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O sol da manhã filtrava-se timidamente através das folhas douradas das árvores que cercavam a mansão, iluminando a fachada de pedra com sua luz quente. Loana aproximava-se da enorme porta de entrada da mansão com passos apressados, um nó no estômago apertando-lhe o peito. Ontem, após seu encontro com Mihai, havia deixado sua visita inacabada, sem conseguir encontrar sua mãe, que trabalhava na cozinha. Seu irmão continuava doente, e a preocupação não a deixava em paz.
Hoje, decidiu voltar, na esperança de que sua mãe estivesse lá e pudesse levar-lhe algum remédio para o pequeno, que estava cada vez mais fraco. Caminhou pelo caminho de pedra, entre as plantas bem cuidadas, sentindo mais uma vez o contraste entre seu mundo e o daqueles que habitavam a mansão. Sua mãe sempre lhe falara sobre a grandiosidade daquele lugar, mas Loana nunca imaginara que um dia estaria ali, cruzando suas portas como uma sombra, um espectro invisível entre os criados e os luxos da família Ionescu.
Ao chegar ao corredor de serviço, Loana viu várias criadas trabalhando apressadas, mas sua mente estava focada na necessidade de encontrar sua mãe. O ruído dos passos desvaneceu-se quando, ao virar a esquina, deu de cara com uma figura familiar: Mihai.
Ele a observou imediatamente, seus olhos oscilando entre a surpresa e a curiosidade. Sua presença naquele corredor não deixava de ser estranha, e o que o surpreendeu ainda mais foi vê-la ali novamente, sozinha, com o cabelo preso e o rosto carregado de uma expressão de ansiedade que não notara no dia anterior.
- Você de novo - disse Mihai, sem tentar esconder o desconcerto em sua voz, cruzando os braços enquanto a observava do umbral da cozinha. O tom de sua voz era um pouco duro, mas não estava tão irritado quanto no dia anterior. Havia algo nele, um interesse sutil que Loana não conseguia compreender completamente.
Loana o observou por um instante, surpresa pelo fato de que ele se lembrava dela. Não entendia o que ele fazia naquela parte da mansão, tão longe das áreas de seu pai, tão distante de seu mundo de riqueza e poder. Mas a pergunta ficou presa em sua garganta, pois não ousava questioná-lo diretamente.
- Vim procurar minha mãe - respondeu ela, tentando soar tranquila, embora por dentro sentisse uma mistura de desconforto e ansiedade. Sabia que não deveria estar ali, que sua presença não se encaixava naquele mundo, mas o amor e a preocupação por seu irmão a impeliam a não recuar.
Mihai a observou em silêncio por alguns segundos, analisando suas roupas simples e sua postura curvada, como se tentasse fundir-se com as sombras do corredor. Ela não era uma das suas, isso era evidente, e isso só despertava ainda mais sua curiosidade. A mansão, sempre cheia de pessoas que se esforçavam para agradá-lo, nunca estivera tão próxima do povo comum como agora, com Loana diante dele.
- Qual é o seu nome? - perguntou ele, de maneira direta, mas sem a arrogância do dia anterior. Seu tom era mais suave, embora ainda carregasse uma certa distância.
Loana, surpresa com a pergunta, ergueu o olhar para encará-lo nos olhos. Não esperava que ele tivesse curiosidade sobre seu nome. Naquele momento, um calor estranho percorreu seu corpo, e o nervosismo tomou conta dela ao perceber que ele a observava atentamente.
- Loana - respondeu ela, quase sussurrando, com os olhos fixos nos próprios sapatos, como se a humildade de seu nome fosse uma marca que não queria que ele percebesse.
O silêncio que se seguiu estendeu-se entre eles, carregado de algo que nenhum dos dois conseguia identificar. Mihai sentiu-se inquieto, como se, por um instante, a bolha de seu mundo estivesse prestes a estourar, mas conteve-se. Momentos como aquele eram raros em sua vida, onde sempre fora o centro das atenções, cercado por pessoas que sabiam exatamente o que fazer e o que dizer.
- Loana... - repetiu ele, como se saboreasse o nome em seus lábios, e então franziu ligeiramente a testa. - Por que não fica? Minha mãe não está aqui, mas tenho certeza de que as cozinheiras podem ajudá-la com o que precisar.
A oferta parecia generosa, mas Loana sabia que era um convite vazio, uma cortesia que ele não pretendia cumprir. Sentia-se desconfortável com sua proximidade, percebendo o abismo que os separava: a riqueza que o cercava, a pobreza que a marcava. Decidiu ignorar a oferta; não queria sequer imaginar-se em uma posição em que precisasse pedir favores às criadas ou, pior ainda, sentir-se ainda mais inferior a ele.
- Não, obrigada - disse rapidamente, girando-se em direção ao corredor. - Minha mãe deve estar trabalhando, vou procurá-la na cozinha.
Mihai observou enquanto ela se afastava rapidamente, uma sensação estranha crescendo em seu peito. Havia algo nela que o atraía, algo que ia além do desconforto do primeiro encontro.
Loana, por sua vez, não pôde evitar sentir o olhar de Mihai em suas costas enquanto caminhava. Havia algo inquietante nele, algo que a fazia duvidar, mas também sentia uma espécie de ímã invisível que a conectava a ele. Ao longe, ouviu uma criada chamar seu nome, e a voz de Mihai desvaneceu-se enquanto ela adentrava a cozinha em busca de sua mãe.
Enquanto Loana buscava sua mãe entre as cozinheiras, Mihai permaneceu ali, pensativo, observando-a desaparecer na distância. Algo dentro dele não conseguia parar de pensar na jovem com quem havia cruzado duas vezes em menos de 24 horas. O encontro, embora breve, havia plantado uma semente que começava a crescer lentamente. Algo lhe dizia que aquele não seria o último encontro entre eles.
Mas ele também sabia que as barreiras que separavam seus mundos eram enormes e que, apesar de sua curiosidade, nunca poderia atravessá-las.