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img img Imprevisível img Capítulo 2 O Encontro com os Pais de Otto
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Capítulo 6 A noite da decisão img
Capítulo 7 O peso das consequências img
Capítulo 8 O último refúgio img
Capítulo 9 O confronto interior img
Capítulo 10 A decisão fatal img
Capítulo 11 Algo diferente img
Capítulo 12 Ninguém poderia destruir img
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Capítulo 2 O Encontro com os Pais de Otto

Alguns dias após Otto ter declarado que tentaria olhar para o mundo com outros olhos, Lara foi tomada por um sentimento contraditório. Por um lado, sentia uma estranha sensação de esperança, mas por outro, sabia que o caminho até a verdade seria longo e doloroso. O que ela não sabia era que a mudança que estava se desenrolando em Otto teria implicações profundas para ambos, e o primeiro passo para isso seria algo que ela não esperava: o convite para conhecer os pais de Otto.

Ele a chamou em um dos raros momentos em que se encontraram no parque, ainda com a tensão entre eles, mas com uma promessa de que as palavras e ações de Lara haviam abalado suas crenças.

"Lara," disse Otto, com uma hesitação evidente, "meus pais querem te conhecer. Eles... eles acreditam em você, acreditam que o que você disse sobre a liberdade e sobre pensar por si mesmo pode ser real. Eles querem saber mais."

Lara não sabia se deveria ficar lisonjeada ou aterrorizada. Os pais de Otto, ela sabia, eram pessoas poderosas e respeitadas dentro do regime, figuras imponentes que não questionavam as ordens que recebiam. Ela sabia o que isso significava. Encarar os pais de Otto significava encarar a ideologia de um sistema que os dois estavam tentando, de alguma forma, desafiar. Mas também sabia que este seria um momento crucial - o teste real da mudança de Otto.

No dia seguinte, ela seguiu Otto até uma mansão imponente, no centro da cidade. Os jardins eram enormes, e o ar estava denso, como se até o espaço ao redor deles fosse projetado para manter o mundo de fora. Otto a conduziu até a porta com um nervosismo visível, um contraste com a postura firme que sempre mantivera.

Ao entrar, Lara foi imediatamente acometida por um silêncio reverente, quase reverencial, que parecia pesar o ar. Os pais de Otto estavam esperando na sala de estar, uma sala grande e austera, decorada com imagens e símbolos que exaltavam o ideal nacionalista.

O pai de Otto, um homem alto e de expressão rígida, se levantou ao vê-los entrarem. Seus olhos eram penetrantes, quase avaliadores, como se tentasse medir a qualidade da resistência que estava prestes a encontrar. Ele estendeu a mão, com um sorriso congelado nos lábios.

"Bem-vinda à nossa casa, Lara," disse ele com uma voz fria, mas educada. "Otto tem falado muito sobre você. Deixe-me ser direto: nós apreciamos o que ele tem de bom em seu caráter, e é claro, sua inteligência. A questão, porém, é se suas ideias têm base na realidade."

Lara sentiu um nó na garganta. Ela sabia que aquilo não seria fácil. Otto, ao seu lado, não disse uma palavra, mas seu olhar dizia tudo. Ele estava ali, com ela, porque de alguma forma sabia que sua vida estava prestes a mudar de uma maneira irreversível. Mas ele também sabia que aquele momento de confronto com seus pais poderia ser o fim de sua relação com eles - ou, quem sabe, o início de uma reavaliação profunda.

A mãe de Otto, uma mulher de aparência serena, mas com um olhar de severidade oculta, observava Lara atentamente. Ela se aproximou e falou suavemente, mas com um tom que denotava seu completo controle sobre a situação:

"Você deve entender, Lara," disse ela, com um sorriso que parecia mais uma máscara, "que os ideais que seguimos são a base de nossa civilização. Eles são tudo o que nos mantém fortes e unidos. Dizer o contrário é uma ameaça, não apenas para nossa nação, mas para todos aqueles que dependem de nossa estabilidade."

Lara sentiu a pressão aumentando. Ela procurou as palavras certas para resistir, para expressar o que realmente acreditava, mas uma parte de si hesitava. Ela olhou para Otto, que permanecia em silêncio, e sentiu uma onda de emoção lhe invadir. Ela sabia que ele estava dividido, que ele sentia o peso da aprovação de seus pais e a força de suas próprias crenças. Mas ela também sabia que o que ela dizia poderia mudar tudo para ele.

Ela respirou fundo e, com um olhar direto para os pais de Otto, disse:

"Eu entendo o que dizem. Mas o que vejo é que a verdadeira força vem da compreensão, não da opressão. A liberdade de pensar, de viver de maneira autêntica, sem ser moldado por mentiras, é o que realmente mantém as pessoas unidas. O ódio não pode ser a base de uma sociedade próspera. E não, não sou uma ameaça. Eu sou apenas alguém que quer ver um mundo onde todos possam ser quem são sem medo."

O silêncio que seguiu foi profundo e pesado. Otto olhou para ela com uma mistura de admiração e incerteza, os olhos cheios de um conflito que ele ainda não sabia como resolver. Seus pais, no entanto, não pareciam nada impressionados. O pai de Otto franziu a testa e disse, com uma voz grave:

"Eu esperava mais de você, Otto. Você me diz que essa garota tem algo de bom em suas ideias? Você sabe que ao se aliar a ela, você está indo contra tudo o que construímos."

A tensão na sala aumentou, e Lara sentiu um frio subir por sua espinha. Otto estava em uma encruzilhada. A decisão dele naquele momento não era apenas sobre ela, mas sobre sua própria identidade, sobre a relação com seus pais e o peso das expectativas que ele sempre carregara.

Otto finalmente falou, sua voz baixa, mas cheia de emoção:

"Eu... eu não posso mais concordar com tudo isso, pai. Não posso mais seguir cegamente o que me ensinaram, porque sei que há mais no mundo do que isso. Não sou mais quem vocês querem que eu seja."

As palavras de Otto caíram como uma bomba na sala. A reação dos pais foi imediata: a mãe olhou para ele com um misto de decepção e raiva. O pai de Otto não disse uma palavra por um longo momento, mas o silêncio que se seguiu foi mais pesado do que qualquer palavra que ele pudesse ter dito.

"Você está se afastando de tudo o que somos, Otto. Isso não vai acabar bem," disse o pai, com uma ameaça sutil em sua voz.

Mas Otto não se intimidou. Ele olhou para Lara e então, sem dizer mais nada, caminhou até a porta. Ela, com o coração apertado, o seguiu. Naquele momento, Lara sabia que aquilo significava o começo de algo irreversível para Otto e, por consequência, para ela também. Eles haviam cruzado a linha entre o conformismo e a resistência.

E enquanto a porta se fechava atrás deles, Lara sabia que a luta estava apenas começando. Mas, pela primeira vez, ela não estava sozinha.

Esse momento de confronto com os pais de Otto marca uma virada decisiva, onde as emoções e a verdade começam a emergir, e tanto Otto quanto Lara enfrentam as consequências de suas escolhas e seus sentimentos.

            
            

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