Capítulo 2 A Aposta

A tensão pairava no ar. A sala de aula estava repleta de alunos atentos, esperando pelas palavras da Major May. Postada firme diante da turma, sua voz grave e autoritária ecoou pelo ambiente.

- Atenção, turma. Daqui a três meses será nossa primeira missão contra a Rússia. Apenas dois de vocês serão selecionados para liderá-la.

Os olhares se fixaram nela com intensidade. May sentia o peso de suas palavras, mas não se deixava abalar. A hierarquia militar não permitia espaço para hesitação. A sala estava carregada de testosterona e egos inflados, mas nada disso a intimidava.

De canto de olho, percebeu Paul Durão, o aluno mais antigo da turma, sussurrando comentários para os colegas. Ele sempre buscava chamar atenção. May conhecia bem seu jogo.

- Claro que serei EU a comandar essa missão - murmurou Paul, certo de que ninguém o escutava.

May ergueu o olhar, cortante.

- Tenente Durão, gostaria de compartilhar sua conversa fiada com a turma? Já que está atrapalhando meu comunicado.

O silêncio foi imediato. Paul se levantou, o sorriso forçado estampado no rosto.

- Permissão para falar, Major May.

- Permissão concedida, Tenente.

- Estava apenas dizendo que já temos o melhor piloto para a missão. - Ele inflou o próprio ego, sem disfarçar.

May o encarou com um olhar afiado. O sorriso dele vacilou. No canto da sala, John Vlad esboçou um sorriso discreto. Paul o fulminou com o olhar.

A mensagem estava dada. Sem perder tempo, May prosseguiu.

- E, por último, lembrem-se: baixo desempenho significa fora da missão. Apenas os melhores sobreviverão. Estão dispensados!

A turma se levantou de imediato, fileiras se dissolvendo em passos firmes. John, no entanto, permaneceu imóvel, observando May organizar seus papéis.

- Cara, se me contasse que ela seria nossa instrutora, eu não acreditaria. Ela é a mesma do bar? - murmurou Christian Guzmán, rindo enquanto saía.

May levantou os olhos ao perceber John parado à sua mesa. Ele parecia tranquilo, mas havia algo em seu olhar que despertava sua atenção.

- Em que posso ajudar, Tenente Vlad?

Ele inclinou a cabeça levemente.

- Hmm... lembrou meu nome, Major?

Ela sorriu de canto.

- Eu costumo lembrar de rostos que podem ser problemas no futuro.

John soltou um riso baixo, mas sua expressão carregava sinceridade.

- Peço desculpas pelo meu comportamento ontem. Espero que a primeira impressão não me defina. Isso aqui é realmente importante para mim.

May manteve a expressão impassível.

- Algo mais, Tenente?

- Tive dificuldades com alguns termos na aula teórica. Será que poderíamos ter uma aula particular? Gostaria de entender melhor.

Ela cruzou os braços.

- Você sabe que isso não é permitido. As dúvidas devem ser tiradas em sala, com todos presentes.

Ele inclinou a cabeça, pensativo, mas não desistiu.

- Major, se o Governo Americano confia em mim, por que você não pode?

May o observou, sentindo a frustração em suas palavras.

- Tenente Vlad... Eu não sou o governo.

John a encarou por um momento, uma mistura de frustração e compreensão em sua expressão.

- Major, como espera que eu prove meu valor sem sua ajuda?

Sem esperar resposta, virou-se e saiu da sala. May ficou ali, sozinha, com as palavras dele ecoando em sua mente.

O que eu vou fazer com isso?

A ideia a inquietava, mas, ao mesmo tempo, provocava um fervor inegável.

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O restaurante da academia aeronáutica estava lotado, preenchido por uma sinfonia de conversas animadas, o tilintar de talheres e o som distante das televisões sintonizadas em canais militares. A iluminação amarelada criava um ambiente acolhedor, contrastando com o céu escuro visível através das janelas panorâmicas.

Em uma mesa afastada, um grupo de tenentes discutia com entusiasmo. Paul Durão, como sempre no centro das atenções, recostou-se preguiçosamente, um sorriso presunçoso no rosto.

- Paul, sério, desencanta da Major. Todo mundo sabe que ela não se envolve com alunos - disse Slider, seu amigo inseparável.

- Fale por você, idiota. Vou domar aquela mulher. Ela vai ficar completamente apaixonada por mim - insistiu Paul.

Na mesa ao lado, John apertou os punhos sob a mesa, mantendo a expressão impassível. Paul adorava provocar, e ele não lhe daria esse prazer.

Mike, que observava a cena com diversão, resolveu provocar.

- Eu admiro sua determinação, Paul, mas já disse que aquele avião você não pilota.

Paul estreitou os olhos.

- Eu já disse que detesto você.

Mike sorriu.

- Milhares de vezes. E eu já disse que não ligo.

Nesse momento, May e suas amigas entraram no refeitório. O silêncio se instalou momentaneamente, e os olhares se voltaram discretamente para ela.

- Fecha a boca, Paul - provocou Mike, rindo.

Do outro lado do salão, Laís observava a cena com um sorriso divertido.

- Amiga, percebeu? Todos te comeram com os olhos.

Phyta riu, brincando com o canudo da bebida.

- May tem seus encantos na academia.

- Não preciso dessa conversa - cortou May. - Estou aqui pelos meus méritos, não pelo que pensam de mim.

- Ninguém duvida disso - concordou Phyta.

O assunto logo mudou para os novos cadetes.

- Como foi a aula? - perguntou Laís.

- Agora é esperar para saber quem será o líder da missão - respondeu May.

Os olhares deslizaram discretamente para a mesa dos pilotos.

- Isso me lembra nossas apostas - comentou Phyta.

- Já tenho meus escolhidos - disse Laís, apontando para John e Christian.

- Tem certeza? O Tenente Vlad é irresponsável, individualista, imprudente - ponderou Phyta.

May mordeu o lábio, pensativa.

- Eu queria acreditar que não... Mas no bar ele parecia só querer curtir.

- Ele é destemido e talentoso - ponderou Laís.

- Vou nos meus garotos de ouro: Durão e Slider - decidiu Phyta.

- E você, May? - perguntou Laís.

May sorriu de canto.

- Nenhum dos dois. Aposto no Mike e no Jordan.

Enquanto conversavam, Laís tropeçou ao passar pela mesa dos pilotos. Christian foi rápido e a segurou.

- Opa! Reflexos rápidos, Tenente.

Christian sorriu.

- Treinamento militar.

- Hmm... Talvez eu tropece mais vezes, então - brincou Laís, ainda corada.

Christian piscou, confuso, enquanto Laís fugia apressada.

-Uau... Acho que ela gostou de você. Comentou John.

-Não sem chance, ela só foi educada.

-Deveria ser mais atrevido, aprenda.

John pegou um guardanapo, escreveu algo e, com passos despreocupados, caminhou até a mesa de May. Antes de deixar o papel sobre a mesa, piscou para ela com um sorriso enigmático.

Curiosa, ela leu a mensagem.

"Jantar, às 19h em ponto. Não atrase."

                         

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