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A noite parecia mais silenciosa do que o normal, como se a própria floresta estivesse segurando a respiração. Selene e Dario permaneceram na clareira, olhando um para o outro, enquanto o peso das palavras dele ecoava no ar. A ideia de confiar em um lobisomem era absurda, mas algo na intensidade de seus olhos e na sinceridade de sua voz fazia Selene hesitar.
"Por que eu deveria confiar em você?" perguntou ela, segurando o punhal com firmeza, embora sua voz não carregasse mais a mesma hostilidade.
Dario deu um passo atrás, como se quisesse mostrar que não era uma ameaça. "Porque eu não sou como os outros da minha matilha", respondeu ele, sua voz grave e calma. "Eu não acredito que a violência seja a resposta. E porque... eu sinto algo quando estou perto de você. Algo que não consigo explicar."
Selene sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela também sentia aquela atração inexplicável, como se uma força invisível os estivesse puxando um para o outro. Mas ela não podia se dar ao luxo de ceder a sentimentos tão perigosos.
"Se você está dizendo a verdade", disse ela, "então me prove. Me diga o que sua matilha está planejando."
Dario hesitou por um momento, como se estivesse lutando consigo mesmo. Finalmente, ele suspirou e assentiu. "Eles planejam atacar Lunaria na próxima lua cheia", disse ele. "A magia que protege sua vila está enfraquecendo, e eles sabem disso. Eles querem acabar com a maldição de uma vez por todas, mesmo que isso signifique destruir tudo no processo."
Selene sentiu um nó se formar em seu estômago. Ela sabia que a magia estava enfraquecendo, mas não imaginava que os lobisomens estivessem tão próximos de descobrir. Se eles atacassem...
"Por que você está me contando isso?" perguntou ela, sua voz quase um sussurro.
"Porque eu não quero ver mais sangue derramado", respondeu Dario, seus olhos dourados brilhando com uma intensidade que fez Selene estremecer. "E porque eu acredito que há outra maneira de quebrar a maldição. Uma maneira que não envolva destruição."
Selene olhou para ele, tentando decifrar suas intenções. Ele parecia sincero, mas ela não podia simplesmente confiar em um lobisomem. Ainda assim, ela não tinha muitas opções.
"O que você sugere?" perguntou ela, finalmente abaixando o punhal.
Dario deu um passo à frente, sua presença imponente, mas não ameaçadora. "Precisamos trabalhar juntos", disse ele. "Você tem o conhecimento da magia lunar, e eu conheço os segredos da minha matilha. Se combinarmos nossas forças, talvez possamos encontrar uma maneira de quebrar a maldição antes que seja tarde demais."
Selene ficou em silêncio por um momento, ponderando suas palavras. Trabalhar com um lobisomem era uma ideia absurda, mas o que mais ela poderia fazer? A vila dependia dela, e ela não podia simplesmente ignorar a ameaça iminente.
"Está bem", disse ela finalmente. "Mas isso não significa que eu confio em você. Se você tentar me trair, eu não hesitarei em te matar."
Dario sorriu levemente, como se admirasse sua determinação. "Justo", disse ele. "Mas eu prometo que você não vai se arrepender dessa decisão."
Os dias que se seguiram foram uma mistura de tensão e estranha camaradagem. Selene e Dario se encontravam secretamente na floresta, longe dos olhos curiosos de suas respectivas comunidades. Eles trocavam informações, compartilhavam conhecimentos e, aos poucos, começavam a confiar um no outro.
Selene descobriu que Dario era diferente dos outros lobisomens. Ele era mais controlado, mais humano. Ele contou a ela sobre sua infância, sobre como ele sempre se sentiu deslocado entre sua matilha, como se houvesse algo dentro dele que não se encaixava.
"Eu sempre senti que havia mais para nós do que apenas ódio e violência", disse ele uma noite, enquanto eles sentavam ao redor de uma pequena fogueira. "Eu acredito que a maldição nos cegou, nos impediu de ver a verdade."
Selene olhou para ele, sentindo uma estranha conexão com suas palavras. Ela também sempre sentiu que havia algo mais, algo além do que lhe foi ensinado.
"O que você acha que é a verdade?" perguntou ela, sua voz suave.
Dario olhou para o céu, onde a lua brilhava intensamente. "Eu acho que a verdade é que nós não somos tão diferentes", disse ele. "Bruxas e lobisomens, nós somos dois lados da mesma moeda. E talvez, se encontrarmos uma maneira de nos unir, possamos quebrar a maldição que nos separa."
Selene sentiu um calor estranho em seu peito. Ela nunca tinha pensado dessa maneira antes, mas as palavras de Dario faziam sentido. Talvez a chave para quebrar a maldição estivesse em aceitar suas diferenças, em vez de lutar contra elas.
Mas nem tudo era tão simples. Enquanto Selene e Dario se aproximavam, as tensões entre suas comunidades aumentavam. A matilha de lobisomens estava se tornando mais agressiva, e os moradores de Lunaria estavam ficando cada vez mais desconfiados.
Uma noite, enquanto Selene retornava para a vila após um encontro com Dario, ela foi confrontada por sua tia, uma mulher severa e desconfiada chamada Morgana.
"Onde você tem estado, Selene?" perguntou Morgana, seus olhos estreitos e cheios de suspeita.
"Eu estava na floresta, realizando um ritual", respondeu Selene, tentando manter a calma.
Morgana não parecia convencida. "Você tem estado distante ultimamente", disse ela. "E eu não gosto disso. Lembre-se de quem você é, Selene. Você é a guardiã desta vila, e não pode se dar ao luxo de cometer erros."
Selene sentiu um peso em seu peito. Ela sabia que Morgana estava certa, mas também sabia que não podia simplesmente ignorar o que estava acontecendo com Dario.
"Eu sei quem eu sou, tia", disse ela finalmente. "E eu farei o que for necessário para proteger esta vila."
Mas, à medida que ela se afastava, Selene não pôde deixar de se perguntar se ela realmente sabia quem era. E se o destino dela não fosse apenas proteger Lunaria, mas também encontrar uma maneira de unir duas raças que foram separadas por séculos de ódio e desconfiança.