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A tensão pairava no ar. A sala de aula estava repleta de alunos atentos, esperando pelas palavras da Major May. Postada firme diante da turma, sua voz grave e autoritária ecoou pelo ambiente.
- Atenção, turma. Daqui a três meses será nossa primeira missão contra a Rússia. Apenas dois de vocês serão selecionados para liderá-la.
Os olhares se fixaram nela com intensidade. May sentia o peso de suas palavras, mas não se deixava abalar. A hierarquia militar não permitia espaço para hesitação. A sala estava carregada de testosterona e egos inflados, mas nada disso a intimidava.
De canto de olho, percebeu Paul Durão, o aluno mais antigo da turma, sussurrando comentários para os colegas. Ele sempre buscava chamar atenção. May conhecia bem seu jogo.
- Claro que serei EU a comandar essa missão - murmurou Paul, certo de que ninguém o escutava.
May ergueu o olhar, cortante.
- Tenente Durão, gostaria de compartilhar sua conversa fiada com a turma? Já que está atrapalhando meu comunicado.
O silêncio foi imediato. Paul se levantou, o sorriso forçado estampado no rosto.
- Permissão para falar, Major May.
- Permissão concedida, Tenente.
- Estava apenas dizendo que já temos o melhor piloto para a missão. - Ele inflou o próprio ego, sem disfarçar.
May o encarou com um olhar afiado. O sorriso dele vacilou. No canto da sala, John Vlad esboçou um sorriso discreto. Paul o fulminou com o olhar.
A mensagem estava dada. Sem perder tempo, May prosseguiu.
- E, por último, lembrem-se: baixo desempenho significa fora da missão. Apenas os melhores sobreviverão. Estão dispensados!
A turma se levantou de imediato, fileiras se dissolvendo em passos firmes. John, no entanto, permaneceu imóvel, observando May organizar seus papéis.
- Cara, se me contasse que ela seria nossa instrutora, eu não acreditaria. Ela é a mesma do bar? - murmurou Christian Guzmán, rindo enquanto saía.
May levantou os olhos ao perceber John parado à sua mesa. Ele parecia tranquilo, mas havia algo em seu olhar que despertava sua atenção.
- Em que posso ajudar, Tenente Vlad?
Ele inclinou a cabeça levemente.
- Hmm... lembrou meu nome, Major?
Ela sorriu de canto.
- Eu costumo lembrar de rostos que podem ser problemas no futuro.
John soltou um riso baixo, mas sua expressão carregava sinceridade.
- Peço desculpas pelo meu comportamento ontem. Espero que a primeira impressão não me defina. Isso aqui é realmente importante para mim.
May manteve a expressão impassível.
- Algo mais, Tenente?
- Tive dificuldades com alguns termos na aula teórica. Será que poderíamos ter uma aula particular? Gostaria de entender melhor.
Ela cruzou os braços.
- Você sabe que isso não é permitido. As dúvidas devem ser tiradas em sala, com todos presentes.
Ele inclinou a cabeça, pensativo, mas não desistiu.
- Major, se o Governo Americano confia em mim, por que você não pode?
May o observou, sentindo a frustração em suas palavras.
- Tenente Vlad... Eu não sou o governo.
John a encarou por um momento, uma mistura de frustração e compreensão em sua expressão.
- Major, como espera que eu prove meu valor sem sua ajuda?
Sem esperar resposta, virou-se e saiu da sala. May ficou ali, sozinha, com as palavras dele ecoando em sua mente.
O que eu vou fazer com isso?
A ideia a inquietava, mas, ao mesmo tempo, provocava um fervor inegável.
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O restaurante da academia aeronáutica estava lotado, preenchido por uma sinfonia de conversas animadas, o tilintar de talheres e o som distante das televisões sintonizadas em canais militares. A iluminação amarelada criava um ambiente acolhedor, contrastando com o céu escuro visível através das janelas panorâmicas.
Em uma mesa afastada, um grupo de tenentes discutia com entusiasmo. Paul Durão, como sempre no centro das atenções, recostou-se preguiçosamente, um sorriso presunçoso no rosto.
- Paul, sério, desencanta da Major. Todo mundo sabe que ela não se envolve com alunos - disse Slider, seu amigo inseparável.
- Fale por você, idiota. Vou domar aquela mulher. Ela vai ficar completamente apaixonada por mim - insistiu Paul.
Na mesa ao lado, John apertou os punhos sob a mesa, mantendo a expressão impassível. Paul adorava provocar, e ele não lhe daria esse prazer.
Mike, que observava a cena com diversão, resolveu provocar.
- Eu admiro sua determinação, Paul, mas já disse que aquele avião você não pilota.
Paul estreitou os olhos.
- Eu já disse que detesto você.
Mike sorriu.
- Milhares de vezes. E eu já disse que não ligo.
Nesse momento, May e suas amigas entraram no refeitório. O silêncio se instalou momentaneamente, e os olhares se voltaram discretamente para ela.
- Fecha a boca, Paul - provocou Mike, rindo.
Do outro lado do salão, Laís observava a cena com um sorriso divertido.
- Amiga, percebeu? Todos te comeram com os olhos.
Phyta riu, brincando com o canudo da bebida.
- May tem seus encantos na academia.
- Não preciso dessa conversa - cortou May. - Estou aqui pelos meus méritos, não pelo que pensam de mim.
- Ninguém duvida disso - concordou Phyta.
O assunto logo mudou para os novos cadetes.
- Como foi a aula? - perguntou Laís.
- Agora é esperar para saber quem será o líder da missão - respondeu May.
Os olhares deslizaram discretamente para a mesa dos pilotos.
- Isso me lembra nossas apostas - comentou Phyta.
- Já tenho meus escolhidos - disse Laís, apontando para John e Christian.
- Tem certeza? O Tenente Vlad é irresponsável, individualista, imprudente - ponderou Phyta.
May mordeu o lábio, pensativa.
- Eu queria acreditar que não... Mas no bar ele parecia só querer curtir.
- Ele é destemido e talentoso - ponderou Laís.
- Vou nos meus garotos de ouro: Durão e Slider - decidiu Phyta.
- E você, May? - perguntou Laís.
May sorriu de canto.
- Nenhum dos dois. Aposto no Mike e no Jordan.
Enquanto conversavam, Laís tropeçou ao passar pela mesa dos pilotos. Christian foi rápido e a segurou.
- Opa! Reflexos rápidos, Tenente.
Christian sorriu.
- Treinamento militar.
- Hmm... Talvez eu tropece mais vezes, então - brincou Laís, ainda corada.
Christian piscou, confuso, enquanto Laís fugia apressada.
-Uau... Acho que ela gostou de você. Comentou John.
-Não sem chance, ela só foi educada.
-Deveria ser mais atrevido, aprenda.
John pegou um guardanapo, escreveu algo e, com passos despreocupados, caminhou até a mesa de May. Antes de deixar o papel sobre a mesa, piscou para ela com um sorriso enigmático.
Curiosa, ela leu a mensagem.
"Jantar, às 19h em ponto. Não atrase."