Capítulo 2 O primeiro sussuro

Ana começou a ouvir coisas logo na primeira semana. Sussurros no corredor, passos no andar de cima. Eu tentava acalmá-la, dizendo que eram apenas os barulhos de uma casa antiga. Madeira rangendo, vento batendo nas janelas, coisas assim. Mas, no fundo, eu também sentia algo estranho.

Uma noite, acordei com ela gritando. 'Ele está aqui!' ela disse, apontando para o canto escuro do quarto. Não havia nada, mas o ar estava gelado, como se tivéssemos deixado uma janela aberta no inverno. Eu acendi a luz e revirei o quarto, mas não encontrei nada.

'Foi só um pesadelo,' eu disse, abraçando-a. Ela tremia, e eu senti o coração apertar. Ana nunca foi de se assustar fácil. Ela é forte, sempre foi. Ver ela assim me deixou mais preocupado do que eu queria admitir.

No dia seguinte, decidi investigar. A casa era grande, e ainda havia cômodos que não tínhamos explorado direito. Comecei pelo porão. A escada era estreita e escura, e o ar ficava mais pesado conforme eu descia. No fundo, encontrei uma caixa velha, coberta de poeira e teias de aranha.

Dentro da caixa, havia fotos e recortes de jornal. As fotos mostravam famílias que haviam morado na casa ao longo dos anos, todas com expressões sérias, como se estivessem posando para um funeral. Os recortes de jornal, por outro lado, contavam uma história diferente.

O primeiro morador, um rico empresário chamado Edward Hargrove, foi encontrado enforcado na escadaria principal em 1923. A polícia considerou suicídio, mas os recortes sugeriam algo mais sombrio. Testemunhas disseram ter ouvido gritos na noite anterior, e um dos empregados jurou ter visto uma figura sombria no corredor.

O segundo morador, uma viúva chamada Margaret, foi encontrada morta em seu quarto em 1947. Ela havia sido envenenada, e o caso nunca foi resolvido. Os vizinhos falavam de luzes estranhas na casa e de uma mulher que chorava à noite.

E assim foi, década após década. Cada morador da casa tinha uma história trágica. Alguns desapareceram, outros foram encontrados mortos em circunstâncias inexplicáveis. A casa era uma maldição, e nós... nós éramos os próximos.

Quando mostrei os recortes para Ana, ela ficou pálida. 'Precisamos sair daqui,' ela disse, a voz tremendo.

Eu queria concordar, mas algo me segurava. Uma curiosidade mórbida, talvez. Ou talvez fosse a casa, já exercendo sua influência sobre mim. 'Vamos esperar mais um pouco,' eu disse. 'Talvez haja uma explicação para tudo isso.'

Ana não respondeu, mas eu vi o medo nos olhos dela. E, naquela noite, os sussurros voltaram. Desta vez, eu também os ouvi.

Eram vozes baixas, distantes, como se viessem de outro cômodo. Eu me levantei e segui o som, descendo as escadas até o corredor principal. Lá, no fundo, havia uma porta que eu nunca havia notado antes. Ela estava entreaberta, e de dentro vinha uma luz fraca, tremeluzente.

'Quem está aí?' eu perguntei, tentando disfarçar o medo na voz.

Ninguém respondeu, mas os sussurros pararam. Eu entrei na sala e vi um espelho antigo, coberto por um pano preto. Quando o retirei, vi meu reflexo... mas algo estava errado. Meus olhos estavam vazios, e minha boca se moveu sozinha, sussurrando algo que eu não conseguia entender.

Foi então que ouvi a risada. Ela vinha de trás de mim, baixa e distorcida. Virei-me rapidamente, mas não havia ninguém. Só o vazio do corredor escuro.

Quando voltei para o quarto, Ana estava acordada, sentada na cama com os olhos cheios de lágrimas. 'O que foi?' ela perguntou.

'Nada,' eu menti. 'Só a casa fazendo barulhos de novo.'

Mas, no fundo, eu sabia que não era só isso. A casa estava viva. E ela não ia nos deixar em paz.

            
            

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