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Os dias se tornaram uma névoa de medo e insônia. Cada canto da casa parecia esconder um segredo, uma memória sombria que não queria ser esquecida. Lucas continuava insistindo que estávamos seguros, que tudo não passava de coincidências e histórias antigas, mas eu sabia que ele também estava assustado. Só não queria admitir.
Uma noite, enquanto Lucas dormia, resolvi explorar a casa sozinha. Talvez, se eu encontrasse alguma prova concreta, ele finalmente concordaria em sair dali. Peguei uma lanterna e desci as escadas em silêncio, evitando os degraus que rangiam. O corredor principal estava escuro, mas a luz da lanterna criava sombras que pareciam dançar nas paredes.
Cheguei à sala que Lucas havia mencionado, aquela com o espelho coberto por um pano preto. O ar estava gelado, e eu podia sentir uma presença ali, como se alguém estivesse me observando. Respirei fundo e puxei o pano.
O espelho era enorme, com uma moldura de madeira escura entalhada com figuras grotescas: rostos distorcidos, mãos que pareciam tentar escapar da madeira. Meu reflexo parecia normal, mas, quando me aproximei, vi algo se mover atrás de mim. Virei-me rapidamente, mas não havia nada.
Foi então que ouvi os sussurros. Eles vinham de dentro do espelho, baixos e distorcidos, como vozes de outro mundo. 'Você não pertence aqui,' uma voz disse. 'Ele está esperando por você.'
'Quem está esperando?' eu perguntei, minha voz tremendo.
A resposta veio em forma de risada, ecoando pelo cômodo. A luz da lanterna começou a piscar, e eu senti uma mão gelada tocar meu ombro. Gritei e deixei a lanterna cair, apagando a luz. No escuro, os sussurros se tornaram gritos, e eu corri de volta para o corredor, tropeçando nos móveis.
Quando cheguei ao quarto, Lucas estava acordado, sentado na cama com os olhos arregalados. 'O que foi?' ele perguntou, preocupado.
'Eu... eu não sei,' eu menti, tentando controlar a respiração. 'Acho que ouvi barulhos de novo.'
Ele não pareceu convencido, mas não fez mais perguntas. Na manhã seguinte, encontramos algo que mudou tudo.
Estávamos arrumando a sala de estar quando Lucas notou uma rachadura na parede. 'Isso não estava aqui antes,' ele disse, passando a mão sobre a madeira.
'Vamos ver o que tem atrás,' eu sugeri, tentando disfarçar a ansiedade.
Lucas pegou uma ferramenta e começou a remover o painel de madeira. Quando ele finalmente conseguiu abrir, encontramos um compartimento escondido. Dentro, havia um diário antigo, com páginas amareladas e letras desbotadas.
'É de Edward Hargrove,' Lucas disse, folheando as páginas. 'O primeiro dono da casa.'
Começamos a ler juntos, e o que descobrimos foi horrível. Edward escrevia sobre uma entidade que habitava a casa, algo que ele chamava de 'O Guardião'. Segundo ele, o Guardião era uma presença maligna que se alimentava do medo e da dor dos moradores.
'Ele escolhe um de cada vez,' Lucas leu em voz alta. 'E quando o escolhido cai, ele passa para o próximo.'
Foi então que entendi. A casa não estava apenas assombrada. Ela era uma armadilha, e nós éramos as presas.
'Precisamos sair daqui,' eu disse, a voz tremendo. 'Antes que seja tarde demais.'
Lucas olhou para mim, e pela primeira vez vi medo em seus olhos. 'Você está certa,' ele disse. 'Vamos embalar nossas coisas e sair hoje mesmo.'
Mas, quando chegamos ao quarto, nossas malas estavam abertas, e as roupas estavam espalhadas pelo chão. No espelho, uma mensagem estava escrita com letras embaçadas: 'Você não pode escapar.'
E, no fundo, eu sabia que era verdade. A casa não ia nos deixar ir. E o Guardião... ele estava apenas começando.