Isadora Galanis
Meu peito estava apertado. Meu pai baleado enquanto eu segurava firme a minha irmãzinha, para não sermos pegas pelos homens que batiam nele do lado de fora da nossa casa.
- Calma, Rose. Vai ficar tudo bem. A gente vai sair daqui, é só um pouquinho, tá? Respira devagar, e jura pra mim que não vai fazer barulho? - cochichei no seu ouvido, mas por dentro eu estava em desespero. Ela tem claustrofobia, e em breve começaria a passar mal, se sentir sufocada, e eu não sabia o que fazer.
Seus olhinhos marejados me paralisaram:
- Aqui é fechado, Isa. Eu tenho medo. Tá escuro. Você promete cuidar de mim? Eu estou com pouco ar - Sua voz chorosa acabava comigo.
- Eu prometo, meu amor, eu prometo. - Beijei a sua testa e precisei tapar a sua boca novamente. Quando vi que o meu pai estava morrendo nas mãos daqueles bandidos, sofri calada, mentindo pra mim mesma.
- Shiii! Vai ficar tudo bem! - Eu falei deixando as lágrimas rolarem.
O homem gritava com ele, e perguntava repetidamente:
- Aonde está a caixa? Anda filho da puta! Você escondeu, é só falar aonde está! - Coloquem o saco plástico na cabeça dele! Vai refrescar a memória com certeza! - O homem falou e vi o meu pai se debater. Escondi o rosto da Rose nos meus seios, para que ela não visse.
Fechei os olhos, não queria mais ver. Fiquei ali abraçada, escondida com a minha irmã, uma vez ou outra deixando-a respirar melhor, pois pensei que ela desmaiaria pela claustrofobia.
Quando os barulhos cessaram, eu abri os olhos novamente e o homem que era o chefe e torturava o meu pai, olhou para o local onde a gente estava, gravei seu rosto.
Eles não nos viram porque estávamos num compartimento secreto que meu pai desenvolveu, então seguiram caminho pela casa. Vários homens derrubando tudo e destruindo, e a pior cena que eu poderia ver na minha vida, eu vi, ali escondida naquele momento... o meu pai jogado no tapete, já desacordado e cheio de cortes, com bastante sangue espalhado pelo chão.
Foi muito difícil manter a Rose ali por todo esse tempo, mas a gente conseguiu, e quando percebi que os homens estavam saindo, abri o compartimento e a minha irmã que estava quase sem ar, agora já soluçava junto comigo de tanto chorar ao olhar para o nosso pai, provavelmente morto no chão.
- Não olhe, Rose! Vamos nos disfarçar para poder fugir daqui. Tenho roupas de freiras que o papai guarda para possíveis fugas, precisamos ser rápidas! - Me olhou brava, mas não negou.
Minha respiração estava entrecortada, o coração batendo forte no peito enquanto eu segurava a mão trêmula de Rose. Meu pai estava morto. Aquela realidade tentava se fixar na minha mente, mas eu não podia permitir. Não agora. Precisava ser forte por ela.
"Se algo acontecer comigo, leve sua irmã daqui. Tem uma caixa enterrada no jardim. Desenterre e leve com você. Vá para a ilha de Creta e procure por Adônis Pachis. É o único em quem pode confiar."
As palavras do meu pai ecoavam na minha mente como um tambor incessante. Ele sabia que isso ia acontecer. Ele se preparou. Mas não me preparou para o medo, para a dor ou para a responsabilidade esmagadora de salvar a minha irmã.
E depois, veio a segunda parte do aviso:
"Case com ele. Temos um acordo antigo. Ele sabe do que se trata."
Eu quase ri de nervoso. Meu pai tinha arranjado um casamento para mim sem que eu soubesse. Mas não era hora de pensar nisso. Eu precisava sair dali com Rose. Depois, descobriria como lidar com Adônis Pachis.
Os homens ainda estavam do lado externo da casa, quebrando coisas, procurando... A caixa. Eu não sabia o que havia nela, mas se eles estavam dispostos a matar por isso, então eu precisava encontrá-la primeiro.
Olhei para Rose, seu rosto manchado de lágrimas, seus olhos arregalados de terror. Peguei sua mão e apertei.
- Vamos sair daqui agora. Não solte a minha mão, aconteça o que acontecer.
Ela assentiu, fungando. Pegamos os mantos de freira que meu pai guardava e os vestimos rápido. Nossos corpos ainda tremiam, mas nos misturamos com as sombras da noite e saímos pelos fundos da casa.
O jardim estava destruído, mas eu sabia onde meu pai enterrava coisas importantes. Corremos agachadas até um dos canteiros. Usei as mãos, desesperada, cavando a terra fria. Meus dedos encontraram uma caixa de metal. Puxei-a para fora, sacudindo a terra.
- O que é isso, Isa? - Rose sussurrou.
- A chave da nossa sobrevivência.
Não havia tempo para abrir. O barulho de passos vindo na nossa direção fez meu coração disparar. Peguei a caixa, embrulhei numa sacola e puxei Rose pela mão. Corremos em direção ao muro, onde uma pequena parte já estava rachada. Com esforço, conseguimos subir e pular para o outro lado, aterrissando no mato alto.
A luz das lanternas dos homens se movia rápido pela propriedade. Ouvi tiros, vozes gritando ordens. Não podíamos parar. Corremos pelo terreno baldio, ofegantes, o medo nos impulsionando.
De repente, um carro preto se aproximou em alta velocidade. Segurei Rose com força, pronta para correr para o lado oposto, mas a janela do carro abriu e uma voz urgente chamou:
- Isadora! Entre rápido!
Olhei para o homem ao volante. Era Miguel, um dos amigos de confiança do meu pai. Seu rosto estava tenso, preocupado. Eu não sabia em quem confiar, mas ficar ali não era uma opção.
Peguei Rose no colo e corri para dentro do carro, fechando a porta com força. Miguel acelerou antes que os homens nos vissem.
- Seu pai me disse para esperar caso algo acontecesse. Vocês estão seguras... por enquanto.
Eu segurei Rose contra mim, sentindo meu próprio coração batendo contra o dela. Eu não sabia o que viria a seguir. Mas sabia que precisava chegar a Creta.
Eu me mantive firme ao lado de Rose, segurando sua mão enquanto o carro avançava pela noite escura. O homem que nos ajudava dirigia em silêncio, atento ao caminho. O medo ainda fervia dentro de mim, mas eu tinha um objetivo. Precisava sair viva dessa noite.
O carro parou alguns metros antes da fronteira. O homem virou-se para mim, seus olhos cheios de urgência.
- Daqui vocês seguem sozinhas. Ali, do outro lado, tem um homem de jaqueta vermelha esperando por vocês. Ele vai levá-las em segurança. Não olhem para trás, apenas andem.
Eu assenti e segurei a mão da minha irmã com mais força. Saímos do carro e começamos a andar, tentando ignorar o frio que nos gelava. Mas, ao erguer o olhar, meu coração parou.
O homem de jaqueta vermelha era ele.
Aquele que matou meu pai.
O tempo pareceu desacelerar, e um gosto amargo subiu pela minha garganta. Meus olhos cravaram nos dele, e reconheci o mesmo olhar cruel, impassível que vi através do vidro.
Meu corpo inteiro gritava para correr, para pegar Rose e fugir. Mas para onde? Fomos traídas. Estávamos presas.