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Quando Lucas me mostrou a foto da casa pela primeira vez, eu pensei que fosse uma piada. Uma mansão daquelas, com jardins que pareciam saídos de um conto de fadas, por um preço que cabia no nosso orçamento? Era impossível. Mas ele insistiu: 'Ana, é a nossa chance. Vamos pelo menos dar uma olhada.'
Chegamos em um sábado de manhã, o sol brilhando sobre o telhado de ardósia da casa. Ela era imponente, com suas colunas de mármore e janelas altas, mas havia algo... melancólico no ar. O corretor, um homem de meia-idade com um sorriso que não chegava aos olhos, nos recebeu na entrada.
'Bem-vindos à Casa dos Sussurros,' ele disse, abrindo a porta com um rangido que ecoou pelos corredores vazios. O nome me pareceu estranho, mas Lucas estava tão animado que nem percebeu.
A casa era linda, mas cada cômodo tinha uma energia diferente. A sala de estar, com seu lustre de cristal e paredes de madeira escura, parecia convidativa, mas o frio que senti ao entrar não era normal. A cozinha, enorme e equipada com móveis antigos, tinha um cheiro estranho, como de algo queimado. E o corredor que levava aos quartos... bem, eu jurei ouvir passos lá no fundo, mesmo sabendo que estávamos sozinhos.
'É perfeita,' Lucas disse, segurando minha mão enquanto subíamos a escadaria principal. 'Imagina nossos filhos correndo por aqui.' Eu sorri, mas o aperto no meu peito não ia embora.
No segundo andar, encontramos o quarto principal. Era enorme, com uma lareira e uma vista para o jardim. Mas o que mais me chamou a atenção foi o espelho. Ele cobria quase toda a parede, e quando me aproximei, senti uma corrente de ar gelada. Olhei para o reflexo e... por um segundo, jurei ver alguém atrás de mim. Virei-me rapidamente, mas não havia ninguém.
'O que foi?' Lucas perguntou, preocupado.
'Nada,' eu menti. 'Só... acho que estou cansada.'
O corretor nos levou ao porão em seguida. A escada era estreita e escura, e o ar ficou mais pesado conforme descemos. O porão era úmido, com prateleiras cheias de objetos antigos e uma mesa de madeira no centro. Havia algo naquela mesa que me chamou a atenção: uma foto em preto e branco de uma família, todos sérios, como se estivessem posando para um funeral.
'Quem são eles?' eu perguntei, tentando disfarçar o tremor na voz.
'O último dono,' o corretor respondeu, rápido demais. 'Ele vendeu a casa há alguns anos.'
Lucas não parecia notar o desconforto no rosto do corretor. Ele estava ocupado imaginando como transformar o porão em uma sala de jogos. Eu, por outro lado, só queria sair dali.
Naquela noite, depois de assinarmos os papéis, Lucas brindou com champanhe. 'À nossa nova vida!' Ele sorriu, mas eu não consegui evitar o frio na espinha. A casa parecia respirar, como se estivesse viva. E, de certa forma, ela estava.
Antes de dormir, enquanto Lucas já roncava ao meu lado, eu jurei ouvir algo. Sussurros. Eles vinham do corredor, baixos e distantes, como se alguém estivesse contando segredos que eu não deveria ouvir. Fechei os olhos e tentei ignorar, mas a sensação de que estávamos sendo observados não ia embora.
Na manhã seguinte, encontrei a primeira pista de que algo estava muito errado. Enquanto arrumava a cozinha, vi uma mancha no chão, perto da lareira. Era escura, quase preta, e parecia ter se infiltrado na madeira. Quando me aproximei, o cheiro de ferro encheu meu nariz. Era sangue.
'Lucas!' eu gritei, mas quando ele chegou, a mancha havia desaparecido.
'Você está imaginando coisas,' ele disse, rindo. 'A casa é velha, Ana. Vai levar um tempo para nos acostumarmos.'
Eu queria acreditar nele. Mas, no fundo, sabia que a casa não ia nos deixar em paz. E, pior, sabia que não tínhamos escolha. Já era tarde demais para voltar atrás."