Logan era praticamente um fantasma. Um fantasma irritante. Ele aparecia e desaparecia com a mesma velocidade, como se estivesse sempre tentando evitar qualquer tipo de interação. Eu o via mais nos reflexos dos vidros da casa do que de frente. Ele passava como uma corrente de ar fria. Sempre rápido demais, e ainda assim deixando marcas por onde passava.
Não que eu me importasse. Ou pelo menos era isso que eu repetia para mim mesmo. Mas, honestamente? Eu me importava. E isso me irritava mais do que a atitude dele. Havia algo na forma como ele me ignorava que fazia minha pele coçar. Não sei se era orgulho ferido, se era carência. Mas ver ele andando pela casa, como se eu fosse invisível... incomodava.
E o pior? Eu reparava demais. Reparava quando ele descia as escadas de cabelo molhado, usando uma camiseta justa que deixava claro que ele frequentava a academia mais do que a escola. Reparava no jeito como ele prendia a respiração quando passava por mim - como se até o ar que eu ocupava fosse inconveniente.
Reparava na forma como ele tratava todo mundo com desdém, menos a Alice. E reparava, acima de tudo, no fato de que ele me olhava como se me odiasse. Só que o ódio, às vezes, parecia... outra coisa.
Na escola, as coisas não eram muito diferentes. Mas algo inesperado aconteceu quando eu conheci alguém. Uma menina asiática de cabelos negros e duas mechas rosa me abordou, com uma expressão emburrada que, de alguma forma, não parecia incômoda.
"Você é o menino novo?", perguntou, com a voz direta. "Peter, né?"
"Sou. E você?", perguntei, pois não a tinha visto antes.
"Suspensão. Dei um soco numa líder de torcida", ela falou como se não fosse nada, o que me fez rir um pouco. "Me chamo Lina."
"Peter. Espero nunca te irritar", estendi a mão, e ela me cumprimentou de volta, rindo.
Foi a melhor e única coisa boa que aconteceu desde que cheguei naquele lugar. Nós nos grudamos como velhos amigos. Eu tinha encontrado uma certa paz ao lado da Lina, que parecia não se importar com nada - o tipo de pessoa que diz o que pensa, do jeito que pensa, e que sobrevive no colégio não por popularidade, mas por pura força de personalidade.
Nós dividíamos algumas aulas, almoçávamos juntos, e ela me fazia rir quando tudo o que eu queria era socar alguma parede.
...
Mais tarde, peguei minhas coisas e fui em direção à saída, sentindo um alívio imenso. Foi quando vi Logan encostado no carro, conversando com Alice. Ela ria, com os olhos brilhando. Ele se inclinava, como se estivesse contando um segredo importante, o cabelo caindo um pouco sobre os olhos, o sorriso de lado.
A cena parecia íntima, uma bolha onde só os dois existiam, como sempre.
"Vamos." Ele falou quando me viu, já abrindo a porta do passageiro.
"Vamos para onde?", perguntei, sem entender.
"Pra casa. Meu pai pediu para eu te levar."
Olhei para Alice, que estava no banco da frente, e percebi que só tinha uma opção: sentar no banco de trás e me encolher. Assim que ele ligou o carro, os dois começaram a se beijar. Não um beijo rápido. Um daqueles demorados e barulhentos, como se eu não existisse, como se a garagem fosse o único lugar no mundo.
"Dá para ir logo?", falei, tentando não olhar. Minha voz saiu mais aguda do que o normal.
"Estamos indo", respondeu Logan, sem se afastar. A voz dele era rouca e baixa.
Quando finalmente estacionou, Alice saiu primeiro, ainda rindo. Logan ficou parado, me olhando pelo retrovisor, a mão ainda no volante.
"Você vai ter que se acostumar."
"Com o quê?", perguntei, confuso e irritado.
"Comigo." Ele deu um meio sorriso e subiu, me deixando sozinho na garagem, com o som do carro esfriando.
O resto da tarde foi um silêncio estranho. Eu ouvia vozes abafadas vindo do andar de baixo, mas não conseguia decifrar o que diziam.
Até que, na manhã seguinte, Logan me abordou no corredor da escola. Ele estava sozinho pela primeira vez - sem Alice, sem os amigos, sem o escudo habitual. Estava encostado no armário, os olhos baixos, como se não quisesse estar ali.
Quando me viu, se endireitou. "Peter."
Aquilo me pegou desprevenido. Ele nunca dizia meu nome. Nem "oi". Nunca nada.
"O que foi?", perguntei, cauteloso.
Ele olhou pros lados e então se aproximou. Só um passo. Mas foi o bastante para eu sentir meu corpo reagir de forma involuntária.
"Não fala pra ninguém que a gente mora junto." A frase veio seca, direta. E o tom... quase implorava para não ser discutido.
"Por que não?", perguntei, cruzando os braços. "Vai te arranhar o ego?"
Ele me encarou. "Porque é melhor assim."
"Melhor pra você", corrigi.
"Melhor pra todo mundo."
"Olha, Logan, eu não estou louco para sair contando para a escola inteira que a gente divide o mesmo teto. Fica tranquilo. Mas se você está com vergonha, isso é problema seu."
Os olhos dele escureceram por um instante. Mas ele não retrucou. Apenas assentiu uma vez, firme.
"Ótimo."
E saiu andando. De novo. Sempre indo embora antes que eu pudesse dizer o que realmente queria dizer.
Em casa, o clima seguiu no mesmo padrão: tenso, contido, esquisito. Minha mãe tentava fingir que estava tudo bem. Mark parecia alheio a qualquer tensão.
E Logan... Logan continuava sendo Logan. No jantar, ele quase não falou. Cortava a carne como se estivesse prestes a mutilar alguém. Ocasionalmente, me lançava um olhar rápido, como quem verifica se uma bomba já explodiu.
Eu evitava retribuir. Porque, quando retribuía... eu sentia coisas que não queria sentir.