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Capítulo Dois
Eu sabia que ele estava à espreita. Oregon jamais deixaria um único resquício de esperança sobreviver em Eutanásia. Mas, ainda assim, quando atravessei o portão de volta ao reino, não estava preparada para o que vi.
O castelo estava em chamas.
As Torres que antes tocavam o céu estavam desmoronando, engolidas pelo fogo. A bandeira de Eutanásia, símbolo de um reino próspero, queimava como um pedaço inútil de pano. O ar estava carregado de cinzas, o cheiro de carne e sangue impregnada cada canto, e os gritos dos inocentes se misturavam ao estalar das chamas.
Eu queria correr até os destroços e procurar sobreviventes. Eu queria lutar. Mas não havia mais luta para travar. Oregon venceu essa batalha.
Foi a primeira e última vez que chorei.
As lágrimas desciam pelo meu rosto, ardendo como brasas contra minha pele. Mas eu não podia me dar ao luxo de sofrer agora. Havia pessoas que ainda precisavam de mim.
Reuni os sobreviventes-mulheres, crianças e os poucos guerreiros que conseguiram escapar da chacina-e os guiei para longe da destruição. Não podíamos mais chamar Eutanásia de lar.
Durante dias, vagamos pelas terras devastadas, evitando os olhares dos servos de Oregon. O medo era um veneno silencioso, corroendo a esperança de cada um. Mas eu não deixaria que ele nos consumisse.
Atravessamos montanhas cobertas de névoa e rios de águas escuras até chegar a um lugar que eu conhecia bem: a Ilha Encantada, uma terra oculta entre os limites de Eutanásia e o Reino dos Elfos.
Ali, ergui minha última defesa. Com minha magia, envolvi toda a ilha em um feitiço poderoso, tornando-a invisível para qualquer um que estivesse do lado de fora. Nem mesmo Oregon poderia nos encontrar.
O medo ainda estava presente nos olhos de todos. As cicatrizes da guerra eram profundas demais para desaparecerem rapidamente.
- Será que estamos seguros aqui? - perguntou um dos plebeus, sua voz trêmula.
Antes que eu pudesse responder, Nani tomou a frente, sua presença firme trazendo um pouco de alívio ao povo.
- Minha irmã é uma feiticeira poderosa. O feitiço que ela lançou sobre essa ilha não será quebrado. Aqui, estamos protegidos.
Eu apenas assenti, deixando que as palavras dela servissem de conforto. Mas, no fundo, eu sabia a verdade: nada estava realmente seguro enquanto Oregon estivesse vivo.
Me retirei do grupo, subindo a encosta até uma casa simples no topo da montanha. Ali seria meu lar até que chegasse a hora de Atlas retornar.
Olhei para o céu escuro e silencioso. Eu me lembrava do peso de Atlas em meus braços, da última súplica de Corigan.
O futuro de Eutanásia ainda existia... mas ele não estava aqui.
Ele estava no mundo humano. Crescendo. Esperando.
E quando esse dia chegasse, Oregon iria cair.
~
O vento frio soprava contra meu rosto enquanto eu me mantinha no topo da montanha, observando a vastidão da Ilha Encantada. O céu escuro acima de mim parecia um lembrete constante da tragédia que assombrou Eutanásia. Mas aqui, pelo menos por enquanto, havia segurança.
Os dias passaram, e os sobreviventes começaram a reconstruir suas vidas na ilha. Criamos pequenas moradias, cultivamos alimentos e tentamos nos adaptar ao nosso novo lar. Mas a sombra de Oregon nunca nos abandonou.
Nani, mesmo ferida, ajudava como podia. Sua energia era menor do que antes, mas sua determinação permanecia intacta.
- Você acha que Oregon desistiu? - ela me perguntou certa noite, enquanto observávamos a aldeia recém-formada do alto da montanha.
Cruzei os braços, sentindo o peso da verdade que eu não queria dizer em voz alta.
- Ele nunca desiste. - Minha voz saiu firme, mas dentro de mim o medo ainda existia. - Ele não matou Corigan apenas pelo reino. Ele quer algo maior. E eu tenho certeza que ele não vai parar até conseguir.
Nani suspirou, olhando para mim com olhos cansados.
- Você fala de Atlas, não é?
Virei meu rosto para ela, surpresa com sua clareza. Mas é claro que Nani sabia. Ela sempre soube.
- Oregon quer Atlas morto. E se ele descobrir que o menino está vivo... nada poderá pará-lo.
Nani assentiu lentamente, antes de abaixar a cabeça, pensativa.
- Então precisamos garantir que Atlas esteja preparado.
Suas palavras ecoaram dentro de mim como uma verdade inevitável. Atlas não poderia permanecer escondido para sempre. Um dia, ele teria que enfrentar seu destino.
E, quando esse dia chegasse, eu estaria ao lado dele.
Eu só esperava que ele estivesse pronto para a verdade que o aguardava.
{...}