Capítulo 5 O Despertar da Ideia

Eu nunca soube exatamente como as melhores ideias surgem, mas sei que, de alguma forma, o universo sempre encontra uma maneira de fazer tudo se encaixar. Aquela madrugada foi um exemplo perfeito disso. Eu estava ali, no meu apartamento, cercado de anotações e digitando freneticamente, tentando dar vida a um novo projeto que a emissora me pediu.

A pressão era intensa. Eles estavam em busca de algo novo, algo ousado, algo que ninguém nunca tivesse visto antes. Eu, Billy, roteirista em busca da grande oportunidade, estava ali tentando encaixar uma ideia que fosse revolucionária. Mas as palavras simplesmente não fluíam. Eu precisava de algo mais, algo que fosse real, algo inesperado. E foi então que, no meio dessa busca frenética, percebi que o destino já tinha decidido o meu próximo projeto, só estava me dando um empurrãozinho.

Eu não sou de beber muito durante o trabalho, mas naquela noite... estava difícil. Precisava de um pouco de inspiração. Então, decidi dar uma pausa no caos criativo e fui até o bar para tomar algo. Eu só queria relaxar, deixar as ideias fluírem de forma natural. E, claro, fazer o que qualquer pessoa faria quando está sem ideias: tomar uns drinks e esperar um milagre.

Eu estava me perguntando se eu realmente estava pronto para algo tão grandioso, quando de repente...

"Levei um bolo!"

A voz dela cortou o ar. Eu olhei ao redor e vi uma mulher, que até então estava quieta, se referindo ao seu celular, com uma expressão de total desgosto. Ela estava, de fato, falando sozinha em meio ao bar, quase como se ninguém estivesse ali, até que, sem querer, ela chamou a atenção de todo mundo.

Aquela mulher, Emma, fez algo que me fez rir de imediato. Ela não se importava com quem estava olhando, ou com a vergonha de estar falando alto sobre um encontro fracassado. Ela simplesmente entrou em cena com uma energia espontânea e verdadeira. Algo em sua sinceridade me atraiu, me fez pensar que ela estava ali, não se importando com nada nem com ninguém, e isso foi... refrescante.

Foi então que, já um pouco alterado pelos drinks, não pude deixar de brincar com a situação. Eu não sou o tipo de cara que deixa uma boa piada passar. "Tá de brincadeira, né? Você leva um bolo e ainda vem rir de si mesma? Isso é um talento raro."

Eu não sabia o que esperava dela. Talvez fosse um olhar de reprovação, uma risada nervosa. Mas, para minha surpresa, ela rindo, imediatamente retribuiu minha piada. "Sim, sou uma piadista da vida, e parece que o universo realmente me colocou aqui para fazer rir."

A conversa foi ganhando corpo. Emma, como se já tivesse tirado o peso da vergonha do bolo, me contou sobre seu plano de sair com dez caras em trinta dias, para ver se finalmente encontrava o amor. Cada história que ela me contava me fazia rir mais. A ideia parecia, no início, uma loucura sem propósito, mas de alguma forma estava ficando interessante. Ela falava dos aplicativos de namoro, das mensagens chatas, dos homens pegajosos, daqueles que só queriam algo casual.

"É, eu já tentei de tudo, Billy. Agora, só falta descobrir quem está mais perdido que eu." Emma disse com uma sinceridade que, honestamente, me encantou.

Eu estava lá, ouvindo tudo, quando minha mente começou a trabalhar em outra frequência. A ideia que eu procurava para o meu projeto estava bem diante de mim, e eu nem percebia. Emma, aquela mulher maluca com seu plano para 10 encontros e 1 amor, era tudo o que eu precisava. A combinação de realidade, desespero e comédia era perfeita para um novo reality show.

Eu já havia lido roteiros de todos os tipos, já tinha criado ideias insanas, mas nada parecia tão genuíno quanto a busca de Emma pelo amor verdadeiro, com todos os altos e baixos que esse processo implicava. Os encontros, a frustração, a alegria, o caos de encontrar o "feliz para sempre".

Eu poderia pegar tudo isso, transformar a ideia dela em algo grande, algo emocionante. Uma verdadeira montanha-russa emocional que as pessoas amariam assistir.

"Isso daria um reality show maravilhoso," pensei, olhando para ela enquanto ela falava sobre mais um encontro frustrado. "Você está me dizendo que, no final dessa jornada, vai encontrar o amor de sua vida em algum desses caras? Porque, sinceramente, minha amiga, vou te dizer, parece mais uma missão impossível."

Emma olhou para mim, com aquele olhar curioso, mas cheio de brilho nos olhos. "Talvez eu esteja buscando o impossível. Ou talvez eu só queira acreditar que o amor ainda existe no meio dessa bagunça toda."

Foi aí que o clique aconteceu. Eu sabia que tinha uma ideia brilhante nas mãos. A ideia de Emma poderia não ser só o foco de um encontro. Ela era a estrela de um programa que, no fundo, todos queriam assistir: os altos, os baixos, os encontros desastrosos e as risadas pelo caminho. Um reality show de encontros reais, sem a fabricação forçada que a TV adora.

"Eu tenho uma proposta para você," disse, um pouco mais sério. "E se a sua busca por 10 encontros e 1 amor fosse o centro de um programa de TV? O tipo de show que mostre a realidade dos encontros modernos, com todos os erros, acertos, e, claro, o romance no final."

Emma me olhou, parecendo surpresa. "Você está dizendo que quer fazer disso um show de TV? Como assim?"

Eu sorri, sabendo que ela ainda não tinha ideia do que estava prestes a acontecer.

"É isso mesmo. Vamos transformar sua busca pelo amor em um espetáculo. Um show de verdade, com pessoas reais e nada de roteiros prontos. Só você, os encontros e a verdadeira busca pela felicidade."

Ela ficou em silêncio por um momento, como se estivesse digerindo tudo. Mas, antes que ela pudesse dizer algo, já sabia que ela aceitaria. Porque quem não aceitaria uma oportunidade de transformar o caos de sua vida amorosa em algo épico?

Eu sabia que aquele seria o meu novo projeto, mas também sabia que, de alguma forma, Emma faria parte disso de uma maneira que ela não esperava.

            
            

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