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Jefferson narrando
A manhã chegou rápida, mas a noite ainda me ardia na pele.
Não dormi. Nem tentei. O perfume dela ainda estava na minha respiração, o olhar tímido - mas provocante - ainda preso no fundo da minha mente. Camila.
A irmã errada.... ou a mulher certa.
Desci para o café vestindo aquela camisa branca meio aberta no peito, como gostava. O sol entrava pelas enormes janelas da mansão, fazendo a mesa parecer cena de revista: frutas cortadas, pães frescos, sucos coloridos. Perfeição de mentira.
Meus pais já estavam sentados.
- Bom dia, filho - disse minha mãe, sorrindo com aquela classe irritante de quem acha que controla o mundo.
- Dormiu bem? - perguntou meu pai, folheando o jornal como se o tempo fosse dele.
- Dormi - menti, puxando a cadeira. - Mas pensei.
Minha mãe ergueu os olhos, desconfiada. Meu pai apenas ergueu uma sobrancelha.
- Pensou em quê?
Suspirei, servi o café e fui direto.
- Em quem eu vou me casar.
O jornal baixou. O silêncio se instalou. A tensão na sala foi instantânea.
- Jefferson... já está tudo certo com a família de Augusto - minha mãe disse, com a voz contida. - Catarina é uma mulher à altura do nosso nome.
- É. Ela é.
Bebi um gole. Cruzei o olhar com minha mãe. E então disse, sem piscar:
- Mas o meu interesse não é por Catarina.
- Como assim? - meu pai soltou, ríspido. - Está dizendo que vai romper o acordo?
- Estou dizendo que, pela primeira vez... eu quero escolher.
Minha mãe ficou imóvel. Meu pai se recostou na cadeira, com os olhos afiados.
- E quem seria essa "escolha"? - ele perguntou, como se já soubesse.
Ergui o olhar. E sem hesitar, falei:
- Camila.
Silêncio.
Minha mãe arregalou os olhos.
- A irmã mais nova? Jefferson, você conheceu essa menina ontem!
- E foi o suficiente.
- Isso é loucura - ela retrucou. - Você tem noção do escândalo? Da humilhação para a família deles?
- O escândalo seria me casar com alguém que não desperta nada em mim. Com alguém que não me olha como Camila me olhou.
Meu pai respirou fundo, encarando minha mãe.
- Então é isso?
Assenti.
- Eu sou Jefferson Marino. Não vou me deitar com uma mulher por obrigação. Se for pra ser um acordo... que ao menos seja com alguém que acenda algo dentro de mim. E Camila... acendeu.
A porta da sala se abriu devagar. Camila entrou.
De vestido claro, cabelos soltos, o olhar tímido. Parou ao ver todos me olhando. Ela sentiu. Ela sabia.
E naquele instante... tudo mudou.
Camila entrou na sala como se não soubesse de nada, mas os olhos dela... ah, os olhos diziam tudo.
Ela sentiu o peso no ar.
Sentiu o silêncio que cortava, a tensão espessa como fumaça. Seus passos hesitaram por um segundo, mas ela continuou até a mesa, sentando-se em silêncio. Elegante, delicada, mas com o olhar escondido por trás da xícara de chá.
Logo em seguida, chegaram os pais dela. Senhor Augusto e dona Beatriz. E por fim, Catarina, a mulher com quem eu deveria me casar.
Todos se cumprimentaram, e um educado "bom dia" foi trocado como se fosse suficiente pra esconder o furacão prestes a explodir.
Mas não era.
O silêncio falava alto. Todos ali sabiam que algo estava fora do eixo. E eu?
Eu não sou homem de fingir.
Sou Jefferson Marino, o nome que ergueu um império no Brasil com as próprias mãos. O homem que fez a máfia respeitar cada decisão minha. E agora, ninguém vai me dobrar.
Nem um acordo antigo. Nem tradições velhas. Nem sorrisos forçados em nome de aparências.
Eu não sou covarde.
E eu não vou viver uma mentira.
Levantei da mesa calmamente, pegando a taça de cristal. Dei um gole leve e encarei Augusto, direto nos olhos.
- Senhor Augusto... poderia me acompanhar até o escritório?
Ele franziu a testa, desconfiado. Mas assentiu com um aceno firme.
- Claro.
Atravessamos o corredor em silêncio. Passos pesados. A tensão batendo contra as paredes.
Fechei a porta assim que entramos no escritório e fui direto ao ponto, sem rodeios, como sempre fiz
- Eu não vou me casar com Catarina.
Ele se virou pra mim, surpreso, tenso.
- Como é?
- Exatamente o que ouviu. Eu não vou manter esse acordo. Não por ela.
