Voltei a me conter e manter o meu silêncio que é o mais comum. Não posso me deixar comover por essa mulher, só porque ela é mais agitada que as outras, e destemida. Tá certo quem nunca vi alguém com tanta fibra e que roubasse um pouco da minha atenção, e principalmente que não fosse nos seios e nem na bunda, mas preciso me conscientizar que não pode passar disso.
Voltei apenas a observar tudo o que acontecia ao meu redor. Indiquei o caminho a seguir, e ainda tentava entender como dirigia tão bem, se não sabia... será que ela mentiu?
Então quando chegamos, coloquei uma das pistolas na cintura, e a outra no porta-luvas, para verificar o que tinha acontecido.
- Qual foi a informação que te deram? - perguntou olhando para todos os lados, assim como eu.
- Que Rosa Galanis estava aqui, alguém a encontrou e a ajudou a chegar nesse lugar. Ela tem aproximadamente dez anos, mas é maior que a sua idade representa. - Falei sério e sem rodeios, apertando a campainha.
- Ótimo! Vamos encontrá-la e cair o fora daqui... não simpatizei com o lugar! - me olhou com o semblante irritado.
Percebemos um alvoroço no local, aquilo não era normal, e claro que a Isadora já estava sem paciência, pois em segundos ela pulou o muro irritada, e ainda me olhou com cara de deboche.
- Tá esperando o quê? Tem coisa errada aqui!
- Uau! Tô gostando de ver - em segundos também pulei o muro e já começamos a ouvir choros e frases que talvez a Isadora não entendesse, mas eu sabia o que estava acontecendo ali.
- Eles levaram a Juny, levaram a Cida! - uma menina dizia desesperada.
- Foram várias! Aí meu Deus... eu estava no banheiro. - Outra chorava, também.
- O que está acontecendo, aqui? - Isadora questionou, mas nenhuma das meninas respondeu, estavam com medo.
- Vocês viram uma garota chamada Rose? - perguntei, mas daí que se encolheram.
- Eu tenho uma foto dela que protegi na mochila, vejam! - ela tirou uma foto do meio dos seios, e até me desconcentrei com a visão rápida que tive daqueles seios tão durinhos enquanto ela mexia pegando a foto.
- Eu a vi... - uma garotinha bem pequena que eu nem tinha notado pronunciou, e vi a Isadora se ajoelhar no chão bem perto dela, de forma carinhosa.
- Calma querida, não precisa ter medo! Ela é minha irmãzinha, e eu preciso encontrá-la... você a viu? - A menininha com lacinhos no cabelo, assentiu.
- Ela estava aqui..., mas sumiu! Ela tinha medo tia, então eu falei que poderia ficar comigo, mas...
- O que foi?
- Um homem feio a levou para escovar os dentes, e não pude evitar... - a criança estava bem triste.
- Eu vou encontrá-la, tá bem? Então trarei ela para te visitar, eu prometo!
- Promete?
- Sim! Qual o seu nome?
- Alice...
- Certo, Alice! Obrigada por me contar, você é muito corajosa.
Vi o seu olhar de desespero, e enfurecido que saiu andando depressa, direto para a sala do diretor. Abriu a porta sem bater e quase esfregou a foto no rosto dele.
- Aonde ela está?
- Eu não sei... nunca vi essa garota antes... - estava claro que ele mentia, e agora eu iria tirar a limpo, mas não tive tempo. A Isadora puxou com destreza a pistola da minha cintura e apontou para a cabeça do diretor.
- Tem três segundos para me contar, ou eu estouro os seus miolos! - abri a boca em choque, e aposto que meus olhos arregalaram.
- CALMA, CALMA! EU CONTO... ABAIXE A ARMA! - ele pediu, e até cruzei os braços para assistir a cena tão hilária que seguia. Nunca imaginei que o meu dia seria assim.
- Dois...
- Eles a levaram! - falou depressa.
- Eles quem? E, pra onde? - perguntou ainda com a minha pistola apontada para o diretor.
- Traficantes! Tem um mafioso poderoso de Atenas, que estava no comando, e não podemos nos meter, ele mata a quem quer que seja, Apolo tem o sangue frio...
- Apolo? - falamos juntos.
- Sim, eles fazem tráfico humano, saíram a pouco, talvez se correrem os alcancem no porto, iriam de navio.
- Saiba que se estiver mentindo eu volto aqui e vamos ter uma conversa bem diferente! - esbravejei.
