Capítulo 5 Sem discussão eu quero ela

Continuação

Camila me olhou uma vez... e já disse mais do que você em todos esses anos de silêncio disfarçado de elegância.

Catarina mordeu os lábios, tremendo de ódio, e gritou:

- EU TE ODEIO!

- Você pode me odiar, Catarina - respondi, calmo. - Mas vai me respeitar.

Atrás de mim, senti o corpo delicado de Camila levantar devagar. Sua mão trêmula tocou meu braço. Ela não precisava dizer nada. Eu sabia o que ela estava sentindo. Medo. Culpa. Vergonha. Mas também... algo novo. Algo que ela não queria aceitar, mas já começava a crescer dentro dela: curiosidade por mim.

Virei um pouco o rosto, sem tirar os olhos de Catarina, e disse:

- Camila agora é minha noiva. E quem tentar tocar nela... terá que lidar comigo.

Catarina olhou para os pais, indignada, esperando apoio. Mas Augusto abaixou os olhos, vencido. E Beatriz apenas suspirou, levando a mão à testa, como se tudo aquilo fosse um pesadelo.

Camila, tímida, apertou levemente meu braço. Era quase um sussurro no meio do caos, mas pra mim... foi suficiente.

Porque agora, ela estava comigo.

E ninguém ia tirar isso de mim.

Catarina ainda estava de pé, ofegante, os olhos cravados em Camila com uma raiva que parecia vir de anos guardados.

Camila, mesmo assustada, tentou manter a voz firme.

Mas a dor escorria pelas palavras.

- Eu não tenho culpa, Catarina. Para com isso... você sabe tão bem quanto eu. Sempre foi a preferida. Sempre teve tudo.

Catarina riu, debochada, como se tivesse escutado a coisa mais absurda do mundo.

- Hahahaha! Eu te odeio, sua cobra.

- Todos os tapas que eu te dava... eram pouco!

Ela soltou aquilo sem pensar. Mas pra mim... foi o suficiente.

Meu sangue ferveu.

Meu maxilar travou.

Virei o rosto lentamente pra Camila, que baixou os olhos. Silêncio. Vergonha.

E então encarei Augusto, com o olhar pesado de quem segura um furacão por dentro.

- Ela te batia? - perguntei a Camila, minha voz já mais grave.

Ela hesitou por um segundo, mas assentiu com a cabeça, tímida, tentando esconder a dor.

E eu voltei o olhar pro homem que até então tinha selado acordos de família.

- Você sabia disso, Augusto?

Ele ficou sem reação. Travado.

A expressão dele mudou - de autoridade para constrangimento.

- Jefferson... eu... - ele começou, tentando achar palavras.

- Eu achei que eram apenas brigas de irmãs...

- Brigas de irmãs?! - minha voz aumentou, e todos se calaram novamente.

- Isso não é "briga de irmã", isso é covardia!

- A menina foi agredida DENTRO dessa casa e ninguém fez nada?!

Camila estava parada atrás de mim, como uma sombra frágil, mas cada vez mais protegida pelo peso da minha presença.

Virei o rosto lentamente de volta pra Catarina, e dessa vez meu olhar era gélido.

- A partir de hoje, você não encosta mais nela.

- E se eu souber que alguma lágrima escorre dos olhos da minha noiva por sua causa... você vai aprender o que é medo de verdade.

Catarina empalideceu.

Beatriz, ao lado, parecia em choque, e dessa vez nem tentou defender a filha.

Olhei de novo pra Camila e estendi minha mão pra ela, em silêncio. Ela hesitou por um instante... e depois segurou.

A mãozinha dela se encaixou na minha, como se aquele toque dissesse o que ela ainda não tinha coragem de pronunciar:

"Obrigada."

E ali, mesmo no meio do caos, eu prometi a mim mesmo...

Camila não ia mais chorar por ninguém.

Só por mim - e apenas se fosse de prazer.

Segurei a mão dela com firmeza. Pequena, delicada... mas havia um tremor ali. Um medo que ela tentava esconder, talvez até de si mesma.

Sem dizer uma palavra, a conduzi para fora daquela sala sufocante.

Augusto apenas nos observou sair. Não tentou impedir, não perguntou nada. Talvez porque soubesse... que a partir de agora, eu não deixaria mais nada passar.

Atravessei o corredor com Camila ao meu lado. A mansão era grande, imponente, cheia de quadros e móveis antigos - mas aquilo nunca me impressionou. O que me importava agora era ela.

Empurrei a porta do escritório e entrei. Camila parou no centro da sala, soltando minha mão com cuidado. Olhou ao redor, devagar, como quem via um lugar proibido pela primeira vez.

Então, sem me encarar, sussurrou:

- Obrigada.

Duas palavras. Mas saíram com um peso tão grande... que me acertaram no peito.

Fechei a porta atrás de mim, dei alguns passos à frente e a encarei de costas.

- Só ela te maltrata... ou tem mais alguém?

Camila ficou imóvel.

E então, virou de costas lentamente.

Ela não disse nada.

Mas o silêncio dela me disse tudo.

A forma como ela desviou o olhar, o jeito como cruzou os braços e encolheu os ombros... Era como se estivesse pedindo desculpas por existir. Como se tentasse se esconder até no próprio corpo.

Foi ali que eu entendi.

Camila não era apenas ignorada.

Ela não era desejada.

Nem pelos pais, nem pela irmã. Ela era a presença invisível naquela casa de luxo. Sempre à sombra. Sempre o "alguém que sobrou".

Me aproximei devagar.

Ela continuava com os olhos baixos. As bochechas levemente coradas, os lábios entreabertos, como se quisesse dizer algo... mas não tivesse coragem.

Ergui o queixo dela com dois dedos, forçando seu olhar a encontrar o meu.

- Eles não te veem, Camila.

- Mas eu vejo.

Ela arregalou os olhos, surpresa.

O medo ainda morava ali dentro. Mas agora... havia algo mais.

Esperança.

Aproximei o rosto dela, mas sem tocá-la - apenas deixando o ar entre nós esquentar.

- E a partir de agora... quem tocar em você sem permissão, quem te fizer chorar, quem ousar te desprezar... vai se entender comigo.

- Entendeu?

Ela assentiu. Os olhos marejados, mas firmes. Pela primeira vez... havia força na sua dor.

E eu sabia que, mesmo que ela ainda não entendesse,

Camila agora era minha.

E ninguém - ninguém - ia tirá-la de mim.

                         

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