Capítulo 4 FLAGRA

CONTINUA..........

Lúcios se senta à mesa, dominando o espaço como sempre. Nem preciso tentar puxar assunto com Silmara. Ele faz questão de me sufocar, de apagar qualquer possibilidade de eu criar laços ou sentir um pouco de leveza nessa noite arrastada. Ele só se afasta quando convence a moça simpática a ir com ele provar um ponche. E lá vou eu, novamente, sendo deixada para trás.

Cansada de ficar parada como um enfeite, me levanto e vou até o banheiro. Pelo menos lá o tempo passa sem que eu precise fingir sorrisos ou segurar a respiração perto dele.

Mas, quando estou quase chegando, esbarro em alguém. Um cara bonito, forte, com o nome "Silmara" tatuado no braço.

- Aê, foi mal, mina! ele diz cheio de gírias no vocabulário, abrindo um sorriso fácil.

- Me desculpa. murmuro, meio sem graça.

- Nada não. Ele segura minha mão por um segundo antes de seguir caminho.

Meu coração dispara, mas não é por ele. É pelo medo. Um medo que se confirma assim que saio do banheiro e dou de cara com Lúcios. Ele está parado na porta, os olhos faiscando de raiva, os punhos cerrados.

- Tava de conversinha com o Pitico pelos cantos, sua maldita? a voz dele sai baixa, perigosa.

- Estava no banheiro se limpando, foi? Ele te comeu?

O choque me faz congelar.

- Lúcios, calma... por favor! Eu não fiz nada, não sei do que você tá falando!

Mas não adianta. Ele já decidiu.

Antes que eu consiga reagir, a mão dele se fecha no meu pescoço, me arrastando para um canto escuro perto do banheiro. O ar me foge. Tento soltar um gemido, um pedido de ajuda, mas o aperto só aumenta. Meu corpo começa a amolecer. O chão some. A visão escurece.

Então, de repente, ele me solta. Meu corpo desaba. Sinto a torção no tornozelo no mesmo instante. A dor explode, rasgando da perna até o peito.

- Ai... ai... para, por favor! Meu pé... acho que torci... me ajuda, por favor! imploro, engolindo o choro.

Mas ele só me encara com desprezo. Endireita o paletó, ajeita o cabelo e se afasta como se nada tivesse acontecendo. Como se eu fosse nada.

Fico aqui, jogada no chão frio, segurando o tornozelo, esperando a dor ceder. Mas ela não cede. Nem a física, nem a outra, a que aperta o peito e me lembra que estou sozinha nisso.

Depois de um tempo, tiro as sandálias e me agarro na parede para me levantar. O mundo gira. Antes que eu caia, uma mão segura firme meu braço.

Levanto os olhos e vejo Silmara. O rosto dela mistura surpresa e preocupação. Meu rosto esquenta. A vergonha pesa.

- Obrigada. murmuro, deixando que ela me guie até uma cadeira mais próxima e afastada do fluxo da boate.

Ela me observa, desconfiada.

- O que houve?

Engulo seco.

- Saí do banheiro, tive curiosidade de ver o que tinha mais pra trás... acabei torcendo o pé e caí.

Ela estreita os olhos.

- E por que não pegou o celular e chamou o Lúcios?

- Esqueci no carro. Minto, desviando o olhar.

Ela cruza os braços.

- Estranho... Ele não sentiu sua falta? cê já tá longe dos olhos dele faz tempo, não tá?

Seguro o fôlego por um instante antes de soltar a verdade que ficou presa na garganta a noite toda.

- Não tem importância. Acredite... eu fico bem quando ele não está por perto.

Silmara me encara, e pela primeira vez, sinto que alguém realmente enxerga o que está acontecendo ,com preocupação sincera nos olhos.

- Rosa, eu sabia que tinha algo errado. Desde a hora que bati os olhos em você, meu instinto gritou. Esse maldito tá te coagindo, não tá? Silmara pergunta, firme, a voz carregada de raiva contida.

Meu coração dispara. O medo aperta meu peito. Sem pensar, seguro a mão dela, apertando forte, como se aquele contato pudesse impedi-la de seguir adiante.

- Por favor... não faça nada, não diga nada. Se ele perceber, as coisas vão piorar muito pra mim. imploro,com a voz trêmula.

Ela me encara, com os olhos ardendo em fúria.

- Eu odeio o Lúcios, Rosa. Só tô aqui porque a gente tá derrubando a banca dele. Aos poucos, ele vai cair.

O tom dela carrega uma certeza fria, como se aquilo já estivesse decidido. Mas, pra mim, tudo isso só soa como perigo.

- Me desculpa... não quero que você fique brava comigo, Silmara. Apenas esqueça isso... insisto, com a minha voz pequena, carregada de medo.

Ela suspira, parece conter algo dentro de si, mas não insiste mais.

- Eu não vou fazer nada... por enquanto. Mas aqui. Ela abre a bolsa, pega um papel e anota algo rapidamente.

Então, dobra o bilhete e me entrega, o olhar cheio de preocupação.

- Esse é meu número. Se precisar de ajuda, não pense duas vezes antes de me ligar.

Seguro o pedaço de papel com força e aceno rapidamente.

- Ok... obrigada.

Sem perder tempo, escondo o bilhete na dobra do vestido, longe dos olhos de Lúcios. Se ele ver, se ele sequer suspeitar... sei exatamente o que pode acontecer. Antes que possamos continuar a conversa ele aparece novamente sorridente a,ao perceber a presença da Silmara novamente comigo.

- Assim vou ficar com ciúmes ,você e a Silmara tão próximas. O descarado encena

Dou um sorriso fraco ,fenjindo acreditar nele , enquanto Silmara já sabe da minha situação e eu estou com um número escondido ,como se fosse uma opção na minha vida ,talvez um pedido de socorro quando as coisas piorarem ,se é que é possível , ou quando eu não aguentar mais passar por tantas coisas?

- Não se preocupe Lúcios ,porque eu já estou de saída. Silmara responde apertando a mão de Lúcios sorrindo e me abraça com calma

- Não hesite em gritar por socorro! Ela sussurra no meu ouvido baixinho

- obrigado. Agradeço novamente

Ela se afasta e vejo mais longe o moço gentil , esperando por ela os dois saem do baile a passos firmes e de mãos dadas.

            
            

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