Isadora lhe deu uma coronhada que o derrubou de joelhos, deu um chute, e devolveu a minha arma, me deixando excitado com a perfeição dos seus atos.
- Aonde aprendeu tudo isso? - perguntei enquanto saíamos.
- Com o meu pai! Já disse que o básico eu sei... o resto é improviso mesmo! - sorri ao vê-la pulando o muro, e a segui.
Desta vez fui eu quem assumiu a direção, e pisei fundo. Eu sabia de onde saíam os navios, e fui direto pra lá, mas quando chegamos todos eles já haviam partido.
- E, agora? - me perguntou.
- Agora você descansa! Vou te levar pra casa, e vou resolver isso tudo, por que você já improvisou demais por hoje! - afirmei.
- Verdade... ainda não te vi resolver muita coisa. - Entrou no carro novamente, me deixando irritado.
Passei a informação para a equipe, e quando chegamos em casa, fiquei incomodado, descobri que a garota havia morrido, e não sabia como contar pra ela.
- O que foi? Fechou a cara ainda mais... - me perguntou.
- Houve um naufrágio... sinto muito!
- Do que está falando?
- Olha a matéria que acabei de receber. Tem a foto dela, que foi tirada no embarque e enviada, haviam muitas meninas...
- Isso não pode ser verdade! - pegou o meu celular e começou a olhar e ler todas as informações, em choque.
- Infelizmente é!
- Eu vou encontrar Apolo, e farei questão de fazer vingança, vou torturar até a morte, aquele infeliz maldito, que destruiu a minha família! - abriu a porta do carro, e desceu com raiva, e me apressei em segurá-la pelo braço no percurso.
- Eu posso ajudar!
- Como?
- Temos um acordo, não temos? - assentiu segurando as lágrimas, que pareciam não aguentarem muito tempo para aparecerem. - Eu também quero muito encontrar e acabar com esse maldito. Não é de hoje que faz tanta merda!
- É o que eu mais desejo. Não pensarei em outra coisa que não seja isso.
- Nós só precisamos assinar os documentos de casamento, quando estiver melhor, passe no escritório e dê uma olhada...
- Tudo bem, mas agora eu preciso ficar sozinha...
- Vá descansar! Eu vou descobrir tudo sobre esse maldito. - Soltei o seu braço, e ela olhou desconfiada, e foi saindo aos poucos.
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Aproveitei o começo de noite para investigar e resolver assuntos no escritório. Notei os papéis do contrato de casamento na mesa, e nem havia reparado que ela passou ali para assinar antes de ir para o seu quarto, e aproveitei para fazer o mesmo, então já guardei no cofre.
Não descobri nada a respeito daquele cara, então provavelmente ele tenha saído do país, o que dificulta um pouco as coisas.
Mari bateu na porta, me chamando para o jantar.
- A Isadora já jantou? - questionei.
- Ah, não... ela disse que estava sem apetite, senhor...
- Não comeu nada?
- Não, Don! - respirei fundo.
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Isadora Galanis
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Preferi passar e assinar aqueles papéis de uma vez, agora sou oficialmente esposa daquele Don, e ele me ajudará a vingar a minha família.
Saber do que aconteceu com a minha irmã foi demais para mim, e apesar de eu querer me manter forte e não desabar na frente desse grandão, eu precisava ficar sozinha e deixar as lágrimas rolarem por um tempo.
Não consigo acreditar que isso tudo esteja mesmo acontecendo... Perder o meu pai e a minha irmã na mesma semana, é um peso maior do que eu poderia suportar e deixei com que o desespero tomasse conta de mim, assim que encostei a porta daquele quarto.
Eu falhei na minha missão em protegê-la. Mesmo sabendo o quanto me esforcei para conseguir chegar até aqui, está claramente comprovado que fui incapaz de mantê-la a salvo e tudo que eu aprendi não valeu de nada, a essa altura a minha irmãzinha está muito longe daqui.
Com os olhos inchados e a cabeça em outro lugar, não percebi que alguém havia entrado no quarto e me assustei quando dei de cara com o Don na minha frente.
- Eu trouxe o seu jantar! Não pode ficar sem comer, não te vi comendo hoje...
- Não precisa se preocupar...
- Fique bem, vamos resolver esse assunto! - o olhando tive uma ideia.
- Posso te pedir uma coisa?
- Depende...
- Quero que me treine! Me ensine tudo o que sabe... quero acabar com aquele homem...