Mercedes, com sua habilidade de saber quando a situação precisava ser mais "explorada", começou a caminhar na direção de Helena. Ao se aproximar, ela sorriu de forma cordial, mas com um toque de curiosidade que indicava que ela queria saber mais.
- Helena... - começou Mercedes, com sua voz suave e um sorriso afável. - Que bom ver você aqui.
Helena se virou, surpresa, mas logo a recepção amigável de Mercedes a fez relaxar.
- Mercedes! Que bom te ver. Estava esperando encontrar você por aqui.
A conversa entre as duas começou, mas Mercedes estava mais focada em tentar arrancar algo sobre a relação entre ela e Victor. Ela sabia que Helena sempre tinha algo para contar, e, se conseguisse, talvez pudesse entender melhor o que estava acontecendo. Ela se inclinou um pouco para frente, com um sorriso enigmático.
- Então, Helena... - começou Mercedes, tentando parecer casual, mas com um brilho de interesse nos olhos - Vocês dois estão se entendendo bem, não?
Helena sorriu com prazer, sem perceber a pequena tensão no ar.
- Claro, estamos nos divertindo, como sempre... - respondeu Helena, com um tom descomplicado.
Enquanto as duas conversavam, Victor já estava, cumprimentando os outros convidados da festa. Ele caminhou pela sala com passos firmes, tentando não parecer distraído, mas sua mente estava distante. Ele cumprimentou algumas pessoas, fez pequenas pausas aqui e ali, sempre com um sorriso educado, até chegar ao buffet.
Foi ali que ele viu algo que o fez engolir seco.
Victor se aproximou discretamente do buffet, tentando desviar o olhar da cena que o havia incomodado. Mas, a cena à sua frente continuava a mexer com seus pensamentos. Isabelle, com sua postura delicada, estava conversando com um dos assessores da empresa, um homem alto e bem vestido. Ele se aproximou dela, sorrindo educadamente, enquanto abaixava-se para pegar algo que caíra no chão.
Victor não conseguia desviar o olhar. O assessor entregou o brinco que havia caído de Isabelle e, com um gesto elegante, ela o agradeceu com um sorriso. O assessor permaneceu ali por um momento, esperando que ela o colocasse novamente no lugar.
- Muito obrigada, Sr. Luiz - Isabelle disse com um sorriso suave, colocando o brinco de volta no lugar e ajustando-o em sua orelha.
Luiz sorriu, um sorriso profissional, mas seus olhos brilhavam com algo a mais.
- Não foi nada, Isabelle. Fico feliz em poder ajudar - respondeu ele, ainda olhando para ela com um ar de cumplicidade.
Isabelle sorriu de volta. Ambos se dirigiram ao buffet, onde estavam dispostos pratos sofisticados e variados. Eles pegaram suas porções e começaram a conversar sobre trivialidades, enquanto Victor observava de longe, sentindo um desconforto crescente. A interação parecia cordial, mas algo não parecia certo.
Luiz, com sua postura relaxada, fez questão de se sentar com Isabelle e as crianças. Ele se acomodou ao lado delas na mesa, começando a brincar com os pequenos com uma naturalidade que Victor não gostava de ver. As crianças riam e se divertiam, respondendo animadas às brincadeiras de Luiz, que parecia se sentir à vontade demais para alguém que acabara de conhecer.
Victor, em pé a uma distância, rangeu os dentes. Sua mandíbula se apertou à medida que ele via Luiz com as crianças, falando com um tom carinhoso, e Isabelle reagindo de forma tão receptiva. Ele sentiu algo dentro de si apertar, um certo desconforto inexplicável. Ele respirou fundo, tentando se controlar.
O que estava acontecendo? Por que aquela cena o incomodava tanto?
Ele queria se aproximar, mas estava em um conflito interno. Mas cada palavra trocada entre Isabelle e Luiz parecia intensificar a sensação de possessividade que ele estava tentando controlar.
- Você é ótima com as crianças - Luiz disse com um sorriso gentil para Isabelle, brincando com os brinquedos que elas seguravam.
- Elas são um encanto - Isabelle respondeu, sorrindo com a mesma naturalidade. Ela parecia à vontade, mas algo na forma como Luiz a olhava fazia Victor se sentir cada vez mais irritado.
Victor estava prestes a dar os primeiros passos em direção à mesa onde Isabelle e Luiz estavam sentados quando sentiu um toque suave em seu braço. Ele virou o rosto e encontrou Helena sorrindo de maneira sugestiva.
- Precisamos conversar... - ela disse, puxando-o delicadamente pelo braço.
Ele hesitou, olhando de relance para Isabelle, que ria de algo que Luiz dissera. Seu incômodo cresceu, mas antes que pudesse tomar qualquer decisão, Helena o puxou com mais firmeza.
Mercedes, observando de longe, cruzou os braços em desagrado. Seu cunhado já era naturalmente o centro das atenções, mas naquele momento, a forma como Helena o monopolizava estava a incomodando.
Victor tentou se desvencilhar, mas Helena aproveitou o momento de distração dele para entrelaçar os braços ao redor do seu e guiá-lo para fora do salão, passando pela porta que levava ao jardim. A iluminação ali era sutil, criando sombras entre as plantas e o caminho de pedra.
- Helena, eu realmente não... - Victor começou, mas ela colocou um dedo em seus lábios, silenciando-o.
- Só um momento, querido. Quero aproveitar que estamos longe dos olhares curiosos...
Enquanto isso, na mesa do buffet, Isabelle percebeu o movimento e virou o rosto a tempo de ver Victor e Helena saindo. Seus olhos seguiram o casal por um breve instante, até que desaparecessem no jardim.
Ela piscou algumas vezes, tentando afastar o incômodo que sentiu ao vê-los juntos. Afinal, a vida íntima do patrão não era problema seu. Então por que aquela sensação estranha se instalava em seu peito?
Disfarçando seu olhar curioso, Isabelle voltou a atenção para Luiz, que continuava entretendo as crianças com brincadeiras leves. Ainda assim, uma inquietação silenciosa a acompanhou, mesmo quando forçou um sorriso e fingiu que nada daquilo lhe importava.
Uma das crianças puxou sua manga pedindo sobremesa, ela viu a oportunidade perfeita para se levantar e espairecer.
- Claro, querido. Vou buscar para você - respondeu gentilmente, deslizando para fora da cadeira.
Caminhou até o buffet, escolhendo cuidadosamente uma pequena taça de mousse de chocolate. Porém, ao levantar o olhar por instinto, sua visão se prendeu em uma cena do lado de fora, além da porta envidraçada que dava para o jardim.
Ali, sob a iluminação discreta das luzes externas, Victor estava de pé, imóvel, enquanto Helena o segurava pelo rosto e o beijava.
Isabelle sentiu seu estômago se revirar em um desconforto inesperado. Não era surpresa que um homem como Victor tivesse uma mulher ao seu lado, mas ver aquilo com seus próprios olhos provocou uma sensação estranha, como se algo apertasse seu peito.
Seu olhar permaneceu fixo por alguns segundos a mais do que deveria. Ela piscou rapidamente, tentando afastar o pensamento bobo que a tomou por um instante. Respirou fundo e desviou o olhar, voltando sua atenção para a sobremesa que segurava nas mãos.
Era um beijo, apenas isso. Nada que lhe dissesse respeito.
Endireitando os ombros, voltou para a mesa com um sorriso que não alcançava seus olhos, tentando ignorar o fato de que a cena ainda estava gravada em sua mente.