Capítulo 2 Continuação 1cap

Mas nada ali ia sair como esperavam.

Porque a única coisa que realmente me interessava naquela mesa... era Camila.

E no fundo, ela já sabia disso.

Vi quando ela apertou o garfo com mais força. Quando desviou o olhar pela terceira vez. Quando mordeu o lábio de leve. Aquilo não era só timidez. Era medo.

Medo... e curiosidade.

Ela podia ser a filha mais nova, a inocente, a protegida. Mas naquele momento... ela era meu alvo.

E ninguém - nem mesmo Deus - vai me impedir de ir até o fim.

O jantar seguia num ritmo elegante e entediante. Falsas promessas, sorrisos forçados, brindes vazios. Levantei da mesa com a desculpa de atender uma ligação importante. Ninguém questionou. Nem se atreveriam.

Caminhei pelo corredor da mansão, onde os quadros antigos pendiam nas paredes como testemunhas silenciosas de gerações inteiras moldadas por poder e sangue. A luz era baixa, o silêncio quase absoluto. Foi quando ouvi passos leves vindo na direção contrária.

Camila.

Vestido claro, os cabelos soltos caindo sobre os ombros. Ela parou no mesmo instante em que me viu, como se tivesse sido pega num lugar onde não devia estar.

- Perdão... eu não sabia que tinha alguém aqui - disse, a voz baixa, quase sussurrada.

Dei um passo à frente.

- E não tem. Só eu. E agora... você.

Ela abaixou o olhar, envergonhada, mas não deu meia-volta. Ficou ali, entre o impulso de fugir e a coragem de ficar.

- Foi um bom jantar - ela disse, tentando quebrar o silêncio que pesava demais.

- Foi. Mas você não disse quase nada.

Ela deu um sorriso tímido, aquele que me desarma e provoca ao mesmo tempo.

- Acho que eu não sei muito o que dizer quando todos esperam que eu apenas sorria e fique calada.

- Engraçado... - murmurei, me aproximando mais - você parece ter muito a dizer. Só não encontrou quem te escute.

Ela ergueu os olhos devagar, e o olhar que ela me deu... não era mais o de uma menina assustada.

Era o de uma mulher que, mesmo sem saber, estava prestes a cruzar uma linha sem volta.

- E você? Vai me escutar?

- Se você souber sussurrar - respondi, com a voz baixa, rouca.

Ficamos ali, tão próximos que eu podia sentir o perfume leve dela. Um cheiro doce, limpo, nada exagerado. Ela mordeu o lábio de leve e deu um passo para o lado, rompendo o momento como se ainda lutasse contra o óbvio.

- Estão nos esperando na mesa...

- Que bom que a noite ainda não acabou.

Ela se virou e voltou pro salão.

E eu fiquei parado ali, sorrindo como um predador que acabou de marcar sua presa

Camila podia até ser a filha errada...

Mas já era minha.

Voltei pro salão com passos firmes, mas a cabeça... já não estava na conversa. Não conseguia prestar atenção no que diziam. Os rostos à mesa se moviam, sorrisos se abriam, taças se erguiam - mas tudo o que importava era o olhar dela

Camila.

Ela estava sentada ao lado da irmã, com as mãos repousando sobre o colo e o olhar baixo. Fingia não me ver. Mas a respiração acelerada, o leve tremor dos dedos... entregavam tudo.

Quando cruzei a sala, senti. Ela levantou os olhos. Rápido. Discreto. Mas o bastante.

Olhei de volta.

E então começou.

O jogo dos olhos.

Os nossos se cruzaram por segundos longos demais. Aqueles segundos em que o tempo parece segurar o fôlego. Ela desviou primeiro, tentando parecer indiferente, mas mordeu o canto do lábio. Aquele gesto pequeno, mas perigoso, que me fez apertar a taça com mais força.

Durante o brinde do meu pai, eu ainda a observava.

Ela não me olhava diretamente, mas me via. Sentia. Toda vez que alguém ria de uma piada sem graça, Camila aproveitava pra me lançar um olhar rápido, como se estivesse roubando um momento que não lhe pertencia.

E eu deixava.

Deixava ela me olhar.

Deixava ela se perder.

Porque era isso que estava acontecendo.

Ela estava caindo, mesmo sem entender o motivo. E eu? Já estava lá embaixo esperando.

Camila era o proibido. O erro.

Mas quanto mais errada ela era... mais certo eu me sentia perto dela.

            
            

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