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Juramento da lua e da magia

Luna Nocturne
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Capítulo 1 O ritual da lua cheia

A noite caía sobre Lunaria como um manto de veludo, tingindo o céu de tons profundos de índigo e púrpura. A lua cheia, redonda e luminosa, pendia no firmamento como um olho vigilante, derramando sua luz prateada sobre a vila e a floresta que a cercava. Selene caminhava pela trilha estreita que levava ao coração da floresta, seus pés descalços quase não faziam barulho sobre as folhas secas. Ela carregava consigo uma bolsa de couro cheia de ervas, velas e um pequeno punhal ritualístico.

Era noite de ritual, e Selene sabia que não podia falhar.

A vila de Lunaria dependia dela. Como a última bruxa de sua linhagem, Selene era a guardiã dos limites mágicos que mantinham os lobisomens afastados. Desde criança, ela fora treinada para controlar a magia lunar, uma força poderosa que fluía em suas veias como um rio subterrâneo. Mas, nos últimos meses, algo mudara. A magia parecia mais instável, como se estivesse sendo corroída por uma força invisível.

Selene chegou à clareira onde realizava seus rituais. Era um lugar sagrado, marcado por pedras antigas dispostas em um círculo perfeito. No centro, uma pequena fogueira já ardia, suas chamas dançando ao ritmo da brisa noturna. Ela colocou a bolsa no chão e começou a preparar o altar, dispondo as ervas e as velas com cuidado.

Enquanto trabalhava, sua mente vagava para os avisos de sua avó, a última bruxa antes dela. "A maldição é antiga, Selene", dissera a velha mulher em seu leito de morte. "Ela nos divide, nos corrompe. Mas há uma força maior que pode quebrá-la, se você for corajosa o suficiente para buscá-la."

Selene nunca entendera completamente o que aquilo significava. A maldição era algo que todos em Lunaria conheciam, mas ninguém falava abertamente sobre ela. Era como uma sombra pairando sobre a vila, um segredo enterrado nas profundezas da floresta.

Ela acendeu as velas e começou o ritual, entoando as palavras antigas em uma língua que poucos ainda compreendiam. A magia fluía através dela, intensa e pulsante, como se a própria lua a estivesse guiando. Mas, no meio do ritual, algo aconteceu.

Um uivo ecoou na floresta, distante, mas inconfundível. Selene estremeceu, mas manteve o foco. Os lobisomens nunca se aproximavam da clareira durante os rituais. Era como se respeitassem a magia que ali habitava. Mas, naquela noite, o uivo soou novamente, mais perto desta vez.

Ela terminou o ritual às pressas, apagando as velas e recolhendo seus pertences. O coração batia forte em seu peito, e uma sensação estranha a invadia, como se algo estivesse prestes a acontecer.

Foi então que ela o viu.

Entre as árvores, uma figura imponente emergiu das sombras. Era um lobisomem, mas diferente de qualquer um que Selene já vira antes. Ele era maior, mais forte, com olhos que brilhavam como brasas douradas. Sua pelagem era negra como a noite, e ele se movia com uma graça selvagem que era ao mesmo tempo assustadora e fascinante.

Selene congelou, sua mão agarrando o punhal ritualístico. Ela sabia que deveria atacar, mas algo a impediu. Havia algo naquela criatura, algo que a fazia hesitar.

O lobisomem parou a alguns metros dela, seus olhos fixos nos dela. Ele não atacou, não rosnou. Apenas a observou, como se estivesse tentando decifrá-la.

"Você não deveria estar aqui", disse Selene, sua voz tremendo levemente.

O lobisomem inclinou a cabeça, como se a entendesse. Então, lentamente, ele começou a mudar. Sua forma encolheu, a pelagem desapareceu, e em seu lugar surgiu um homem. Ele era alto, com ombros largos e músculos definidos. Seus cabelos eram escuros e desalinhados, e seus olhos ainda mantinham aquele brilho dourado.

"Eu poderia dizer o mesmo sobre você", respondeu ele, sua voz grave e rouca.

Selene ficou chocada. Ela nunca vira um lobisomem se transformar tão rapidamente, nem tão completamente. A maioria deles mantinha traços animais mesmo em forma humana, mas este homem parecia quase... humano.

"Quem é você?" perguntou ela, segurando o punhal com mais firmeza.

"Meu nome é Dario", disse ele, cruzando os braços sobre o peito. "E você deve ser a bruxa de Lunaria."

Selene não respondeu. Ela estava tentando processar o que estava acontecendo. Por que ele não a atacou? Por que ele parecia tão... calmo?

"Você está em perigo", disse Dario, sua voz séria. "Sua magia está enfraquecendo, e minha matilha sabe disso. Eles estão planejando um ataque."

Selene sentiu um frio percorrer sua espinha. Ela sabia que ele estava dizendo a verdade. A magia estava enfraquecendo, e se os lobisomens atacassem...

"Por que você está me dizendo isso?" perguntou ela, desconfiada.

Dario hesitou, como se não tivesse certeza da resposta. "Porque eu não quero ver sua vila destruída", disse ele finalmente. "E porque... há algo em você que eu não consigo ignorar."

Selene sentiu uma estranha conexão com aquelas palavras, como se elas ecoassem em algum lugar profundo dentro dela. Ela olhou para Dario, realmente olhou, e viu algo em seus olhos que a fez questionar tudo o que sabia sobre lobisomens.

"O que você quer de mim?" perguntou ela, sua voz mais suave agora.

Dario deu um passo à frente, e Selene não recuou. "Eu quero ajudá-la", disse ele. "Mas para isso, você precisa confiar em mim."

Selene sabia que confiar em um lobisomem era loucura. Mas, naquela noite, sob a luz da lua cheia, ela sentiu que talvez a loucura fosse a única coisa que poderia salvar a todos.

            
            

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