Capítulo 2 ❤️ Esse Emprego é Meu ❤️

Quando amanheceu, Mel saiu do hospital antes de tudo desmoronar de vez. Precisava de ar puro e pensar, pensar muito no que fazer e num novo emprego que tinha que buscar. Fechou os olhos para puxar energia e força de viver ainda naquela cidade, naquele bairro, naquele mundo desastroso.

Seu único prazer na vida era cuidar do seu irmão pequeno, de apenas doze anos, feliz e alegre. Trabalhava meio período numa lanchonete perto da escola do pequeno, quando ele saia, ela também terminava seu horário. Era o bastante para viver com ele, até o pequeno começar a demonstrar doenças exageradas e foi então que descobriu tudo. Deixou seu emprego, faculdade e amigos para cuidar do irmão, e tudo foi piorando quando precisou do dinheiro.

Ele não podia ficar sozinho, e ela não tinha como deixá-lo. Quando o menino foi internado no hospital, ela se desesperou ao ponto de receber calmantes. Agora, a conta estava absurdamente alta, e ela sem nem um real no bolso.

As ruas sempre lhe passavam uma calmaria e foi andando em direção a um que lugar que conhecia bem. Seus pais costumavam comer ali quando queriam passar um tempo juntos, o restaurante da sua madrinha... Ou quase madrinha.

Adentrou o espaço com um sorriso no rosto ela não deixaria suas tristezas impediram-na de sorrir para pessoas que um dia fizeram parte de lembranças boas.

- Mel. – A voz de sua madrinha a deixou animada e incentivada a pedir ajuda. Ela necessitava de ajuda. - Como você está? E Maurício? Conte-me todas as novidades.

- Estou bem. E ele também está tomando seus remédios e fazendo os procedimentos mais complicados. - Respondeu desviando o olhar. Sua madrinha a abraçou, massageando suas costas e o cabelo avermelhado comprido entrançado e bagunçado.

- Precisa de mais alguma coisa? - Desfez o pequeno abraço - Está apertado um pouco, mas eu posso ajudar com o que puder.

- Estamos esperando o momento certo para a cirurgia, mas a sua ajuda é sempre bem-vinda, inclusive tenho que dizer que fui demitida da cafeteria. - Contou quase por um fio.

- Eu te contrataria, mas já estamos cheios – a mulher passou a mão no rosto da garota e deu um sorriso depois. - Meu amor, você está precisando de um café, vem que eu lhe sirvo.

Acompanhou-lhe até o balcão sendo servida com seu café sem açúcar, seu preferido. Talvez a bebida mais maravilhosa que tem na face da terra. Enquanto saboreava seu delicioso café naquela manhã que tinha tudo para começar bem, o impacto de uma segunda pessoa ao seu lado a fez voltar ao seu mundo desastroso.

Primeiramente, deixou a xícara de volta ao balcão vendo sua madrinha sorrir para a mulher ao lado e depois lhe encarou. A aflição que vinha da mesma a deixou tensa, impossível uma pessoa ter toda aquela raiva antes das oito da manhã.

- Eu não aguento mais, Larissa, não aguento. Aquele homem acha que sou algum tipo de escrava que está livre e pronta para servi-lo quando quiser? Será que ele não se toca que também tenho uma vida e preciso me distrair. - Bradou à mulher, Larissa sorriu servindo outra xícara de café para a mulher que tentava se livrar de todas as bolsas que trazia e desligava o celular. - Ah, não, aqui você não vai me encontrar, eu não vou surtar e morrer nova por sua causa. Babaca!

- Mirella, por favor, se acalme, e você é tão nova para morrer assim de estresse. - Se encostou ali vendo a mulher tomar todo o café e pedir mais. - O que foi que aconteceu dessa vez?

- Tem um tempo que meu chefe procura uma empregada particular. A última simplesmente disse que ia ao shopping e não voltou mais. - Contou a mesma história que Larissa já tinha ouvido umas quinze vezes - E sabe a dificuldade de encontrar uma nova pessoa para que ele possa se distrair? Eu estava num encontro quando ele me ligou, e disse que precisava que eu fosse a casa dele, naquele momento, duas horas da madrugada. E sabe para que? - A outra negou - Para falar mal da minha incompetência em não fazer o que ele quer.

- Beba mais café. É só nisso que eu posso te ajudar. - Contou sorridente. - E você Mel, quando será a tal cirurgia? Ajudarei no que puder até para passar um tempo com ele no hospital.

- Ah, - A mulher distraída simplesmente sorriu voltando ao seu café. - A Dra. Disse que mais uma ou duas quimioterapia e o tumor será reduzido o máximo que conseguimos para fazer a cirurgia, então será o momento certo. Só vou precisar de dinheiro e de um novo emprego.

- Um novo emprego? - A moça ao lado simplesmente encarou a outra e recebeu um sorriso em troca - Você está atrás de um novo emprego? E no que você tem experiência?

- Mirela, não. - Do outro lado do balcão, Larissa interrompeu. - Eu conheço o temperamento do seu patrão, ele é mandão e minha querida fala tudo o que quer. Não parecia que eles se dariam bem.

- Não, madrinha, tudo bem. - Se animou com a proposta de emprego. - Eu já passei por muitos empregos. Então tenho muita coisa no meu currículo, em especial, como garçonete, uma empregada.

- Meu chefe paga muito bem e está precisando de uma empregada, particular. - Comentou a última parte mais baixo e encarou sua amiga do outro lado, a expressão não era das melhores, mas se tivesse uma oportunidade, nem que fosse mínima, de seu patrão gostar da garota, se agarraria nela. - Bom... Você é bonita, e esses cabelos ruivos parecem naturais.

- E eles são. - Tinha orgulho disso. Ao menos com a beleza Deus lhe abençoou e acabou ali.

- E olhos verdes, se você quiser eu posso te levar agora até ele, então vocês conversam e podem entrar em algum contrato.

- Eu quero.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022