- Jefferson, você sabe o que esse casamento representa...
- Representa o passado. Representa o que vocês planejaram sem me perguntar se era isso que eu queria. Mas eu tô aqui agora. E estou sendo claro. - Respirei fundo. - Eu vou cumprir o acordo, sim. Mas com uma única diferença...
Me aproximei e encarei o homem nos olhos, com a firmeza de quem nunca recua.
- Eu quero a filha mais nova.
- Eu quero Camila.
Augusto não respondeu de imediato. Apenas me encarou. Aquilo era mais do que uma escolha pra ele - era um abalo na estrutura da família.
Mas eu já tinha decidido.
E quando Jefferson Marino decide... o mundo se curva.
Augusto me encarava. Os olhos firmes, mas havia algo ali... um certo reconhecimento. Ele sabia que eu não era homem de joguinhos. Que minha palavra tinha peso. Que eu cumpria com acordos - desde que eles também servissem aos meus princípios.
Respirou fundo.
- Camila é a filha mais nova. Ainda tem muito o que viver... - ele disse, com um leve tom de dúvida.
- Justamente por isso. Ela merece mais do que ser sombra de alguém. E eu? Eu mereço alguém que desperte algo em mim.
Silêncio. Depois, um aceno.
- Muito bem, Jefferson. Se é isso que quer... terá o meu aval.
Não sorri. Eu nunca sorrio diante de decisões sérias. Apenas assenti com a cabeça, selando o novo acordo com o olhar.
Caminhamos juntos de volta ao salão onde o café ainda seguia. Os copos tilintavam, mas o ambiente estava pesado. Todos sabiam que algo tinha mudado.
Augusto entrou à frente e limpou a garganta. Os olhos de todos se voltaram pra ele - inclusive os de Camila, que parecia aflita, confusa. Catarina, por outro lado, comia uma fatia de pão como se o mundo estivesse em perfeito equilíbrio.
- Eu tenho um anúncio a fazer - disse ele, com a voz firme. - Houve uma pequena mudança nos nossos planos...
O silêncio dominou.
- Jefferson Marino não se casará mais com Catarina.
O garfo de Catarina caiu no prato. Seus olhos arregalaram. A sala congelou.
- O novo acordo foi feito. A nova noiva será...
Ele olhou direto para Camila.
- ...Camila.
O som do mundo parou.
Camila ficou imóvel. A cor fugiu do rosto dela. Já Catarina... se levantou de imediato.
- O quê?! - gritou. - Isso é uma piada, né?! Você só pode estar brincando, pai!
- Catarina... - tentou dizer a mãe, mas ela já tinha explodido.
- A MENINA? Aquela sonsa? É com ELA que você quer casar, Jefferson?
Ela avançou com raiva, olhos em chamas, como se fosse jogar a xícara em cima da própria irmã. Mas eu fui mais rápido.
Segurei o braço dela com força antes que qualquer tragédia acontecesse.
- Chega.
Minha voz foi seca, cortante. Ninguém ousou falar.
- Você é bonita, Catarina. Mas beleza sem alma não me serve. Você me olha como se me tolerasse. Sua irmã... me olha como se me visse de verdade.
Ela tentou se soltar do meu braço, ofendida, gritando:
- Você não pode fazer isso comigo! Isso é humilhação!
Soltei seu braço com firmeza e dei um passo pra trás, com o olhar impassível.
- Eu posso fazer o que quiser. Porque sou Jefferson Marino.
Virei para Camila, que ainda estava sentada, com os olhos marejados e as mãos tremendo.
- E você...
- Agora é minha noiva.
Camila estava pálida.
Os olhos arregalados, a respiração acelerada, como se o mundo tivesse desabado ao redor dela. E, de certa forma, tinha mesmo. Não era só o anúncio de um casamento... era o peso de carregar uma decisão que ela não fez, mas que agora mudava tudo.
Catarina, por outro lado, parecia um furacão prestes a devastar tudo.
- Isso é um absurdo! - ela gritou, tremendo de ódio. - VOCÊ NÃO TEM DIREITO, JEFFERSON!
Ela deu um passo em direção à Camila. E foi aí que o meu sangue gelou.
Me coloquei na frente antes que ela pudesse sequer chegar perto.
- Você não vai encostar nela - disse, a voz baixa, mas com o tipo de firmeza que paralisa qualquer um.
Catarina recuou meio passo, os olhos ardendo.
- Vai mesmo defender essa santinha?! Ela é só uma garota mimada, uma criança que nunca soube o que é um homem de verdade!
Me aproximei, meu olhar cravado no dela.
- E mesmo assim, ela é mais mulher que você jamais foi comigo.