nesse acordo como um prêmio de consolação para você. E agora você quer me forçar a viver como... O quê? Sua esposa-troféu?
Ele deu um leve sorriso, mas havia algo sombrio nele.
- Muitas no meu mundo seriam gratos por uma posição como essa.
- Eu não sou "muitas", Alejandro.
Os olhos dele estreitaram, mas, em vez de rebater, ele fez algo que me pegou desprevenida: começou a rir.
- É por isso que eu escolhi você. Essa sua língua afiada, essa rebeldia... É até fascinante.